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Depoimento: a China é mais tecnológica que os EUA

Louise Peres, gerente de marketing em Nova York, conta a experiência de morar em Xangai por quatro meses

Por Louise Peres
Atualizado em 27 set 2019, 09h34 - Publicado em 27 set 2019, 06h55

Em agosto de 2014 passei no mestrado em gestão de mídia na The New School, em Nova York. Quando estava para me formar, apareceu uma proposta de emprego numa startup de redes sociais. Fui contratada para desenhar a estratégia de marketing que aplicamos até hoje. Em março deste ano, meu chefe disse que precisava de mim para implementar uma operação em Xangai, onde temos escritório. Decidi topar o desafio. E descobri, ao trocar momentaneamente os Estados Unidos pela China, durante quatro meses, um fascinante fosso entre os dois cotidianos. Já havia percebido, é claro, imensas diferenças entre o dia a dia profissional brasileiro e o americano, em especial do ponto de vista tecnológico e de infraestrutura. E, no entanto, o salto dos Estados Unidos para a China talvez tenha sido ainda mais impressionante. Nós, ocidentais, costumamos olhar os chineses como cidadãos de um sistema autoritário, fechado e isolado do restante do mundo — é verdade, sem dúvida, mas apenas parcialmente. Na China não há Google, Instagram nem WhatsApp, modo pelo qual o regime comunista conseguiu controlar o acesso às informações. E, mesmo sem essas ferramentas ocidentais, foi construído um ecossistema de tecnologia inigualável, extraordinário.

Até os estrangeiros que vivem lá já estão completamente habituados à realidade tecnológica da China. Todos usam um aplicativo chamado WeChat. Não dá para dizer que é semelhante ao WhatsApp, porque vai muito além. Nele é possível fazer tudo, ou quase tudo, o que se imagina. Pode-­se ver filmes, jogar, remeter e receber dinheiro… Todo o mercado chinês trabalha com o WeChat. Depois de cadastrada a conta bancária, ele funciona universalmente. É útil nas viagens de metrô e ônibus, na compra de ingressos de cinema e no pagamento da conta em um restaurante. O cidadão sai de casa sem carteira, só com o smartphone. Há lugares que não oferecem a opção de pagar em dinheiro ou com cartão de crédito. Vivi essa pequena grande revolução com a sensação de arrependimento, porque fiz a escolha — errada — de não abrir uma conta na China por causa da burocracia. A ideia era sacar e pagar tudo em dinheiro vivo. Andava como um gângster, com um monte de notas na bolsa. Sempre que eu ia a algum lugar e, na hora de pagar, mostrava dinheiro em espécie, olhavam-me de lado. Muitas vezes não aceitavam, e meus colegas de trabalho tinham de me salvar.

A tecnologia, enfim, está disponível para todos na China. Até os entregadores de aplicativos de comida têm um smart­phone de última geração. As pessoas são tão dependentes do celular que andam na rua esbarrando umas nas outras porque estão vidradas na tela, olhando para baixo. O sinal de internet funciona dentro dos túneis de metrô, embaixo da terra, e os chineses conseguem assistir a vídeos via streaming, em altíssima qualidade. Nunca vi isso em lugar nenhum do mundo. A China celebra essa condição como uma autêntica vitória — o desenvolvimento de aplicativos autônomos em relação ao restante do planeta. O país, enfim, não depende das empresas de tecnologia do Ocidente.

Para mim, foi um choque, um bom choque, conviver com uma situação tão mais avançada que a americana (e a brasileira, evidentemente). Parecia que eu tinha os olhos vendados e agora sei que existe um país do qual nós nos habituamos a desdenhar, mas cuja influência não para de crescer — não apenas comercialmente mas também como potência tecnológica que já não pode ser tratada como o reino da cópia. Muita gente não faz a menor ideia de quão à frente do nosso tempo os chineses estão e de como vão, decididamente, dominar o mundo muito em breve. Nós nos achamos modernos, mas não somos. Eles são bem mais, apesar do regime fechado.

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Depoimento dado a Alexandre Senechal

Publicado em VEJA de 2 de outubro de 2019, edição nº 2654

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