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Entenda a história chechena por trás dos suspeitos do atentado em Boston

Os dois irmãos apontados como responsáveis pelo ataque vêm da instável região do Cáucaso

Por Da Redação
19 abr 2013, 21h24

A caça pelos terroristas responsáveis pelo atentado em Boston colocou os Estados Unidos e o mundo diante de uma intricada parte da história mundial, na instável região do Cáucaso, que envolve questões étnicas, linguísticas, religiosas e políticas.

A origem exata dos suspeitos de perpetrarem o ataque, os irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarnaev, de 19 e 26 respectivamente, ainda não está clara. Autoridades do Quirguistão (localizado na Ásia Central, ex-República Soviética) sugerem que ambos nasceram no país e são de etnia chechena, enquanto familiares afirmam que Tamerlan na verdade nasceu no Daguestão, território russo vizinho da Chechênia. Seus pais teriam vivido no Daguestão, no Quirguistão e no Casaquistão, antes de se mudar para os Estados Unidos, após receberem asilo político do governo americano.

Dzhokar chegou aos Estados Unidos com um visto de turista, em 1º de julho de 2002, quando tinha oito anos de idade. Ele conseguiu a cidadania americana dez anos depois, no dia 11 de setembro de 2012. Tamerlan, o irmão mais velho que morreu depois de um tiroteio contra a polícia, chegou aos EUA em 6 de setembro de 2006, aos 20 anos de idade, e conseguiu um visto de residência no país, segundo a rede CNN. Os irmãos também têm passaporte do Quirguistão.

A Chechênia, parte do território russo, possui 1,3 milhão de habitantes e está localizada no norte do Cáucaso, entre o mar Negro e o mar Cáspio. Além do Daguestão, são seus vizinhos a Ingushétia, a Ossétia do Norte, a Kabardino-Balkaria, a Karachay-Cherkessia e a Adygea. Ao contrário dos países localizados no sul do Cáucaso, como Geórgia, Armênia e Azerbaijão, o norte do Cáucaso continua pertencendo à Rússia após o colapso da União Soviética e enfrenta uma instabilidade perene. Atos violentos são comuns. Seu terreno acidentado abre espaço para divisões étnicas e linguísticas – só no Daguestão, há 40 grupos diferentes. Manter controle sobre a região tem sido um imperativo geopolítico para Moscou.

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Disputas – O Cáucaso é um ponto estratégico de defesa para a Rússia, pois ao Sul se encontram duas grandes nações muçulmanas, a Turquia e o Irã. Não é uma região fácil de controlar. No século XVIII, durante a expansão do Império Russo, houve forte resistência dos persas e dos otomanos no norte do Cáucaso. No período soviético, o ditador Josef Stalin criou zonas administrativas para lidar com grupos étnicos que apresentavam maior resistência e deportou um grande número de pessoas do norte do Cáucaso. Centenas de milhares de muçulmanos caucasianos, principalmente chechenos, foram enviados à força especialmente para o Cazaquistão e o Quirguistão – localizados na região central da Ásia, perto da China.

No final da década de 1980, reformas no sistema governamental permitiram que parte dessas populações regressasse a suas terras de origem. A volta dessas pessoas levou ao surgimento de movimentos nacionalistas e separatistas semelhantes às que se espalharam pelas repúblicas soviéticas à época. A diferença delas é que as repúblicas poderiam declarar sua independência, enquanto regiões autônomas como a Chechênia, não. Essa questão foi motivo de inúmeros conflitos no início da era pós-soviética: a Rússia travou duas guerras com a Chechênia na década de 1990, devido à ambição desta última de se tornar um estado independente. Nesse período, muitos voltaram à Ásia Central, para onde haviam sido deportados anteriormente. Isso pode explicar por que membros da família Tsarnaev viveram nesses países antes de se mudarem para os EUA.

Religião – Embora os conflitos com a Rússia tenham começado a partir da aspiração separatista dos diferentes grupos caucasianos, aos poucos a religião se tornou um ponto importante de disputa. A Chechênia, assim como os vizinhos Daguestão e Inguchétia, tem uma população de maioria muçulmana. As guerras contra os russos ganharam conotação de jihad para certos grupos chechenos, que conseguiram atrair combatentes islâmicos de outros países e apoio material e ideológico de governos como o da Arábia Saudita.

Explorando as divisões internas entre nacionalistas e islamitas chechenos, a Rússia conseguiu reprimir os separatistas, mas não eliminar os conflitos na região. Os grupos extremistas islâmicos continuaram tentando reunir recursos para estabelecer um califado em todo o norte do Cáucaso, muitas vezes lançando mão de táticas terroristas. Na última década, a Rússia ampliou suas operações de segurança no norte do Cáucaso, mas, em contrapartida, é frequentemente atacada por insurgentes. Os desafios políticos continuam.

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