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Donald Trump perde maioria na Câmara para oposição democrata

Republicanos mantém maioria das cadeiras do Senado; projetos da Casa Branca enfrentarão resistência nos próximos dois anos

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 7 nov 2018, 12h48 - Publicado em 7 nov 2018, 03h08

O republicano Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, não terá vida fácil nos próximos dois anos. As eleições de meio de mandato desta terça-feira deram à oposição democrata o controle da Câmara dos Deputados. Às 2h30, a deputada federal Nancy Pelosy declarou a vitória democrata na Câmara, com 218 cadeiras conquistadas até aquele momento. Com base em projeções, não seria mais possível a reversão do quadro pelos republicanos.

As apurações ainda prosseguem, especialmente na costa oeste. Até agora, contudo, os democratas já têm garantidos 219 assentos, dos 435 da Câmara. Os republicanos têm por enquanto 193 lugares.

Como já estava previsto, os republicanos conquistaram 51 cadeiras do Senado, preservando a maioria que já detinha em suas mãos. O partido também conseguiu tirar dois assentos das mãos dos democratas.

Entre os 36 estados onde ocorreram eleições para o governo, os democratas conquistaram 22 vitórias e os republicanos 25.

“Obrigada, amanhã será um novo dia para a América”, declarou Pelosi, líder da minoria democrata na Câmara e candidata à reeleição pela Califórnia. “Esta vitória vai ajudar na restauração dos freios e contrapesos sobre o governo de Trump”, completou em discurso. Os democratas não detinham o controle da Câmara havia oito anos.

A composição da Câmara nestes dois últimos anos foi amplamente favorável a Donald Trump, com 236 deputados do Partido Republicano e 193 da oposição Democrata. A disputa pela maioria – 218 das 435 cadeiras – mobilizou especialmente o presidente americano em comícios pelo país, assim como seu antecessor, Barack Obama, e sua concorrente à Casa Branca em 2016, Hillary Clinton.

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Vencer na Câmara era o principal desafio de Trump nestas eleições. Desse resultado dependiam seus projetos para os próximos dois anos, além de sua ambição de reeleger-se em 2020. Nas mãos dos democratas, esta casa do Congresso terá igualmente condições de iniciar um processo de impeachment que, mesmo não aprovado, consumirá muito da energia e do tempo do governante, bem como da confiança de seus eleitores. A Câmara passa a funcionar como um contrapeso ao Executivo.

Depois de esbravejar contra possíveis fraudes, na véspera da eleição, Trump manteve-se surpreendentemente quieto na Casa Branca na terça-feira. Não se expôs nem mesmo com suas corriqueiras mensagens pelo Twitter. A pesquisa de boca de urna conduzida pela CNN não trouxera resultado favorável ao chefe de governo. Dentre os eleitores entrevistados, 44% disse aprovar seu trabalho como presidente dos Estados Unidos, mas 55% o desaprovou – dentre eles 8% de republicanos.

Trump só rompeu seu silêncio à 1h14 (2h14, em Brasília), ao escrever “tremendo sucesso” em seu perfil no Twitter. Não ficou claro a que estava se referindo.

 

Donna Shalala, democrata: conquista de cadeira republicana na Câmara pela Flórida – 13/02/2018 (Jose A. Iglesias/el Nuevo Herald/TNS/Getty Images)

Em uma eleição com característica de plebiscito do presidente como a desta terça-feira, 26% dos eleitores disseram ter votado para deputado federal como expressão apoio a Trump. Para 38% deles, seus votos foram o sinal de desaprovação e, para 34%, Trump não foi fator determinante para suas escolhas.

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A apuração dos votos foi um longo teste de nervos para os líderes dos dois partidos e para a Casa Branca. Em especial, nos estados da costa leste e do meio-oeste, onde se concentram os territórios que tradicionalmente não se comprometem com nenhum dos dois partidos. Candidatos que estavam na frente nas últimas pesquisas, apesar do oponente bastante próximo, desmoronaram no final da contagem dos votos.

O primeiro deputado eleito foi o republicano Harold Rogers, que venceu democrata Kenneth Stepp no 5º distrito do estado do Kentucky com 79,9% dos votos válidos. Seu concorrente teve 20,1%. Esse resultado saiu às 20h35 de terça-feira (21h35 em Brasília), enquanto as votações ainda transcorriam nos estados do oeste americano.

Do lado democrata, uma das primeiras vitórias para a Câmara foi de Donna Shalala, americana de origem libanesa e católica, que venceu sua concorrente María Elvira Salazar no 27º Distrito da Flórida. Shalala ocupará a cadeira deixada pela republicana Ileana Ros-Lethinen, uma das vozes da comunidade cubano-americana da Flórida.

Senado e governo

Para o Senado, os republicanos venceram na Flórida, com o atual governador, Rick Scott, tirando a vaga hoje ocupada pelo democrata Bill Nelson. Em Michingan, o republicano John James desbancou a atual senadora Debbie Stabenow, e no Missouri, a democrata Claire McCaskill perdeu seu posto no Senado para o republicano Josh Hawley.

Único estado onde houve eleição para uma segunda vaga para o Senado, o Missouri testemunhou a virada do democrata Mike Espy, que venceu a atual senadora Cindy Hyde-Smith. O candidato republicano à Casa Branca em 2012, Mitt Romney, na época derrotado por Obama, retorna ao Senado eleito pelo estado de Utah.

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Alguns ícones dos dois partidos no Congresso conseguiram se reeleger. Entre eles, o republicano Ted Cruz, do Texas, que foi pré-candidato à Casa Branca em 2016, e a democrata Elizabeth Warren, em Massachusetts, considerada potencial concorrente à presidência em 2020. Um ícone da esquerda, Bernie Sanders foi também reeleito, mas como candidato independente. Sanders mobilizou significativo apoio entre os jovens como pré-candidato democrata à Casa Branca em 2016.

Dos 36 Estados, os democratas conseguiram mais dois governos – os de Illinois e de Iowa -, que antes estavam em poder dos republicanos. Entre os aliados de Barack Obama reeleitos estão o governador de Nova York, Andrew Cuomo, e o da Pensilvânia, Tom Wolf. Entre os aliados de Trump, conquistaram mais um mandato os governadores do Texas, Greg Abbot, e o de Massachusetts, Charlie Baker.

Uma das disputas mais acirradas deu-se na Flórida, onde Trump, Obama e Hillary Clinton subiram nos palanques de seus candidatos. Neste estado, onde também está concentrada boa parte dos investimentos hoteleiros da Trump Corporation, a  disputa voto a voto terminou com a derrota do candidato democrata, Andrew Gillum, para o republicano Ron DeSantis. Prefeito de Talahassee, Gillum teria sido o primeiro governador negro da Flórida, mas seus 48,9% dos votos não foram suficientes para bater DeSantis, que conquistou 49,9%.

A Alexandria Ocasio-Cortez: vitória democrata em Nova York – 22/09/2018 (Don Emmert/AFP)

Onda rosa

Esta eleição de meio de mandato bateu o recorde de participação de mulheres nas disputas pela Câmara, Senado e governos de estados. A “onda rosa” envolveu também candidatas negras, latino-americana, de origem árabe e indígenas

A ativista comunitária Alexandria Ocasio-Cortes, de origem porto-riquenha, venceu a eleição para o Partido Democrata no 14th distrito de Nova York, que envolve os bairros do Bronx e do Queens. Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, uma mulher nativa ocupará uma cadeira na Câmara dos Deputados: a democrata Deb Haaland venceu no 1º distrito do Novo México.

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Porém, a primeira candidata transgênero a um governo estadual, a democrata Christine Hallquist perdeu a eleição em Vermont para o atual governador, o republicano Phil Scott. A democrata Stacey Abrams tampouco conseguiu se tornar a primeira mulher negra a governar a Georgia, estado do Sul americano ainda arraigado ao racismo. Abrams perdeu a eleiçnao para o republicano Brian Kemp.

Eleição à americana

Assim como as anteriores, as eleições americanas desta terça-feira foram pouco tranquilas para muitos dos eleitores. Choveu intensamente na costa leste, pelo menos 12 Estados tiveram registros de urnas quebradas e muitos eleitores foram impedidos de votar por causa de mudanças de regras de identificação.

Como uma federacão, cabe a cada estado – às vezes, aos condados – estabelecer as regras e organizar as eleições – da definição das cédulas à apuração dos votos, passando pela escolha da tecnologia das urnas eletrônicas. Não há um órgão federal responsável pelos pleitos, como no Brasil, onde o Tribunal Superior Eleitoral comanda as eleições.

Nos Estados Unidos são raros os casos de eleitor registrado como democrata ou republicano mudar de lado. As posições políticas são muito cristalizadas, mas uma minoria eleitorado não se compromete com nenhum dos partidos e tende a ser determinante para os resultados. O maior desafio dos candidatos é tirar o eleitor de seu partido do trabalho, de casa ou do lazer e fazê-lo votar. O dia de votação não é feriado, e o voto não é obrigatório.

Um elemento de ajuda ao eleitor é a possibilidade de o eleitor votar antecipadamente e, para aqueles com problemas de mobilidade, de enviar seu voto pelo correio. Dos 50 Estados americanos, 37 mais o Distrito de Colúmbia (Washington) permitiram essas opções. Em 2016, mais de 47 milhões de pessoas anteciparam seus votos. A eleição deste ano promete superar esta marca.

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