Cresce temor sobre presença de dois papas no Vaticano
Continuidade de secretário de Ratzinger levanta suspeitas de interferência
Por Da Redação
15 fev 2013, 09h11
O papa Bento XVI garantiu na quinta-feira que, ao renunciar no dia 28, vai se “esconder do mundo”, em um sinal de que poderá passar seus últimos anos de vida recluso em um monastério. Entre vaticanistas e mesmo entre os cardeais, porém, cresce o temor de que a presença de dois papas no Vaticano crie uma situação difícil, seja durante o conclave seja na gestão da Igreja nos próximos anos.
“Mesmo me retirando, vou estar sempre perto de vocês na oração e vocês estarão perto de mim, ainda que eu vá estar escondido do mundo”, disse o papa na quinta-feira, em um encontro com sacerdotes em Roma. Joseph Ratzinger ficará recluso por um tempo indeterminado na moradia de verão do Vaticano, Castelgandolfo, próximo a Roma, e depois voltará a morar nas dependências do Vaticano.
O Vaticano tem se empenhado em passar a mensagem de que a renúncia é algo previsto dentro das leis e não há porque se preocupar com a existência de dois papas vivendo no minúsculo Estado do Vaticano, com apenas algumas centenas de moradores. “O papa é alguém muito discreto”, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
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Como monarquia absolutista, o Vaticano segue de alguma forma o mesmo modelo que outros estados. O problema é que, quando reis renunciam, deixam o cargo a herdeiros de seu próprio sangue. No caso do papa, não. O próprio Lombardi admitiu em coletiva de imprensa na quinta-feira que o Vaticano ainda não sabe sequer como se referir a Joseph Ratzinger depois que ele deixar o papado. Cogita-se chamá-lo de ‘papa emérito’.
Alguns cardeais se dizem “desconfortáveis” com a “sombra” do papa que renunciou ao pontificado. Outra fonte de suspeita é seu secretário pessoal, Georg Gänswein, que mantém o título de prefeito do gabinete do papa, mas acompanhará Joseph Ratzinger em sua aposentadoria. O monsenhor alemão Georg Gänswein, de 57 anos, foi apelidado pela revista Vanity Fair de ‘Monsenhor George Clooney’ pela aparência – 1,80 metro de altura, olhos claros e cabelos grisalhos.
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Surgiu a especulação de que ele poderá atuar como intermediário com aliados. Outros denunciam que, com Gänswein ao lado dos dois papas, haveria alguma interferência de Bento XVI no novo papado. Lombardi, no entanto,afirma que o prefeito não tem participação no governo do Vaticano, e limita-sem a aspectos burocráticos, como acertar as audiências do papa. Entre os vaticanistas, a constatação é de que o período de 600 anos sem uma renúncia não ocorreu por acaso. Outros papas já chegaram a cogitar a possibilidade de renunciar, mas foram orientados pelos especialistas legais do Vaticano a não tomar esse caminho. (Com Estadão Conteúdo)
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