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Dilma defende a criação de um estado palestino na ONU

Primeira mulher a abrir a Assembleia Geral, a presidente brasileira repudiou a violência nos conflitos da Primavera Árabe e falou da crise econômica mundial

Por Da Redação
21 set 2011, 11h01

A presidente brasileira, Dilma Rousseff, abriu nesta quarta-feira os debates da 66ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York. É a primeira vez que uma mulher dá início aos debates da organização internacional – na verdade, porque se trata da primeira mulher a assumir o cargo no Brasil que, por tradição, é responsável pelo discurso inicial do evento há 64 anos. “Vivo este momento histórico com orgulho de mulher. Tenho certeza que este será o século da mulher”, disse Dilma, no início de sua fala, após ser apresentada pelo presidente da 66ª Assembleia Geral da ONU, o diplomata do Qatar Nassir Abdulaziz Nasser, que falou sobre a manutenção da paz, a crise alimentar mundial, a reforma da ONU e uma maior velocidade na resposta a desastres naturais. “É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nessa tribuna, que tem compromisso de ser a mais representativa do mundo”, enfatizou.

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Entenda o caso

  1. • Diante do fracasso do acordo de paz com Israel, a Autoridade Nacional Palestina decidiu propor à Assembleia Geral da ONU votação a favor da criação de um estado palestino nas fronteiras antes de 1967, tendo Jerusalém Oriental como capital.
  2. • No pleito, marcado para 20 de setembro, os 193 países-membros podem votar e, se aprovada a criação do 194ª estado, a decisão seguirá para o Conselho de Segurança, onde EUA, China, Rússia, França e Grã-Bretanha tem poder de veto – e tudo indica que os americanos o usarão.
  3. • As negociações de paz entre israelenses e palestinos chegaram a ensaiar um retorno, por intermédio dos Estados Unidos, que defendem que só é possível criar um estado palestino realmente significativo a partir da retomada do diálogo – empacado diante da recusa israelense de parar assentamentos judeus em territórios palestinos ocupados.


Em um dos temas principais de seu discurso, Dilma defendeu abertamente o reconhecimento do estado palestino como membro pleno das Nações Unidas, sob aplausos da maioria da plateia formada por líderes internacionais. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá trazer a paz duradoura no Oriente Médio”, defendeu, completando: “Venho de um país onde árabes e judeus são compatriotas”. A posição de Dilma já era esperada, uma vez que ela apenas deu continuidade a uma posição histórica do governo brasileiro, que defende a autodeterminação dos palestinos. Afinal, desde 1975 o Brasil reconhece a Autoridade Palestina (na época, Organização para Libertação da Palestina) e, em 1993, deu status diplomático à Delegação Especial Palestina. Mas foi a partir do governo antecessor, de Luiz Inácio Lula da Silva, que o Brasil se aproximou mais dos palestinos, com a criação do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, capital política da Cisjordânia, em 2004. Além disso, Lula reconheceu o estado palestino em 2010, e se mostrou um forte apoiador do ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que apoia a destruição de Israel e não reconhece o Holocausto.

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O que está em discussão, na verdade, não é a importância da criação de um estado palestino – há um consenso internacional em relação a isso, inclusive com o aval de Israel. Entretanto, essa decisão não pode ser impositiva, como querem os árabes, e só começará a ganhar forma a partir da retomada das negociações de paz, como defendem os judeus com apoio dos Estados Unidos. A postura invariavelmente assumida pelo Brasil de ficar sempre em cima do muro em polêmicas internacionais poderia ser mais acertada neste caso do que o apoio imediato à proposta palestina, já que é preciso considerar com mais cautela as consequências catastróficas que a criação de um novo estado pode levar àquela região – já fervilhante de conflitos. “Se o Brasil se negou a condenar o regime sírio de Bashar Assad, em um primeiro momento, porque deveria haver mais ‘negociação’, como agora pode apoiar a criação de um estado palestino sem uma negociação prévia com Israel?”, destaca a socióloga Maria Lúcia Victor Barbosa ao site de VEJA.

Infográfico: Entenda a guerra nas fronteiras entre israelenses e palestinos

Primavera árabe – Dilma ainda falou da primavera árabe, ressaltando que o Brasil é pátria de refugiados e imigrantes da região. “Repudiamos com veemência as repressões brutais que vitimam populações civis”, disse. “O recurso da força deve ser sempre a última alternativa.” A presidente criticou a intervenção militar internacional em países em crise, afirmando que “o mundo sofre hoje as dolorosas consequências de intervenções, que permitiram o avanço do terrorismo onde ele não existia antes”. O sociólogo Demétrio Magnoli observa que a posição passiva do Brasil em relação às revoltas do mundo islâmico foi desastrosa, a exemplo da “diplomacia companheira” de seu antecessor, Lula, que chamava o ex-ditador líbio Muamar Kadafi de “amigo e irmão”. Em março, o governo brasileiro se recusou a apoiar a intervenção da Otan na Líbia e foi um dos últimos países a reconhecer o Conselho Nacional de Transição (CNT) como representante legítimo dos líbios. “E o Brasil errou mais vergonhosamente ainda ao atuar quase como um porta-voz informal do ditador Bashar Assad na Síria”, acrescentou Magnoli. “A diplomacia brasileira se move desastrosamente pelo impulso do antiamericanismo.”

Emergentes – Também como era esperado, Dilma insistiu na necessidade de uma ampla reforma no Conselho de Segurança, com participação do Brasil. “O Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades como membro permanente do Conselho de Segurança.” E reivindicou mudanças também nas instituições financeiras multilaterais, para que permitam uma atuação maior dos países emergentes, “principais responsáveis pelo crescimento na economia global”. Sobre a crise ecônomica, a presidente brasileira observou que o mundo vive um momento delicado, mas de grande oportunidade histórica, e que depende de união para não se tornar uma ruptura sem precedentes. “Ou nos unimos todos e saímos vencedores, ou sairemos todos derrotados”, salientou, lembrando que mais importante do que procurar os culpados é encontrar soluções coletivas, rápidas e verdadeiras. “Essa crise é séria demais para que seja administrada por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam na responsabilidade da condução do processo, mas sofrem as consequências da crise, todos os países. Portanto, têm direito de participar das soluções.”

Dilma Rousseff e Ban Ki-moon se cumprimentam na chegada à Assembleia
Dilma Rousseff e Ban Ki-moon se cumprimentam na chegada à Assembleia (VEJA)
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Secretário-geral – O evento começou na manhã desta sexta-feira com o discurso do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que aproveitou para apresentar o relatório anual da organização. “O desenvolvimento sustentável é o imperativo do século 21”, declarou, falando ainda sobre as metas do milênio, destacando a importância do desenvolvimento sustentável, o combate à pobreza, às mudanças climáticas e à crise alimentar global. Da mesma forma que Dilma, e como já havia demonstrado anteriormente, Ban também se posicionou a favor da criação de um estado palestino. “No Oriente Médio é preciso sair do ponto morto. Os palestinos merecem um estado. Israel precisa de segurança”, afirmou, enfatizando que ambas as partes querem a paz.

Leia na coluna De Nova York, por Caio Blinder:

“Nós sabemos que o dono da assembléia-geral 2011 é Mahmoud Abbas, com sua jogada de pedir o reconhecimento pleno da Palestina como estado na ONU. O lance é mais um golpe diplomático contra Israel. E dentro das Nações Unidas, Israel é sinônimo de isolamento. Os palestinos se sentem marginalizados (não parece, com tanto apoio internacional), mas Israel é um estado-pária, em especial dentro do principal organismo mundial.”

Confira vídeo do discurso completo de Dilma:

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