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Donald Trump: presidente ou CEO?

Mesmo que não haja indícios explícitos de corrupção em sua administração, é impossível que seu lugar na Casa Branca não afete seus negócios

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 dez 2016, 09h20

A eleição sem precedentes de um empresário bilionário sem nenhuma experiência política para presidente dos Estados Unidos inaugurou uma nova era no país: um CEO na Casa Branca. Políticos e a sociedade preocupam-se com a possibilidade — real, diga-se — do surgimento de inúmeros conflitos de interesse motivados pelos empreendimentos de Donald Trump em mais de 20 países pelo mundo. Especialistas em direito constitucional americano ouvidos por VEJA acreditam que os negócios do magnata podem ser um dos maiores obstáculos de seus próximos quatro anos de mandato.

“Não há como Donald Trump evitar graves problemas constitucionais durante seu mandato se não separar completamente seus interesses comerciais de seu papel como presidente”, afirma o professor de direito constitucional da Universidade Harvard, Laurence Tribe. No entanto, essa tarefa pode ser mais difícil do que aparenta.

O magnata decidiu não transferir seus negócios para administradores independentes e de identidade desconhecidas, como lhe foi recomendado. Ao invés disso, pediu que seus filhos e genro assumissem a administração seus empreendimentos, justamente para evitar acusações de corrupção e de tráfico de influência. Mas, a presença de seus familiares em eventos oficiais já acendeu as primeiras chamas do conflito que Trump enfrentará daqui para frente.

Ivanka Trump e seu marido, Jared Kushner, foram fotografados no primeiro encontro oficial de Donald Trump como presidente eleito dos Estados Unidos. Os quatro se reuniram com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe em novembro em uma conferência privada, despertando acusações de que Trump está usando sua posição de liderança para favorecer seus negócios, mesmo que através de seus filhos.

Para além disso, Donald Trump deve enfrentar críticas simplesmente por ter seu nome gravado em centenas de empreendimentos. O bilionário comanda atualmente pelo menos 515 empresas no mundo, segundo o relatório divulgado pela Comissão Federal Eleitoral americana. Sua companhia tem negócios em 20 países, além de uma extensa rede de hotéis e imóveis nos Estados Unidos. Mesmo que não haja indícios explícitos de corrupção em sua administração, é impossível que seu lugar na Casa Branca não afete seus negócios.

Os responsáveis pela construção das duas “Trump Towers” de 23 andares em Pune, na Índia, já constataram os benefícios de ter o nome do próximo presidente americano estampado em seu novo empreendimento. A possibilidade de vender apartamentos por mais de 2 milhões de dólares na calma cidade industrial motivou uma viagem a Nova York para uma reunião com Trump e sua família no fim de novembro. “Veremos um salto tremendo na avaliação da segunda torre”, afirmou Pranav R. Bhakta, consultor de Trump no mercado indiano ao New York Times.

Mapa das empresas e interesses de Trump no mundo

Sua rede hoteleira também deve vivenciar um boom nos próximos anos. Segundo o jornal The Washington Post, diplomatas do mundo todo já consideram a estadia nos hotéis Trump nos Estados Unidos “um gesto fácil e amigável para o novo presidente”. O Post cita, inclusive, um diplomata asiático: “É rude vir à cidade dele e dizer: ‘vou ficar em seu concorrente’”.

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Segundo Laurence Tribe, o fato de Trump ter interesses comerciais internacionais não necessariamente viola os estatutos e leis americanas. Mas receber qualquer tipo de pagamento — seja na forma de presentes ou diárias de aluguel de quartos em seus hotéis — de governos, funcionários estrangeiros ou qualquer instituição operada em nome de um governo estrangeiro, constitui uma violação dos preceitos estabelecidos na Constituição dos EUA.

Suspeitas — A falta de transparência do bilionário em relação aos seus investimentos e sua fortuna despertou ainda mais suspeitas. Trump foi o primeiro presidente eleito dos Estados Unidos a não divulgar suas declarações de imposto de renda durante a campanha, tornando impossível saber exatamente qual a extensão de suas empresas e parcerias globais.

O magnata sempre negou que seus negócios seriam um problema durante seu mandato. Mas, nesta terça-feira, Trump anunciou a realização em dezembro de uma coletiva de imprensa ao lado de seus filhos para tratar do futuro de suas empresas. Muitos esperam que esse seja um sinal de que o próximo presidente americano tenha decidido deixar de vez seu papel de CEO para trás, em prol de uma liderança mais tranquila.

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