Empresas e países lançam coalizão bilionária para conter desmatamento
Com potencial para ser a maior iniciativa do gênero, projeto vai repassar recursos a países que apresentem resultados na redução do desflorestamento
Uma coalização formada pelos governos dos Estados Unidos, Reino Unido e Noruega e por empresas privadas foi lançada na manhã desta quinta-feira, 22, durante a Cúpula do Clima organizada pelo presidente americano Joe Biden. O objetivo é reduzir as emissões de gases derivados de desmatamento e tem a ambiciosa meta de reunir pelo menos 1 bilhão de dólares em financiamento, o que seria o maior esforço do gênero.
A iniciativa tem o mesmo conceito que baseia o Fundo Amazônia: o pacto funcionará mediante o pagamento por resultados de países em reduzir o desmatamento. A nova disponibilização de verbas pode frear as intenções de Jair Bolsonaro devido ao fato de que agora o Brasil terá que competir com outros países detentores de florestas tropicais. O brasileiro sinalizou em seu discurso precisar receber dinheiro de países mais ricos para conseguir frear o desmatamento na Amazônia.
O Fundo Amazônia deixou de funcionar após Noruega e Alemanha, países doadores, deixarem de alocar recursos como forma de protesto contra as políticas ambientais do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que modificou a estrutura dos conselhos do Fundo, excluindo as organizações criadas a partir da sociedade civil.
Com o nome de Leaf (Lowering Emissions by Accelerating Forest Finance), a coalizão conta com empresas como Amazon, AirBnB, Bayer, Nestlé e ainda pode ter mais nomes em breve. Na prática, para receber o fundo desejado o país solicitante precisa apresentar dados que comprovem o seu esforço na solução do problema. A base da comparação será projetada de cinco em cinco anos com cálculo da média das emissões, além da consulta a grupos sociais, como lideranças indígenas.
Os interessados em receber a verba precisarão passar por uma análise dos níveis de desmatamento. Caso seja constatado um aumento nos índices, o país em questão não estará apto ao recebimento. As primeiras propostas do projeto deverão começar a valer no período entre 2022 e 2026 e os doadores não poderão decidir para onde o investimento irá, ficando a cargo das nações beneficiadas.
Assim como o Fundo Amazônia era gerido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), aqueles que quiserem receber precisarão de uma instituição que gere o capital. Além de países, províncias e estados também estão elegíveis para a captação da verba e as inscrições deverão ocorrer até julho de 2021.
Durante a Cúpula do Clima realizada nesta quinta-feira, vários países se comprometeram a reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa com o objetivo de limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5ºC. Os Estados Unidos prometeram reduzir em 50% as emissões até 2030, enquanto a China reiterou o compromisso de alcançar neutralidade de carbono antes de 2060.
Já o Brasil se comprometeu com as ações necessárias para zerar até 2050 as emissões dos gases de efeito estufa e acabar com o desmatamento ilegal até 2030. A promessa é vista como um avanço em relação ao anunciado anteriormente, já que no acordo climático o governo brasileiro previa esse objetivo apenas para 2060.
O discurso é uma sinalização às cobranças dos EUA pelo maior comprometimento brasileiro ao fim do desmatamento na Amazônia. O governo americano já havia pedido o fim da prática ilegal até 2030, mas frisou a importância do país obter reduções consideráveis ainda em 2021. Apesar da fala, Bolsonaro reiterou a dificuldade em realizar a tarefa e destacou a importância do auxílio internacional e do apoio financeiro para alcançar os objetivos.