Depois de assassinato de 120 policias, governo sírio deve atacar Jisr al-Shughour
Regime alega que crime foi obra de gangues; ativistas falam em assassinato pelos próprios policiais

Um dia depois da morte de 120 policiais sírios em uma emboscada na cidade síria de Jisr al-Shughour, no nordeste do país, os moradores do local se preparam para uma ofensiva militar do governo, que prometeu “reagir com força”. Ainda não é claro o motivo do assassinato dos oficiais. O regime alega que o crime foi obra de “gangues armadas”, enquanto ganha força uma versão de ativistas, defendendo que os soldados foram mortos pelos próprios colegas porque se recusaram a atacar civis.
Impedidos de entrar na região pelo governo sírio, os jornalistas não foram capazes de apurar o que acontece na cidade, onde os serviços de comunicação também estão cortados. Mesmo assim, alguns moradores de Jisr al-Shughour conseguiram recorrer ao Facebook e pedir ajuda internacional, reafirmando que o movimento pela democracia na Síria é pacífico.
“Nós não temos nenhum tipo de arma. Os soldados estavam vindo em nossa direção e foram baleados nas costas por alguns integrantes da segurança síria”, disse um morador que conseguiu se comunicar com a rede britânica BBC. Já o regime de Bashar Assad insiste que uma guerrilha armada tomou a cidade e fez a emboscada contra policiais. Em um comunicado divulgado pela televisão local, o ministro do interior, Ibrahim Shaar, disse: “O governo agirá com firmeza, de acordo com a lei. Não ficaremos em silêncio diante de ataques armados que têm como alvo a segurança dos cidadãos”.
Outros protestos – No resto do país, o movimento opositor continua ganhando força. Militantes sírios pró-democracia convocaram uma nova jornada de manifestações, nesta terça-feira, e pediram às Forças Armadas que protejam os cidadãos dos ataques dos “agentes” do regime, em um texto publicadono Facebook.
“Terça-feira do Renascimento 7 de junho. O tempo da Naksa (derrota dos árabes para Israel em 1967) terminou, o tempo da traição terminou”, afirmam os organizadores na página Syrian Revolution 2011, um dos motores dos protestos contra o regime do ditador Assad. “Não convocamos a batalha e nos recusamos a usar armas contra nossos irmãos das Forças Armadas. Pedimos que nos protejam e defendam dos agentes do regime”, afirma o texto publicado no Facebook.
A Syrian Revolution 2011 recomenda ainda aos moradores de cidades ameaçadas pelo regime, em particular Idleb, 330 quilômetros ao norte de Damasco, que queimem pneus e bloqueiem as estradas para impedir a chegada de reforços militares.
Renúncia – A embaixadora da Síria na França, Lamia Shakkour, anunciou sua renúncia nesta terça, para não avalizar “o ciclo de violência” em seu país. “Reconheço a legitimidade das exigências do povo por mais democracia e liberdade”, disse Lamia, à televisão francesa. Ela é a primeira embaixadora síria a deixar o cargo desde o início do movimento de contestação do regime.
Mais de 1.100 civis, entre eles dezenas de crianças, foram mortos desde o início do movimento, segundo organizações não governamentais sírias. “A resposta dada pelo governo aos manifestantes não é boa. Não posso apoiar esse ciclo de violência, ignorar que civis morreram, que famílias choram sua dor”, ponderou Lamia. “Informei minha decisão ao secretário pessoal do presidente Assad. Minha demissão tem efeito imediato. Convido o presidente a convocar líderes da oposição para formar um novo governo”.
(Com agência France-Presse)