Economia está no centro da agenda de Dilma em Cuba
Presidente deve assinar acordos comerciais com o governo de Raúl Castro
A presidente Dilma Rousseff desembarcou na noite desta segunda-feira em Havana com temas comerciais no centro de sua agenda. A chefe de estado brasileira chegou na capital cubana às 20 horas (17 horas em Cuba), foi recebida pelo chanceler Bruno Rodríguez e não fez declarações à imprensa. Ela só tem compromissos oficiais nesta terça-feira, a começar por uma reunião e um almoço com o presidente cubano, Raúl Castro.
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A principal atividade do dia, porém, será uma visita ao Porto de Mariel, que está sendo ampliado com investimento de empresários e do governo brasileiros, que financiam 80% das obras avaliadas em 683 milhões de dólares (1,186 bilhão de reais). A ampliação do porto, localizado a 50 quilômetros de Havana, é considerada estratégica pelas autoridades cubanas, que veem em Mariel uma base para aumentar o intercâmbio comercial de Cuba. O governo cubano planeja transformar a região em um polo industrial. Um dos projetos é a construção na área de uma indústria de vidros – uma multinacional brasileira. O assunto foi discutido em meados deste mês com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que esteve em Havana para preparar a visita de Dilma.
Durante sua visita a Cuba, a presidente irá concentrar as conversas bilaterais no apoio do governo brasileiro à ampliação de parcerias comerciais e acordos com os cubanos. As relações econômicas com o Brasil se intensificaram nos últimos anos, e o país se transformou em um dos principais parceiros de Cuba no terreno do comércio e do investimento. Entre 2006 e 2010, as trocas comerciais entre Brasília e Havana registraram um crescimento de 30%, passando de 376 milhões de dólares para 488 milhões, segundo dados oficiais. Entre janeiro e novembro de 2011, o fluxo comercial bilateral seguiu com um ritmo ascendente e chegou a 570 milhões de dólares.
O aumento do comércio com outras nações é resultado da política econômica de Raúl Castro, que tem apelado para que se aprofundem os debates sobre as mudanças na economia interna e defende o que chama de “mudança de mentalidade”. Desde 2010, o dirigente cubano instaurou um processo de abertura da economia do país. As medidas envolvem o estímulo à diminuição dos funcionários públicos por meio de programas de demissão voluntária, a liberação de compra de automóveis e imóveis, a permissão para negócios autônomos e o incentivo à agricultura familiar. Essas mudanças foram a alternativa encontrada pelo governo cubano para tentar driblar as dificuldades causadas pelo embargo econômico imposto pelos Estados Unidos desde 1962.
Direitos humanos – Dilma visita a ilha caribenha poucos dias após o Brasil ter concedido um visto à dissidente cubana Yoani Sánchez, que desde 2004 tenta viajar ao exterior mas não consegue autorização do governo. Sánchez enviou a Dilma uma carta na qual lhe pediu que intercedesse por ela perante o governo de Raúl Castro para conseguir a permissão de saída da ilha para comparecer, no próximo dia 10, em Jequié, na Bahia, à estreia do documentário Conexão Cuba-Honduras, do cineasta brasileiro Dado Galvão, sobre a repressão à liberdade de expressão na ilha caribenha.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, negou que o tema será abordado publicamente por Dilma nas reuniões com o governo cubano. No último sábado, em Davos, na Suíça, o chanceler disse ainda que os direitos humanos “não são uma situação emergencial” em Cuba, mas afirmou que a questão é constantemente abordada nas conversas entre as autoridades brasileiras e cubanas e elogiou a abertura do diálogo político no país, entre governo e Igreja Católica.
Yoani Sánchez também solicitou uma audiência com Dilma, mas não obteve resposta do Ministério das Relações Exteriores. Um outro encontro, porém, é bastante provável, apesar de não ter sido confirmado ainda pelo Itamaraty: o de Dilma e Fidel Castro, de 85 anos, ex-ditador de Cuba que governou o país até 2008. A agenda da presidente inclui uma homenagem, nesta terça-feira, ao político e escritor cubano José Martí, considerado herói nos países que foram colônias espanholas por ter liderado os processos de independência.
Atualizado às 21h32
(Com agência EFE)