Em meio à escalada militar, Ucrânia sofre ataque cibernético
Sites do Ministério das Relações Exteriores e várias outras agências governamentais foram hackeadas
Sites do governo da Ucrânia sofreram um ataque cibernético na manhã desta sexta-feira (14).
Eles receberam um texto, em tom de ameaça, alertando para que os ucranianos tenham medo e esperem pelo pior. Os criminosos afirmaram ainda que as informações pessoais dos ucranianos foram hackeadas.
“Ucraniano! Todos os seus dados pessoais foram enviados para a rede pública. Todos os dados no computador foram destruídos, é impossível restaurá-los”, dizia a mensagem, publicada em ucraniano, russo e polonês
“Todas as informações sobre você se tornaram públicas, tenham medo e espere o pior. Isso é para você, para o seu passado, presente e futuro”, afirma trecho da mensagem.
Uma declaração do Ministério da Cultura e Política de Informação da Ucrânia sugeriu que o texto mencionava grupos e regiões ucranianas como uma maneira de ocultar a origem russa dos hackers.
“Como resultado de um ataque cibernético maciço, os sites do Ministério das Relações Exteriores e várias outras agências governamentais estão temporariamente fora do ar”, disse Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em sua conta oficial no Twitter.
“Nossos especialistas já começaram a restaurar o funcionamento dos sistemas de TI e a polícia cibernética abriu uma investigação”, acrescentou.
Nikolenko disse que é muito cedo para tirar conclusões sobre quem está por trás do ataque, mas disse que há um longo registro de ataques cibernéticos russos contra a Ucrânia no passado.
O ataque fez com que a sexta-feira fosse movimentada para diplomacia ucraniana. O problema chegou a envolver até a Otan, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e conversas bilaterais entre Rússia e Estados Unidos.
“De acordo com uma investigação do Centro de Comunicações Estratégicas e Segurança da Informação, os primeiros dados sugerem que o ataque foi realizado pela Federação Russa”, afirmou o Ministério da Informação da Ucrânia em comunicado.
“Esta não é a primeira vez ou mesmo a segunda vez que os recursos da Internet ucraniana são atacados desde o início da agressão militar russa”, completou.
Segundo o serviço de segurança da Ucrânia, a maioria dos recursos estatais afetados já foi restaurada e os dados pessoais não foram violados.
“É óbvio que isso foi feito de propósito para lançar uma sombra sobre o ataque de hackers à Polônia: a Rússia e seus representantes estão trabalhando há muito tempo para criar a briga entre dois países vizinhos amigos”, acrescentou o Ministério.
O diplomata-chefe da União Europeia, Josep Borrell, condenou o ataque cibernético e disse que é difícil saber quem está por trás da invasão. “Temos que dizer que isso merece uma grande condenação”, ressaltou Borrel. “Vamos mobilizar todos os nossos recursos para ajudar a Ucrânia a enfrentar esse ataque cibernético. Infelizmente, sabíamos que isso poderia acontecer”, destacou.
Separadamente, o Ministério da Defesa da Ucrânia alegou em um comunicado que os serviços especiais russos estão preparando provocações contra militares das Forças Armadas Russas para acusar a Ucrânia.
“As unidades militares do país agressor e seus satélites recebem ordens para se preparar para tais provocações”, dizia o comunicado.
Rússia e as pressões diplomáticas
Nesta semana, os EUA e a Rússia se encontraram e tiveram uma conversa de alto risco destinada a evitar uma guerra. Enquanto isso, a Rússia continua a reunir tropas perto das fronteiras da Ucrânia em meio a uma disputa sobre as atividades da Otan na Europa Oriental e a perspectiva de que a Ucrânia possa se juntar à aliança militar.
Em anos, nunca se viu uma tensão tão grande entre a Ucrânia e a Rússia. Os militares russos estão a todo o vapor estimulando temores de que Moscou possa lançar uma invasão nas próximas semanas ou meses.
Segundo os líderes ucranianos, a Rússia está tentando desestabilizar o país antes de qualquer invasão militar planejada. As potências ocidentais alertaram repetidamente os russos contra novos movimentos agressivos.
Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse em uma coletiva de imprensa que, embora as propostas de Moscou visassem reduzir o confronto militar, diminuir a situação geral na Europa está sendo o oposto do que está acontecendo no Ocidente.
“Nós absolutamente não aceitamos o aparecimento da Aliança do Atlântico Norte em nossas fronteiras, especialmente levando em consideração o curso seguido pela liderança ucraniana – tanto pela antiga quanto pela atual. Estas são realmente as linhas vermelhas e eles sabem isto”, disse Lavrov.