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Covid-19: Corrida por vacina se acirra com testes em humanos na Alemanha

Berlim dá sinal verde para a farmacêutica BionTech iniciar testes; das 80 instituições em busca da fórmula de imunização, seis fazem testes clínicos

Por Amanda Péchy Atualizado em 24 abr 2020, 16h13 - Publicado em 22 abr 2020, 18h31

A corrida para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus acaba de ganhar mais um aspirante. Nesta quarta-feira, 22, a Alemanha autorizou os primeiros testes clínicos da farmacêutica BionTech, em cooperação com a gigante americana Pfizer, para avaliar quatro variantes de um componente.

Os testes clínicos geralmente ocorrem em três fases. A BionTech está se preparando para a primeira etapa, em que serão testados 200 voluntários saudáveis, ​​com idades entre 18 e 55 anos. A segunda fase requer mais candidatos – a empresa anunciou que vai incluir grupos de alto risco, como idosos e pessoas com histórico de doenças, e abranger até 500 pessoas. A terceira repete o mesmo procedimento, mas com milhares de pessoas.

Embora a BionTech tenha afirmado que começaria os testes “em breve”, ainda não anunciou data específica. Segundo o Instituto Paul Ehrlich, autoridade reguladora do país, essa primeira etapa, de menor escala, durará de três a cinco meses.

A Alemanha, contudo, não está sozinha. De acordo com a revista Nature, um dos mais conceituados veículos científicos do mundo, quase 80 empresas e instituições acadêmicas estavam na corrida pela vacina no início do mês. Dessas, ao menos cinco já estão realizando testes em pessoas – e o Reino Unido anunciou que a sexta vai ser britânica.

O secretário de Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, confirmou que a Universidade Oxford iniciaria a primeira fase de testes nesta quinta-feira, 23. O Instituto Jenner, dessa instituição, começou as pesquisas assim que o código genético do coronavírus tornou-se disponível em janeiro, e recebeu 20 milhões de libras (mais de 130 milhões de reais) do governo para a empreitada.

Segundo a instituição, 500 voluntários devem testar a vacina até meados de maio. Caso os resultados sejam positivos, outros milhares de voluntários passarão por testes. A equipe de Oxford disse que espera produzir um milhão de doses experimentais até setembro, realizando uma produção em larga escala “em risco” – o que significa que a vacina será produzida mesmo com a probablidade de ser inútil, caso os testes fracassem.

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O prazo estipulado pela universidade britânica se adianta à projeção oficial de 12 a 18 meses para a comercialização da vacina, citada por especialistas em todo o mundo. Se se mostrar eficaz, será um feito inédito. Normalmente, uma vacina leva anos, senão décadas, para ser desenvolvida.

Esforço mundial

Quem lidera os esforços para financiar o desenvolvimento de uma vacina para a Covid-19 é a Coalizão para Inovações em Preparo para Epidemias (Cepi), organização sem fins lucrativos da Noruega. A Cepi já arrecadou 915 milhões de dólares para a iniciativa, mas estima que o custo alcance mais de 2 bilhões de dólares.

De acordo com a ONG, a maioria dos desenvolvimentos da vacina está na América do Norte, que concentra 46% dos protótipos. Outros centros de pesquisa estão empatados: 18% na China, 18% no restante da Ásia e na Austrália e 18% na Europa.

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O projeto mais promissor, por enquanto, estreou a temporada de cobaias humanas no dia 16 de março, em tempo recorde. A empresa americana de biotecnologia, Moderna, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, iniciaram a primeira fase de testes no estado de Washington, no Kaiser Permanente Health Research Institute. A vacina será testada em 45 homens e mulheres, com idades entre 18 e 55 anos.

Apenas um dia depois do anúncio da Moderna, a biofarmacêutica chinesa CanSino Biologics divulgou ter iniciado seus testes clínicos, em colaboração com o Instituto de Biotecnologia de Pequim. A empresa é conhecida pelo desenvolvimento de uma vacina contra o Ebola, em 2017. Outras duas instituições chinesas, a Sinovac e o Instituto Estatal de Produtos Biológicos de Wuhan, também receberam autorização do governo para testar em humanos. Mesmo com o ritmo acelerado, ainda trabalha-se com o prazo de um ano.

A última empresa a iniciar testes em humanos foi a americana Inovio Pharmaceuticals, que anunciou no dia 6 de abril que experimentaria o componente em 40 voluntários saudáveis ​​no estado de Missouri. A Inovio, que recebeu doações do Cepi e do magnata criador da Microsoft, Bill Gates, espera resultados até o fim de junho e pretende produzir 1 milhão de doses até o final do ano.

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Outras 70 instituições, como as americanas Arcturus Therapeutics e Johnson & Johnson, a alemã CureVac, a francesa Sanofi, a britânica GlaxoSmithKline e a australiana Universidade de Queensland ainda estão nos estágios pré-clínicos de desenvolvimento das vacinas.

Os entraves da imunização

A velocidade com que as vacinas para o Sars-CoV-2, vírus que causa a Covid-19, estão sendo produzidas não tem precedentes. Com altas taxas de transmissão e de mortalidade, a doença já atingiu 2,6 milhões de pessoas e deixou 182.000 mortos, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins. Mesmo assim, as fases de testes são essenciais – e não podem ser negligenciadas.

Na década de 1960, nos testes clínicos de uma vacina contra o vírus sincicial respiratório, que causa sintomas semelhantes ao resfriado em crianças, verificou-se que a fórmula agravava a doença. Algo semelhante ocorreu com animais que receberam uma vacina experimental contra a Sars, doença causada por um outro tipo de coronavírus.

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Além disso, assim que uma vacina contra o coronavírus for aprovada, ela será necessária em grandes quantidades. Acredita-se que ao menos 60% das pessoas precisam tornar-se imunes ao vírus para impedir que ele se espalhe – a famosa imunidade coletiva. Ou, serão necessárias bilhões de doses para cobrir a população mundial.

“Ninguém deve ser deixado para trás. Isso tem um aspecto moral, mas também um aspecto prático: para que uma vacina contra uma pandemia seja eficaz, ela precisa estar disponível globalmente”, afirma Danny Edwards, gerente de pesquisa do Índice de Acessibilidade na Access to Medicine Foundation, organização não-governamental que pesquisa a desigualdade no acesso a medicamentos e vacinas.

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Segundo especialistas, o verdadeiro desafio da imunização começa depois de encontrar uma vacina – tanto na produção quanto distribuição do produto.

“Até que haja vacinas suficientes para todos, é provável que médicos e pacientes de alto risco tenham prioridade”, diz Michelle Mello, professora da Escola de Medicina da Universidade de Stanford. A especialista alerta, contudo, que a imunização só será útil para evitar uma segunda onda da doença. “A intensidade da pandemia deve diminuir antes que a vacina esteja disponível”. Nem toda a pressa do mundo pode acelerar a Ciência.

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