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Discurso de Bolsonaro não foi coerente com suas ações, dizem especialistas

Apesar de metas de redução do desmatamento e emissões de carbono, presidente não tratou de ações concretas para cumprir os objetivos

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 abr 2021, 16h07 - Publicado em 22 abr 2021, 15h11

Em seu discurso na cúpula climática organizada pelos Estados Unidos nesta quinta-feira, 22, o presidente Jair Bolsonaro prometeu zerar até 2050 as emissões dos gases de efeito estufa e acabar com o desmatamento ilegal até 2030. A opinião geral de especialistas em meio ambiente e sustentabilidade, porém, é de que a fala não foi coerente com as políticas internas do chefe de Estado desde o início de seu mandato e falhou em apresentar iniciativas concretas do governo federal.

“O discurso do presidente foi radicalmente diferente daquele proferido oito meses atrás, na abertura da Assembleia-Geral da ONU”, diz o biólogo e ambientalista brasileiro João Paulo Capobianco. “Mas a única coisa que mudou neste período foi a troca de governo nos Estados Unidos”. 

“O discurso foi vazio, pois o presidente não tratou de ações concretas que tomará em seu mandato para cumprir os objetivos”, diz Natalie Unterstell, conselheira do Sistema B, movimento de empresas comprometidas com o meio ambiente, e diretora do Instituto Talanoa. “Um sinal desse pode ser muito importante para o setor privado e para os investidores”.

“Ele fez um discurso diplomático, que não trouxe novidades reais em termos de metas ambiciosas”, avalia Izabella Teixeira, bióloga e ex-ministra do Meio Ambiente entre 2010 a 2016. “Ele perdeu a oportunidade de reinserir o Brasil na agenda global climática”.

Além das metas para 2030 e 2050, o presidente prometeu também duplicar o orçamento para fiscalização ambiental. O governo federal, porém, cortou verbas do Ministério do Meio Ambiente para 2021. O corte causou redução de 27,4% do orçamento de 2021 destinado para fiscalização ambiental e combate de incêndios florestais.

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A Amazônia perdeu 2,3 milhões de hectares em 2020, 17% a mais do que no ano anterior, o terceiro pior registro dos últimos 20 anos.

O presidente ainda elogiou a NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira, que classifcou como “transversal e abrangente”. Segundo João Paulo Capobianco, a declaração do presidente não passou de uma jogada política, já que as NDCs brasileiras foram revisadas pelo próprio governo Bolsonaro.

“O Brasil está fazendo o que alguns chamam de pedalada climática”, diz o especialista, que é presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade. 

A meta discutida inicialmente pelo governo brasileiro era de reduzir em 1.3 giga-toneladas as emissões de carbono equivalente até 2025, mas foi flexibilizada para 1.8 giga-toneladas. A meta para 2030 também foi ampliada, de 1.2 giga-toneladas para 1.6 giga-toneladas.

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“Bolsonaro falou para uma plateia muito bem informada e que conhece a realidade do país, ou seja, não pode esperar que acreditem em declarações falsas”, diz Izabella Teixeira.

Para a professora de Relações Internacionais e Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e especialista em sustentabilidade e meio ambiente, Josilene Ferrer, a promessa do presidente de zerar as emissões de carbono do país até 2050 ecoa o tema principal da COP 26, que será realizada em Glasgow em novembro, mas precisa ser encarada com seriedade e comprometimento pelo governo para se concretizar.

“Se os países desenvolvidos, que são nações com matrizes muito mais carbonizadas do que as nossas, estão se propondo metas semelhantes, acredito que em tese o Brasil também é capaz de cumprir sua promessa”, disse. Segundo a especialista, porém, o Brasil precisa começar a trabalhar imediatamente e investir de forma efetiva nos órgãos públicos e na governança em todo o território. “No momento estamos indo no sentido contrário”.

“É importante lembrar que os demais países em desenvolvimento que se comprometeram com metas semelhantes são nações em que políticas climáticas estão sendo implantadas com mais vontade política e há muito mais tempo do que no Brasil”, disse.

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