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Como o Peru se tornou o país com a maior taxa de mortalidade por Covid-19

Governo justifica reflexo da transparência de dados, mas sistema de saúde mal preparado e pobreza alavancam taxas de morte por 100.000 habitantes

Por Vinícius Novelli
1 set 2020, 15h52

Com 31 milhões de habitantes e 647.000 casos registrados de Covid-19, incluindo 28.000 mortes, o Peru se tornou o país com mais óbitos por 100.000 habitantes no mundo. Segundo o governo, a cifra é alta porque o país registra muito bem seus mortos e a taxa de subnotificação de mortos é baixa. Por outro lado, o sistema de saúde é mau preparado e recebe pouco investimento; o trabalho informal é alto e a pobreza também. Todos esses fatores, aliados à superlotação domiciliar, ajudam na propagação da doença, apesar de o país ter instaurado uma das políticas de confinamento mais rígidas do mundo.

“O Peru está em primeiro lugar porque estamos diminuindo a subnotificação das mortes. Mas a falta de infraestrutura, a ausência de um Estado e a falta de ordenamento social no país ajudam a aumentar o índice” explica Farid Matuk, especialista em estatística que assessorou o governo no início da pandemia.

O Peru possui 1.600 leitos de UTI disponíveis para os 31 milhões de habitantes, sendo que 1.500 foram criados às pressas por conta da pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que o sistema de saúde tenha entre dois a três leitos disponíveis para cada 10.000 habitantes. O país precisaria de ao menos 9.300 leitos de terapia intensiva adicionais para cobrir toda a população.

A falta de leitos fez com que muitos pacientes fossem internados quando já estavam em estado muito grave. Não bastasse a parca disponibilidade, o país sofre com a ausência de profissionais de saúde. A Federação Médica Peruana avalia que faltam 16.000 especialistas em todo o país.

A alta demanda fez com que insumos médicos se tornassem escassos. Um dos exemplo foi o oxigênio, que é usado em pessoas entubadas, uma vez que a Covid-19 ataca principalmente os pulmões. O governo declarou o oxigênio como “produto de interesse nacional” e importou uma carga no valor de 25 milhões de dólares.

Apesar do crescimento econômico da última década, um quinto da população peruana vive na pobreza e milhões de habitantes não têm acesso a água potável. Além disso, há uma grande superlotação nas residências e uma informalidade trabalhista de 70%, segundo dados oficiais.

“A informalidade da população peruana a faz sair às ruas para trabalhar por falta de meios sustentáveis de subsistência”, explicou o médico infectologista Guillermo Contreras. “Outro grupo populacional não entende as medidas. Muita gente não entende o valor de lavar as mãos, o uso correto da máscara, o distanciamento social”.

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O governo, por sua vez, afirma que a alta mortalidade ocorre por conta da transparência dos números.

“Não conheço outro país, além do Peru, que durante a pandemia esteja sendo transparente com o número de mortes durante a pandemia”, afirmou o presidente do Conselho de Ministros, Walter Martos, à emissora RPP.

Quarentena rígida

O Peru registrou o primeiro caso de Covid-19 no dia 6 de março. Pouco mais de uma semana depois, no dia 18, o presidente, Martín Vizcarra, declarou confinamento total, suspendendo as garantias constitucionais de reunião e trânsito, além de impor toque de recolher das dez da noite às quatro da manhã.

Uma das medidas polêmicas adotas pelo governo foi a proibição de homens e mulheres saírem juntos na rua. Passeios seriam controlados por um sistema de rodízio, no qual homens podem circular nas segundas, quartas e sextas-feiras, já as mulheres nas terças, quintas e sábados. No domingo a saída é proibida para ambos. No mundo, somente o Panamá adotou medidas similares.

Por mais de 100 dias, o Peru se manteve sob as severas restrições, mas em julho a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre foi de 30,02%, a mais alta já registrada na história do país. Desde então, o governo passou a relaxar as restrições.

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Apesar de aglomerações públicas e festas continuarem proibidas, elas não foram o suficiente para impedir que eventos ilegais ocorressem. No dia 22 de agosto, uma batida policial em uma casa noturna no distrito de Los Olivas, em Lima, resultou na morte de 13 pessoas – 11 delas testaram positivo para a Covid-19, segundo o Ministério do Interior.

Testemunhas afirmam que os policiais usaram gás lacrimogênio dentro no local, que contava apenas com uma saída. A polícia nega. O Ministério do Interior anunciou uma investigação para verificar se a polícia cumpriu com os procedimentos previstos para intervenções em locais públicos.

Apesar de o país ser o detentor do primeiro lugar de mortes por Covid-19 a cada 100.00 habitantes, a ministra da Saúde, pilar Mazzetti, afirmou em boletim semanal desta semana que a pandemia se estabiliza e deve estar entrando em sua “etapa final”. A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, relata uma tendência de aumento de casos no Peru e em outras regiões da América Latina.

“É nesta etapa final que iremos conviver com o vírus. Neste momento, as cifras irão cair, tanto de infectados, quanto de mortos, e irão se estabilizar em algum ponto”, afirmou Pilar. “Esta etapa terminará quando houver uma vacina”.

(Com AFP)

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