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Crueldade do tráfico no México é disputa por destaque na mídia

Por Por Sofía Miselem
18 Maio 2012, 16h02

A crueldade crescente em chacinas atribuídas ao narcotráfico no México não é obra de psicopatas, mas o resultado calculado da disputa por destaque na imprensa entre chefes dos cartéis que os leva a decapitar, mutilar ou enforcar em pontes dezenas de pessoas.

“Não há antecedentes no mundo destes níveis de violência. Na Itália, com a máfia, houve um exercício da violência muito pontual, direto. Na Colômbia, há alguns casos, como o chamado ‘Assassino da motosserra’, mas nada comparado ao México”, comentou em declarações à AFP Martín Barrón, pesquisador do estatal Instituto Nacional de Ciências Penais.

Sobre as motivações destes massacres, Barrón destacou que “devem conter uma mensagem para o grupo inimigo”, que nem sempre é esclarecida pelas autoridades.

Desde as cinco cabeças humanas atiradas na pista de dança de um bar na cidade de Uruapan (oeste), em setembro de 2006, considerado um dos primeiros assassinatos do narcotráfico com tons macabros, a brutalidade dos traficantes no México tem aumentado.

O último e mais brutal caso foi a descoberta, no domingo passado, de 49 cadáveres em Cadereyta, no estado de Nuevo León (norte), que tiveram decepados mãos, pés e cabeças, ainda não encontrados, o que se supõe ter sido uma tentativa de dificultar a identificação das vítimas.

Quatro dias antes, nas proximidades de Guadalajara (oeste), segunda maior cidade do país, 18 corpos decapitados foram localizados dentro dos veículos, e em 4 de maio, Nuevo Laredo (nordeste), cidade fronteiriça com os Estados Unidos, amanheceu com nove pessoas enforcadas em uma ponte; mais tarde foram descobertos 14 decapitados.

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As autoridades atribuem estes massacres às disputas entre os Zetas, militares que desertaram em meados de 1990 para se unir ao narcotráfico, e o cartel de Sinaloa, que se supõe estar aliado com outras organizações, como o cartel do Golfo, para combater os primeiros.

Feggy Ostrosky, cientista da Universidade Nacional Autônoma do México e uma das poucas que traça perfis psicológicos de assassinos, atribui esta violência a uma profunda decomposição social, resultado de falhas institucionais do Estado e dentro da própria família.

Em estudos que ralizou sobre assassinos contratados pelo crime, descobriu que em geral não tiveram oportunidades de estudo, nem de trabalho, cresceram em lares onde só havia uma mãe trabalhadora e uma avó a cargo de seus cuidados, criando-se um “ambiente permissivo” que gera “homens com pobre autocontrole, pobre automonitoramento e pobre responsabilidade social”.

“Estas pessoas entram para o crime organizado porque lhes oferecem grandes quantias de dinheiro por ‘trabalhos’ rápidos como assassinar, decapitar”, disse Ostrosky, destacando que não são “loucos que escutam vozes que ordenam que matem”, nem de psicopatas com predisposição genética para a violência.

“É um fenômeno ao qual chamo de sociopatia cultural. É gente que nasce com um sistema nervoso normal, que não tem alterações genéticas (…), mas começam a funcionar como verdadeiros psicopatas porque veem as pessoas como ‘coisas’ às quais podem maltratar. Eles ‘coisificam’ as pessoas, matam uma ‘coisa’ por um ganho econômico”, acrescentou a doutora em psicologia.

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Um dos casos mais macabros foi o de Santiago Meza, conhcido como “El Pozolero”, apelido ganho em alusão ao pozole, típico prato mexicano que consiste em um caldo de milho com pedaços de carne. Meza era um pedreiro que dificilmente ganhava 50 dólares semanais, mas que recebeu 600 dólares por cada um dos mais de 300 corpos que dissolveu em ácido por encomenda de um cartel.

A brutalidade transformada em marca dos cartéis, acrescentou Barrón, também é uma “demonstração de força” perante o Estado de parte dos cartéis, em meio à luta feroz pelo controle das rotas das drogas no México onde, segundo estimativas jornalísticas, a onda de violência deixou mais de 50.000 mortos desde dezembro de 2006.

Mas também, advertiu, tem a ver com uma espécie de disputa pela atenção da mídia.

Por um lado, sustenta, o assassinato a tiros de uma ou mais pessoas “não se publica mais ou, se forem fatos maiores, a imprensa nos estados não os traz pelo controle exercido pelo o grupo local (cartel), que não quer que se saiba”.

“Por isso, vemos cada vez mais (casos) grotescos, que ganham ‘popularidade’ em todo o país, como os 49 cadáveres de Cadereyta”, concluiu Barrón.

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