Jack Smith, procurador especial do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, entrou com uma moção para retirar todas as quatro acusações criminais contra o presidente eleito do país, Donald Trump, relacionadas à tentativa de anular sua derrota nas eleições de 2020, que culminou com a invasão da sede do Congresso americano, o Capitólio de Washington, por apoiadores do republicano no fatídico 6 de janeiro de 2021.
Neste processo, Trump foi indiciado por quatro crimes em agosto de 2023: conspiração para fraudar os Estados Unidos, conspiração para obstruir um processo oficial, obstrução e tentativa de obstruir um processo oficial e conspiração contra direitos cidadãos. O caso ficou suspenso por meses, pois a equipe de defesa do ex-presidente argumentou que ele não poderia ser processado.
A ação marcou um momento extraordinário na história americana — a primeira que acusou um presidente de tentar continuar ilegalmente no poder. Mas o fim do processo também é histórico: está diretamente ligado ao retorno de Trump à Casa Branca, patrocinado pelos votos de 50% dos eleitores que foram às urnas em 5 de novembro, apesar da série de reveses jurídicos que o perseguiram desde que deixou o Salão Oval.
“A posição do governo sobre os méritos da acusação do réu não mudou. Mas as circunstâncias mudaram”, escreveu o gabinete de Smith na moção aberta nesta segunda-feira, acrescentando que seu objetivo é rejeitar as acusações antes mesmo da posse de Trump, em janeiro. A medida vai de encontro à tradicional postura do Departamento de Justiça, de que não pode acusar um presidente em exercício.
“Essa proibição é categórica e não depende da gravidade dos crimes acusados, da força da prova do governo ou dos méritos da acusação, que o governo apoia totalmente”, acrescentou o procurador especial.
Também nesta segunda, Smith apresentou outra moção para encerrar o processo contra Trump no caso referente à retenção de documentos secretos da Presidência, em que a Procuradoria alegou que o ex-presidente levou para sua residência pessoal dezenas de arquivos confidenciais da Casa Branca. Ele também teria arquitetado maneiras de barrar a investigação do Departamento de Justiça.
“Casos inconstitucionais”
Em julho, a Suprema Corte já havia dado uma vitória a Trump, quando deliberou que ex-presidentes devem ter direito a imunidade “parcial” em relação a supostos crimes cometidos em exercício. O caso do Capitólio caiu, e teve que começar do zero. Apesar disso, um novo júri federal voltou a indiciá-lo pelas mesmas quatro acusações dois meses depois, alegando que as falsas alegações de Trump sobre fraude eleitoral em massa durante no pleito de 2020 eram “objetivamente irracionais” e que o republicano “sabia que eram falsas”.
Publicamente, o agora presidente eleito dos Estados Unidos nunca admitiu que ele estava mentindo, e se declarou inocente no caso. Durante todo o processo, Trump afirmou ser vítima de uma “caça às bruxas” e alegou que o objetivo do Departamento de Justiça era impedi-lo de concorrer à Presidência novamente.
“A decisão de hoje do DOJ (Departamento de Justiça) encerra os casos federais inconstitucionais contra o presidente Trump e é uma grande vitória para o estado de direito. O povo americano e o presidente Trump querem um fim imediato ao aparelhamento político do nosso sistema de justiça e estamos ansiosos para unir nosso país”, declarou o porta-voz de Trump, Steven Cheung.
Corrida contra o tempo
No início do mês, a mídia americana informou que Smith e sua equipe planejam renunciar antes que o novo líder americano tome posse, em janeiro. Trump prometeu demiti-lo em seu primeiro dia na Casa Branca.
Antes disso, o Departamento de Justiça está focado em prender as figuras “mais flagrantes” que participaram do ataque às instituições democráticas em 6 de janeiro. O republicano afirmou que perdoará uma parcela indeterminada da turba que depredou o Capitólio, a quem ele chamou de “guerreiros”, “patriotas inacreditáveis”, prisioneiros políticos e “reféns”.