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Depois de muito hesitar, Trump começa a tomar providências contra a crise

Nos Estados Unidos, a epidemia de coronavírus deve atingir seu pico ao longo de abril

Por Ernesto Neves Atualizado em 3 abr 2020, 11h09 - Publicado em 3 abr 2020, 06h00

Como já se desenhava em planilhas de acompanhamento da propagação do novo coronavírus, a curva de expansão de casos confirmados nos Estados Unidos acelerou sua escalada em direção ao pico, tornando cada dia mais concreta uma epidemia em larga expansão que até muito recentemente parecia ameaça remota. A virada do nível de gravidade tem data: 26 de março, quando o país cravou 101 700 pessoas contaminadas, ultrapassando China, Itália e Espanha e conquistando o pódio que ninguém quer. Exatamente cinco dias depois, eram 213 400 casos confirmados e 4 053 mortos (veja o gráfico na pág. ao lado), com perspectiva de multiplicação exponencial.

O presidente Donald Trump, cético de primeira hora que dizia ter a situação sob controle, contava com um “milagre” e cogitava retomar as atividades normais na Páscoa, mas mudou completamente de tom: alertou para a crise “sem precedentes” que se avizinhava e repetiu a tenebrosa projeção de que, mesmo com distanciamento social rigoroso, entre 100 000 e 240 000 podem morrer. Para a força-tarefa liderada pelo infectologista Anthony Fauci, as próximas semanas serão cruciais, com o número de mortes diárias podendo alcançar 3 500 (o máximo em um dia até agora foram 968, na Itália). Os atentados de 11 de setembro de 2001 resultaram em 3 000 mortos.

Nova York, estado que se tornou o epicentro da epidemia nos Estados Unidos (quase 83 000 casos e 2 000 mortos até a quinta-feira 2), se prepara para o turbilhão. Para reverter as imagens dos primeiros dias de hospitais abarrotados e filas quilométricas de pessoas em busca de testes, o governador Andrew Cuomo (cujo irmão, Chris, apresentador da CNN, testou positivo) pôs em marcha uma campanha para aumentar o atendimento. Na segunda-feira 30, o navio­-hospital USNS ancorou perto da Estátua da Liberdade — a embarcação é a sexta maior do gênero, possui 1 000 leitos e doze salas de cirurgia e deverá atender casos não relacionados à Covid-19, desafogando os hospitais. Estes, por sua vez, têm ordens de aumen­tar sua capacidade em 50% — tendas estão sendo montadas nas quadras de tênis do torneio US Open e em pleno Central Park. Hotéis e alojamentos estudantis também passarão a integrar a rede hospitalar. Não será suficiente, alerta Cuomo. O estado precisa de 30 000 respiradores e, mais urgente, de kits de teste, e ambos dependem de ações da Casa Branca. “Viveremos um tsunami”, antecipa o governador.

Entre o primeiro doente, em 21 de janeiro, e o anúncio de que a população em massa seria testada, em 3 de março, passaram-se 42 dias, tempo suficiente para que a Covid-19 se alastrasse por todos os estados. Outra barreira para as medidas de prevenção são os 28 milhões de americanos que não têm seguro-saúde e deixaram de reportar seu estado por medo do custo de uma internação. Em um país de poder descentralizado como os Estados Unidos, cada estado está habituado a tomar as providências que julgar necessárias (só trinta, dos cinquenta, isolaram a população em casa). Mas os governadores se ressentem de uma coordenação central que Trump só agora começa a aceitar. “Em uma crise dessa magnitude, cabe ao presidente o duplo papel de coordenar a ação nacional e divulgar informações embasadas na ciência. Ele não tem feito nem uma coisa nem outra”, diz Lawrence Gostin, professor de saúde pública da Universidade Johns Hopkins.

Nação mais rica e poderosa do planeta, os Estados Unidos, mesmo com atraso, estão mostrando sua capacidade de reagir aos efeitos da epidemia. Diante do derretimento do mercado financeiro e da evaporação de 10 milhões de empregos, a Casa Branca e o Congresso se uniram para aprovar um pacote de 2 trilhões de dólares (o PIB anual do Brasil) e, pelo menos por enquanto, acalmar as bolsas de valores. Trump também tem invocado (meio forçado, mas tem) uma lei criada durante a Guerra da Coreia, nos anos 1950, para requisitar a empresas que fabriquem respiradores — GM e Ford já atenderam à demanda. Nos próximos dias, serão enfim iniciados os testes em massa da população, acelerados por uma tecnologia aprovada a toque de caixa que dá o resultado em cinco minutos. A superpotência ergue seus escudos diante do que está por vir, em onda preocupante.

Publicado em VEJA de 8 de abril de 2020, edição nº 2681

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