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Em pé de guerra

Theresa May põe na mesa o que ela mesma considera o acordo possível para o Brexit. Resta saber se o governo sobrevive para vê-lo finalizado

Por Thais Navarro
16 nov 2018, 07h00

Depois de um ano e meio de idas e vindas, brigas internas, demissões e picuinhas, a atribulada primeira-ministra britânica, Theresa May, finalmente deu um passo à frente — um passinho, na verdade — nas negociações para a saída do país da União Europeia, o Brexit, aprovado em plebiscito em 2016. Na quarta-feira 14, após cinco horas (três a mais que o previsto) de discussões que ela mesma qualificou de “longas, detalhadas e apaixonadas” com seus ministros, May anunciou haver obtido deles a concordância “coletiva” para que siga em frente com o acordo que conseguiu arrancar da UE — um compromisso de “nível técnico” ainda cheio de lacunas — e que considera o único possível. No dia seguinte, a mesa virou: sete membros da administração — um deles o negociador do Brexit — renunciaram, e seu governo ficou por um fio. Alçada meio de surpresa à função pelo Partido Conservador justamente na esteira da aprovação da separação, que o então primeiro-ministro James Cameron repudiava e foi motivo de sua saída, May não tem uma rede de apoio minimamente confortável nem no Parlamento nem dentro do partido. Cada decisão que seu governo tem de tomar é uma batalha, e esta é a maior de todas.

A primeira-minis­tra tem pressa: a saída, com pompa e circunstância, está marcada para as 11 horas da noite (horário local) de 29 de março de 2019. E os próximos passos — se ela conseguir trilhá-los — ainda vão dar muito pano para mangas. Nas negociações entre britânicos e representantes da UE, o ponto mais emperrado fica em uma linha imaginária até hoje sujeita a trovoadas: a fronteira entre Irlanda, país independente, e Irlanda do Norte, integrante do Reino Unido. A circulação entre os dois países é inteiramente livre (a separação nem sequer aparece em alguns mapas), e esse é um quesito não negociável no acordo de paz assinado em 1998, que pôs fim à sangrenta dispu­ta nacionalista entre as duas Irlandas. Após o Brexit, a Irlanda ficaria na UE e a Irlanda do Norte, não. Seria o caso de erguer postos de fiscalização e alfândega entre elas — uma hipótese inadmissível para as duas partes.

O acordo segue agora para aprovação pelos líderes da União Europeia

A tentativa de dar à Irlanda do Norte um sistema diferenciado de comércio e circulação compatível com o da UE foi rejeitada pelo país, que alegou que isso enfraqueceria sua posição no âmbito do Reino Unido. O jeitinho combinado foi que todo o território britânico fará parte de uma união aduaneira especial com a UE — só que a Irlanda do Norte será mais diferenciada do que os outros. É uma solução provisória, que continuará a ser discutida até que se encontre uma saída. Aí entra outro nó: o acordo exige que Londres fique negociando indefinidamente. Se um dia quiser bater o pé e abandonar o sistema, terá de submeter a decisão a uma comissão conjunta. Trata-se de uma “prova de vassalagem” inaceitável, segundo os detratores, porque vai contra o cerne do Brexit, que é dar ao país autonomia para lidar com as questões internas, principalmente as comerciais, da forma que bem entender.

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Chegar a um mínimo consenso com a UE foi um tento para a pri­mei­ra-minis­tra. Resta agora domar seus correligionários e driblar uma oposição com as garras afiadas para tomar o poder. “O Partido Conservador está rachado entre os que não querem sair da União Europeia, os que querem e os que, além de querer, não admitem concessões”, diz o cientista político Achim Hurrelmann, da Universidade Carleton, no Canadá. Várias baixas de ministros nos últimos meses retratam a divisão partidária, como a de Boris ­Johnson, conservador influente que sonha em tomar o lugar de May e que renunciou em julho ao cargo de ministro das Re­lações Exteriores. Desde então, só faz combater com unhas e dentes as posições do governo.

O caminho do acordo obtido por May é a aprovação pelos líderes da UE e, em seguida, pelo Parlamento britânico, onde se espera barulhenta oposição. “O Partido Conservador não tem maioria, e sua desenvoltura para fazer o projeto andar é muito limitada”, diz o cientista político Feargal Cochrane, da Universidade de Kent, na Inglaterra. O processo debilita ainda mais a primeira-ministra, que em julho atingiu seu pior índice de aprovação: 30%. Pesquisas mostram que, se um segundo plebiscito fosse convocado agora, a maioria votaria pela permanência na UE. Acossada de todos os lados, May está apostando tudo nesse acordo. A sorte está lançada.

Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2018, edição nº 2609

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