Datas: Eugene Parker, Madeleine Albright e Chana Malogolowkin-Cohen
O astrofísico, a primeira mulher a chefiar a Secretaria de Estado americana e a geneticista pioneira
“Um disparate absoluto.” Foi assim, sem meias palavras, que o editor de uma das mais respeitadas revistas de ciência de Chicago reagiu, no fim dos anos 1950, a uma ideia do astrofísico americano Eugene Parker. Por meio de complexos cálculos matemáticos, ele sugeria existir um fluxo de partículas descarregadas pelo Sol conhecido como vento solar. Em 1962 a nave espacial Mariner II, da Nasa, comprovou a teoria de Parker. Nascia ali uma das lendas da heliofísica — o campo de estudos que aborda as interações do astro-rei com a Terra e o sistema solar, incluindo o clima no espaço. “Parker foi um visionário que se antecipou ao seu tempo”, diz Angela Olinto, decana da Universidade de Chicago.
Não por acaso, em 2018 a Nasa lançou uma sonda batizada de Parker, que orbitou o Sol a uma distância mais próxima do que nenhuma outra nave especial jamais havia chegado. A quantidade de dados enviadas pela Parker compõe o mais extraordinário levantamento a respeito de uma zona de conhecimento, em torno da radiação solar, sobre a qual durante milênios havia apenas impressões, e quase nenhuma certeza. Ele morreu aos 94 anos, de causas não reveladas pela família, em 15 de março, em Chicago.
Hábil negociadora
Filha de refugiados checos que chegaram aos Estados Unidos em 1948, depois de terem fugido dos nazistas ao ser deflagrada a II Guerra e dos soviéticos, que ocupariam o país com o armistício, Madeleine Albright foi a primeira mulher a chefiar a Secretaria de Estado americana, posto encarregado das relações internacionais. Ela foi nomeada pelo presidente democrata Bill Clinton em 1997 e permaneceu na função até o início de 2001, com a posse do republicano George W. Bush. Hábil conciliadora, estudiosa dedicada, havia quem a tratasse como possível candidata à Presidência — uma impossibilidade, dado ter nascido na Checoslováquia. Albright lamentava um episódio em sua carreira diplomática: o descaso americano com o genocídio em Ruanda, em 1993, tempo no qual ela ainda trabalhava como representante dos Estados Unidos na ONU. Ela morreu em 23 de março, aos 84 anos, em Washington, de câncer.
Geneticista pioneira
A trajetória da geneticista e naturalista Chana Malogolowkin-Cohen foi construída por pioneirismos. Ela foi a primeira mulher a se doutorar em história natural no Brasil, fundadora da Sociedade Brasileira de Genética, em 1955, e a primeira brasileira a publicar na reputada revista Science. No artigo, celebrado internacionalmente, ele revelava a descoberta de um fator que reduzia o nascimento de machos, na comparação com as fêmeas, de moscas drosófilas, comum em frutas.
Foi atalho de uma área de pesquisa destinada a controlar doenças como dengue e zika, provocadas pelo Aedes aegypti. Malogolowkin-Cohen morreu em 20 de março, aos 97 anos, em Tel-Aviv, Israel, de um acidente vascular cerebral.
Publicado em VEJA de 30 de março de 2022, edição nº 2782