Em Donbas, forças russas impõem primeira derrota militar de peso à Ucrânia
Controlando atualmente 75% da região, a Rússia priva o país de uma importante fonte de energia

Tendo cruzado a linha dos 100 dias de invasão da Ucrânia, as tropas russas concentram sua ação em uma faixa estreita e comprida ao longo da fronteira leste ucraniana — com bem mais sucesso, diga-se, do que na investida inicial, em fevereiro, quando esperavam engolir o inimigo em poucos dias e sofreram baque em cima de baque. Contando com as vantagens de ter aprendido com seus erros, de o fim do inverno facilitar movimentações e de a operação militar ocorrer a poucos quilômetros de casa, as forças vão se aproximando do objetivo de conquistar, em sua totalidade, a cobiçada região de Donbas — e, de quebra, sedimentar o corredor terrestre até a Crimeia, península ucraniana que a Rússia anexou em 2014, mas da qual é separada pelas águas do Mar Negro. A suposta “nazificação” de Donbas, onde o governo de Kiev praticaria “genocídio” da população de fala russa, foi a desculpa de Vladimir Putin para invadir o vizinho, mas evidentemente os interesses de Moscou têm pouco a ver com tão generosos propósitos.
Donbas, abreviação de Bacia do Donets, nome dado tanto a uma cadeia de montanhas quanto a um rio na região, era uma área semideserta até a descoberta e exploração de vastos depósitos de carvão, que levaram à sua acelerada industrialização no início do século XIX, uma mudança alavancada em grande parte por financiadores e mineiros vindos da vizinha Rússia. O compartilhamento de língua e a etnia ajudaram a Rússia a insuflar um movimento separatista em Donbas, que ganhou força depois que Moscou anexou a Crimeia (outro “enclave” de raízes russas na Ucrânia) sem maiores dramas em 2014. Os rebeldes ocuparam uma parte, o Exército ucraniano fincou pé em outra e a economia de Donbas, que respondia por 30% das exportações do país, se deteriorou. Controlando atualmente 75% da região, ante 35% em mãos de seus aliados no começo da invasão, a Rússia toma posse efetivamente não só de um naco da Ucrânia (embora oficialmente o domínio seja de duas repúblicas fantoches cuja independência foi declarada três dias antes da invasão), como priva o país de uma importante fonte de energia, ao custo implacável de vidas de soldados e civis.
Em Severodonetsk, última cidade relevante de fora do controle russo, quase 90% dos prédios foram destruídos e os Exércitos se enfrentaram rua a rua. A população que não conseguiu fugir não tem acesso a alimentos, água e energia elétrica. “A ideia é transformar tudo em um grande deserto e então ocupá-lo”, antecipa Serhiy Haidai, chefe da administração regional, descrevendo a tática de terra arrasada típica da Rússia. “Segundo algumas estimativas, as forças russas superam as ucranianas em proporção de 7 para 1. Se a Ucrânia venceu a primeira fase da guerra, a próxima será bem mais difícil”, ressalta Melinda Haring, do centro de pesquisas americano Atlantic Council. Nas áreas de Donbas que dominam, os russos vêm promovendo a deportação em massa de opositores, ao mesmo tempo que tentam fazer do rublo a moeda circulante, dando indícios de uma eventual anexação à la Crimeia. É muito menos do que Putin ambicionava. Mas para ele, a essa altura, seria uma vitória.
Publicado em VEJA de 15 de junho de 2022, edição nº 2793











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