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Economia toma lugar da religião nos votos dos republicanos

Esta terça-feira é dia de primárias em um dos estados mais importantes, Flórida, onde as visões ideológicas devem dar lugar às questões mais pontuais do país

Por Cecília Araújo
31 jan 2012, 08h13

“A reeleição – ou não – de Obama vai depender de como a economia vai andar. Se continuar a melhorar, e o desemprego, a diminuir, o presidente provavelmente conseguirá a reeleição. Na hora de votar, os eleitores vão pensar no seu bolso.”

Frank Lambert, historiador

Não é algo explícito, mas historicamente a religião dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos sempre alimentou discussões paralelas entre os eleitores. E à medida que as prévias do Partido Republicano avançam, muitos se perguntam se o país está preparado para ter o primeiro chefe de estado mórmon – religião de Mitt Romney, que ainda aparece melhor colocado entre os quatro em disputa. Especialistas acreditam que essa questão da fé ficará relegada a segundo plano desde que ele – ou qualquer outro – se mostre capaz de recuperar a economia do país. Por isso, o que se tem visto são debates cada vez menos ideológicos e mais pontuais sobre impostos e outras questões financeiras entre os pré-candidatos que almejam enfrentar Barack Obama no pleito de novembro. Cenário este que se repete também na Flórida, um dos estados mais importantes e que realiza suas primárias nesta terça-feira. “A economia deve ser o tema que os eleitores vão priorizar na hora de votar. Ao mesmo tempo, nas primárias, os republicanos mais radicais têm insistido para que questões ligadas à religião ganhem mais espaço nas discussões”, destaca ao site de VEJA o historiador Frank Lambert, autor do livro A Religião na Política Americana.

Infográfico: Os republicanos que querem o lugar de Barack Obama

A questão religiosa está enraizada na política americana, embora a Constituição de 1787 seja enfática ao separar a religião do estado. Seus criadores prezaram pela união nacional, a fim de substituir o sectarismo pela ampla liberdade de escolha. “Apesar disso, muitos religiosos continuaram a pressionar por um tratamento favorável ao Cristianismo e ficaram ressentidos quando as práticas religiosas foram declaradas inconstitucionais”, diz William Martin, especialista em Religião do Instituto Baker para Políticas Públicas da Universidade Rice. “Ao mesmo tempo que o país se tornou secular, os americanos continuaram falando muito em Deus. Especialmente quando se trata de política”, acrescenta Lambert.

Nas eleições de 1928, por exemplo, o candidato democrata Al Smith, que era católico, foi rotulado como antiamericano por alguns republicanos que se opunham a sua lealdade ao papa. Bombardeado por críticas, acabou perdendo as eleições. Já em 1960 aconteceu algo parecido com o então candidato John Kennedy, que precisou lembrar aos americanos que questionar sua religião era uma violação às leis dos Estados Unidos. Prometendo servir o povo americano, e não a Igreja, ele foi o primeiro católico a vencer as eleições presidenciais no país. “Mas foi no fim dos anos 1970 que começou uma infusão mais forte da religião na política, como nunca tínhamos visto antes – e que continua até hoje”, lembra Lambert.

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Conservadores – O divisor de águas foi o ano de 1979, quando evangélicos conservadores fundaram o movimento Moral Majority (Maioria Moral). A criação do grupo foi uma reação aos diversos protestos organizados ainda na década de 60, que questionavam, entre outras coisas, as normas cristãs intrínsecas à fundação dos Estados Unidos, colonizado por europeus protestantes. E o que os membros do Moral Majority queriam era exatamente restaurar a América como uma nação cristã. Desde então, essa ideia é defendida em especial por um grupo conhecido como Religious Right (Direita Religiosa), a facção mais radical do Partido Republicano. Seguindo seus passos, membros do Tea Party e evangélicos conservadores mostram sua influência dentro da legenda cada vez que assuntos morais – como o aborto e o casamento gay – ganham espaço nos debates eleitorais.

Na campanha de 2008, Obama também foi vítima desses discursos mais inflamados. Rumores infundados sobre a fé do então candidato democrata provocaram certa aversão por parte dos americanos mais conservadores, que o “acusavam” de ser muçulmano. Embora seja batista, Obama é filho de pai muçulmano e viveu quatro anos na Indonésia – país majoritariamente islâmico. Seu nome completo, Barack Hussein Obama, também soa muçulmano para muitas pessoas. “Apesar de os islâmicos terem os mesmos direitos dos protestantes ante a Constituição, um número grande de americanos ainda considera o cristianismo uma questão importante na hora de escolher seu candidato”, salienta Martin. Em 2010, depois de um ano e meio na Presidência, uma pesquisa mostrava que 18% dos americanos ainda achavam que Obama era muçulmano.

Confira, abaixo, a fé de Obama e cada um dos pré-candidatos republicanos:

Religião dos candidatos à Presidência dos EUA
Religião dos candidatos à Presidência dos EUA (VEJA)

Economia – Nestas eleições, o alvo dos extremistas é Mitt Romney e sua fé mórmon. “Embora os próprios mórmons se considerem cristãos, especialmente os evangélicos mais radicais não os reconhecem como tais. E seus opositores tentam derrubar Romney com esse argumento”, analisa o historiador Frank Lambert. E apesar de a religião estar enfraquecida frente à crise financeira, o especialista William Martin aponta uma correlação curiosa: “Os evangélicos costumam apoiar os candidatos democratas, assim como os eleitores judeus. Por gerações, os católicos também se alinharam com os democratas, mas agora estão divididos”. De acordo com a última pesquisa divulgada pela organização americana Pew Forum sobre Religião e Vida Pública, no dia 19 de janeiro, Romney é o candidato preferido de republicanos e eleitores com tendência republicana: 31%. Dentro dessa porcentagem, seu apoio é de 36% entre os protestantes menos radicais, 30% entre os evangélicos conservadores e 27% entre os católicos.

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No caucus de Iowa, onde 57% dos eleitores se definem evangélicos, Rick Santorum foi o preferido de 32% deles, enquanto Romney recebeu maior aprovação entre os não-evangélicos. “As visões sociais conservadoras de Santorum tiveram um apelo forte para os cristãos mais radicais”, salienta Martin. Já em New Hampshire, onde 22% dos eleitores são evangélicos, Romney foi o vencedor tanto entre eles quanto entre os não-evangélicos. Por outro lado, na conservadora Carolina do Sul, o vitorioso Newt Gingrich foi o que recebeu mais apoio entre evangélicos e outros protestantes, enquanto os católicos se dividiram entre ele e Romney. “Como nesse estado a resistência a Obama é mais forte, Gingrich foi visto como o candidato mais radical para bater o atual presidente. O criticado mormonismo de Romney sem dúvida desempenhou um papel nessa escolha também”, afirma.

na Flórida, o jogo pode virar de novo a favor de Romney, conforme indicam pesquisas recentes. “O estado é muito misturado, com grande número de cubanos, outros hispânicos, negros, pessoas pobres, judeus, militares e evangélicos brancos tradicionais. Cada um desses agregados têm diferentes interesses. E a religião não deve ser uma questão relevante ali”, avalia Martin. Mas as primárias que acontecem nesta terça-feira são somente a quarta etapa de uma série de mais de 50 que acontecem até agosto, quando a convenção do partido anuncia o nome do candidato à Casa Branca. O caminho, portanto, é longo e árduo, principalmente quando a disputa de verdade começar, contra um presidente que está conseguindo recuperar sua força política. “A reeleição – ou não – de Obama vai depender de como a economia vai andar. Se continuar a melhorar, e o desemprego, a diminuir, o presidente provavelmente vencerá. Na hora de votar, os eleitores vão pensar no seu bolso”, enfatiza Lambert.

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