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Daniel Ortega chama Igreja de ‘golpista’ e declara vitória sobre oposição

Repressão aos protestos resultaram na morte de mais de 280 pessoas desde abril; governo desafia comunidade internacional com guinada autoritária

Por Da Redação
20 jul 2018, 12h19

Na celebração do 39º aniversário da Revolução Sandinista, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega,  declarou a vitória de seu governo sobre os manifestantes que exigem sua saída e chamou a Igreja Católica de “golpista”. Os líderes da Igreja, no país, têm atuado como mediadores do conflito e propuseram a antecipação da eleição presidencial de 2021 para o ano que vem.

Ortega acusou os bispos católicos de tomar parte de um “plano golpista” para tirá-lo do poder. “[Os bispos] estão comprometidos com os golpistas, eram parte do plano com os golpistas, e me dói muito dizer isso porque eu lhes tenho muito apreço”, disse o presidente nicaraguense, em discurso em Manágua.

O bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, respondeu a Ortega pelo Twitter que a Igreja não sofre por ser caluniada, e sim “pelos detidos injustamente e pelos que fogem da repressão”.

Nas últimas semanas, o governo Ortega endureceu a repressão contra os opositores, que maio protestam contra a guinada autoritária de seu governo. Grupos de direitos humanos denunciam a morte de 280 pessoas morreram nessas ações, entre as quais 20 policiais. A Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH) informou que, perseguidos pela polícia, 200 habitantes da cidade rebelde de Masaya fugiram.

O governo tomou o controle de Masaya nesta semana. Berço da Revolução Sandinista, que depôs o então presidente Anastásio Somoza em 1979 sob a liderança de Ortega, a cidade era o último reduto controlado pelos opositores. A tomada da cidade se deu ao final de um violento confronto de seis horas, que resultou na morte de duas pessoas.

Forças leais a Ortega ainda mantêm Masaya sob forte vigilância. Policiais e paramilitares encapuzados, fortemente armados, percorrem a cidade em caminhonetes para acentuar o controle governamental. O ataque a Masaya gerou reações da comunidade internacional, que pede a Ortega o fim da violência.

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“Proclamamos nossa vitória, nosso avanço sobre essas forças tenebrosas, diabólicas, que durante três meses atingiram e sequestraram a paz, mas não conseguiram”, declarou Rosario Murillo, vice-presidente da Nicarágua e mulher de Ortega, em seu programa diários nos meios de comunicação oficiais.

Em consonância com a avaliação da comunidade internacional, os opositores nicaraguenses denunciam a tentativa do governo de  criminalizar as manifestações contra Ortega por meio da aplicação de uma nova lei contra o terrorismo. A lei pune com até 20 anos de prisão as pessoas que participarem ou apoiarem os protestos.

A legislação define como “terrorista” todos os que “causarem a morte ou lesões de pessoas que não participam diretamente de situações de conflito armado, ou que destruir bens”, ou cometa outros crimes com o propósito de “obrigar um governo” a fazer, ou deixar de fazer algo.

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A Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou na quarta-feira uma resolução que exorta o governo da Nicarágua a fortalecer as instituições democráticas e a apoiar eleições antecipadas com a oposição. Seu secretário-geral, Luis Almagro, defendeu o diálogo “facilitado” pela Igreja como “a instância para resolver aspectos políticos e eleitorais da crise”.

O Brasil e outros 11 países latino-americanos condenaram a violência, causadora da morte de mais de 300 pessoas e de centenas de feridos, e exigiu do governo da Nicarágua o fim da intimidação e das ameaças à sociedade e o desmantelamento dos grupos paramilitares. Em comunicado, esse grupo de países pediu a retomada do diálogo entre governo e oposição e deu seu apoio à Conferêncoa Episcopal da Nicarágua para continuar sua atuação como mediadora do conflito. 

O conselheiro para América Central do Departamento de Estado americano, Todd Robinson, comparou Daniel Ortega e Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, ao ditador Anastasio Somoza.

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“É muito irônico e cínico que, no 39º aniversário da queda de Somoza, o regime de Ortega esteja esmagando seu próprio povo, como o presidente Maduro na Venezuela”, declarou Robinson. “Eles têm esta ideia de que seus países devem pagar para que possam continuar  no poder. Isto é nefasto.”

O diplomata era, há dois meses, o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos em Caracas. Mas foi expulso por Maduro depois que o governo de Donald Trump não reconheceu sua reeleição, em maio. Segundo Robinson, a adoção de sanções pelos Estados Unidos contra a Nicarágua é uma das opções sobre a mesa.

“Vamos utilizar todas as ferramentas que temos para continuar pressionando o governo Ortega”, disse Robinson, que solicitou a outros países a adoção de medidas para evitar que autoridades nicaraguenses utilizem o sistema financeiro internacional em seus próprios benefícios.

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Washington já impôs sanções a três autoridades ligadas a Ortega e restringiu vistos de pessoas acusadas de abusos aos direitos humanos.

“Os responsáveis pela violência terão que responder à comunidade internacional por suas ações”. “A solução para o governo nicaraguense é clara. O único caminho para uma paz duradoura é a realização de eleições antecipadas, livres e transparentes. E eles podem tomar esta decisão”, concluiu Robinson.

Ortega governou seu país de 1979 a 1990, pela via eleitoral. Mas voltou à presidência em 2007, também pelo voto popular. Desde então, elegeu-se mais duas vezes, a última delas em 2016. Seu mandato deverá terminar apenas em 2021. Aliado de empresários locais, Ortega  tem pleno controle dos três poderes do Estado: o Executivo, Legislativo e Judiciário, incluindo o tribunal eleitoral.

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