Diplomata russo renuncia em protesto contra Vladimir Putin
Em carta aberta, Boris Bondarev critica guerra na Ucrânia e diz se sentir 'envergonhado' de seu país; porta-voz do Kremlin rebate acusações

O diplomata russo Boris Bondarev renunciou ao cargo na segunda-feira 23, condenando a invasão da Rússia à Ucrânia. Rebatendo as críticas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta terça-feira, 24, que se o ex-funcionário do Ministério da Relações Exteriores russo “não está mais conosco, ele está contra nós”.
O veterano diplomata russo no escritório das Nações Unidas em Genebra entregou sua renúncia junto com uma declaração a colegas estrangeiros criticando a “guerra agressiva” desencadeada pelo presidente russo Vladimir Putin na Ucrânia. Boris Bondarev, que trabalhou por 20 anos como conselheiro na missão permanente da Rússia em Genebra, disse à agência de notícias Reuters: “Fui à missão como qualquer outra segunda-feira de manhã, encaminhei minha carta de demissão e saí”.
No comunicado, ele condenou a invasão da Ucrânia e atacou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. “Durante vinte anos de minha carreira diplomática, vi diferentes reviravoltas em nossa política externa, mas nunca fiquei tão envergonhado de meu país como em 24 de fevereiro deste ano”, disse Bondarev.
A data refere-se ao primeiro dia da invasão, que Putin descreve como uma “operação militar especial” para “desnazificar” o país vizinho. “A guerra agressiva desencadeada por Putin contra a Ucrânia e, de fato, contra todo o mundo ocidental, não é apenas um crime contra o povo ucraniano, mas também, talvez, o crime mais grave contra o povo da Rússia”, escreveu o ex-diplomata em sua carta, divulgada nas redes sociais.
Boris Bondarev, counsellor at the RU Mission to the UN in Geneva resigns with a hell of a letter.
Seems legit, here's the letter, LinkedIn post and official registration of diplomats –> https://t.co/uBrXybF0No pic.twitter.com/BWGROh2pny
— Oscar Jonsson (@OAJonsson) May 23, 2022
Em entrevista à CNN, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov rebateu as críticas do ex-funcionário do Ministério das Relações Exteriores.
“Só podemos dizer que o Sr. Bondarev não está mais conosco, ao contrário, ele está contra nós”, disse Peskov. O secretário de Imprensa de Putin alegou que, apesar das acusações feitas pelo ex-diplomata, a população está do lado do governo russo. “Ele tem uma posição que condena as ações da liderança russa, e as ações da liderança russa são apoiadas por quase toda a população de nosso país”, disse o porta-voz do Kremlin.
Vladimir Putin desfruta de altos índices de aprovação pública, mas a mídia estatal não tolera a oposição política, sendo dominada por uma política de censura. No início do conflito, o governo russo lançou uma lei que prevê até 15 anos de prisão para quem divulgar o que Moscou considerar “informação falsa” sobre as ações do país no exterior. A medida proíbe inclusive que a imprensa russa use expressões como “guerra” e “invasão” para se referir ao conflito com a Ucrânia.