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Democratas pedem a renúncia de secretário de Justiça dos EUA

Em carta, o procurador especial Robert Mueller acusa William Barr de distorcer seu relatório final sobre a interferência de Moscou da eleição de Trump

Por Lúcia Guimarães Atualizado em 1 Maio 2019, 19h08 - Publicado em 1 Maio 2019, 18h36

O secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, depôs nesta quarta-feira, 1º, numa tensa audiência no Senado americano em torno do relatório Mueller, que trouxe as conclusões das investigações sobre a interferência da Rússia na eleição de Donald Trump para a Casa Branca, em 2016. A audiência estava marcada havia semanas, mas foi sacudida pela acusação do conselheiro especial Robert Mueller, horas antes, de que Barr distorcera o conteúdo do texto sobre o “Russiagate”.

Ao longo do dia, cresceram os apelos de deputados e senadores democratas para que o secretário renuncie. A temperatura na audiência do Comitê de Justiça esquentou quando a senadora Mazie Hirono, democrata do Havaí, usou a maior parte de seus cinco minutos para um ataque como fazia muito tempo não se via no Senado. Abriu dizendo que Barr se juntava a outros dispostos a sacrificar uma outrora boa reputação pelo “escroque mentiroso que ocupa o Salão Oval.”

O secretário de Justiça dos EUA, William Barr, versus a senadora democrata Mazie Hirono, do Havaí. (Clodagh Kilcoyne/Reuters - Jeenah Moon/Reuters)

Hirono continuou dizendo que a conduta de Barr no cargo confirmou sua decisão de votar contra a nomeação dele. Também o acusou de violar a missão sagrada do titular do ministério, que é defender o público e não agir como advogado pessoal de presidentes. “Você mentiu para o Congresso,” disse Hirono. “O país merece melhor. Você deve renunciar.”

A carta de Mueller para Barr, com data de 27 de março passado, foi vazada para o jornal The New York Times. Mueller censurou o secretário de Justiça por distorcer o que apurara sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016 e os subsequentes esforços de Donald Trump para obstruir a investigação.

O procurador especial fora nomeado porque Trump havia pedido ao então diretor do FBI, James Comey, para deixar em paz seu recém-demitido assessor de Segurança Nacional, Michael Flynn. O FBI havia descoberto contatos irregulares de Flynn com oficiais russos, que saiu antes de completar um mês no cargo. Quando Comey não cedeu ao presidente, foi sumariamente demitido, o que levou à abertura da longa investigação do “Russiagate”

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A data da carta de Mueller é importante. Ela chegou dias depois de Barr divulgar um sumário de quatro páginas com suas próprias e seletivas conclusões sobre o relatório e três semanas antes de Barr tornar o relatório completo de 448 páginas público. Ficou claro, então, que os investigadores de Mueller tinham apurado centenas de contatos da campanha com russos – conluio não é crime – e pelo menos onze episódios de possível obstrução de Justiça – é crime – por parte do presidente.

Na carta, Mueller lembra a Barr que tornou disponíveis os resumos de cada um dos dois volumes do relatório, subdividido em “conluio com russos” e “obstrução de Justiça”. Ele se queixa de que a interpretação de Barr sobre o Russiagate estaria provocando desgaste na percepção dos americanos sobre a missão e a credibilidade dos procuradores especiais.

Também pede a Barr que divulgue os dois resumos escritos por ele e sua equipe de dezenove promotores, vários deles escolhidos entre a elite da profissão em Washington e Nova York.

Mueller podia ter telefonado para William Barr, a quem conhece há trinta anos e com quem trabalhou no governo de George Bush pai. A decisão de produzir um documento escrito sugere que o procurador especial queria deixar um registro histórico de um momento sem precedentes e de sua preocupação com a gravidade do que apurou.

Pouco antes de Barr chegar ao Congresso, o Departamento de Justiça entregou a carta de Mueller ao Congresso. Mas, ao depor sob juramento em 20 de abril, Barr, não só omitiu a existência da carta do procurador especial como mentiu ao responder a uma pergunta específica do deputado democrata Chris Van Hollen.

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“Bob Mueller apoiou suas conclusões?,” perguntou Van Hollen. “Não sei se Mueller apoia minhas conclusões”, disse Barr, que sabia e já tinha telefonado para Mueller, depois de ter recebido a carta. Van Hollen acusou Barr de cometer perjúrio.

O depoimento do secretário de Justiça no Senado destacou a profunda divisão entre republicanos, que apresentam Donald Trump como vítima de perseguição injusta, e democratas, que ainda divergem entre si sobre o quanto o relatório Mueller serve de base para um processo de impeachment. Esse processo certamente não teria chance de passar pelo Senado, de maioria republicana.

A audiência, porém, demonstrou uma preocupação bipartidária com um tema que conta com o apoio de William Barr. A Rússia interferiu na eleição de 2016, invadiu as máquinas digitais do sistema eleitoral da Flórida e continua ativa nos esforços de sabotagem.

Sabe-se agora que a recém-demitida secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, lutou para tornar prioridade o reforço do sistema eleitoral contra ataques externos. Acabou constantemente rechaçada, sob o argumento de que o assunto é tabu para um presidente obcecado com a legitimidade de sua vitória no Colégio Eleitoral e derrota no voto popular em 2016.

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