Dezenas de pessoas morreram neste sábado na Síria, onde os confrontos entre o Exército e os rebeldes são travados em Aleppo (norte), nova frente aberta após a eclosão da “batalha de Damasco”, enquanto as forças do governo parecem ter retomado o controle.
No plano diplomático, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, preocupado com a “rápida deterioração” do cenário, considerou que o governo sírio fracassou na proteção dos civis e pediu à Síria que “ponha fim às matanças e ao uso de armas pesadas contra as aglomerações”.
Apesar da intensificação dos combates, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, anunciou que Paris espera “a formação de um governo provisório” que deverá “representar a diversidade da sociedade síria”.
Quase uma semana de intensos combates em Damasco e um atentado contra os principais chefes do aparato de segurança no coração da capital enfraqueceram o poder do presidente Bashar al-Assad. Paralelamente, os rebeldes tomaram o controle de vários postos na fronteira com Turquia e Iraque.
Neste sábado, 90 pessoas morreram nos combates, sendo 41 civis, 29 militares e 20 rebeldes, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O maior número de óbitos ocorreu na província de Idleb, no norte do país, onde 12 civis morreram em bombardeios.
Na província meridional de Deraa, quatro civis e três rebeldes morreram durante os confrontos, enquanto em Homs (centro), cidade símbolo da revolta contra o regime de Bashar al Assad, ao menos sete rebeldes caíram em combate.
Na sexta-feira, a violência deixou 233 mortos – 153 civis, 43 soldados e 37 rebeldes – em todo o país, indicou o OSDH.
“Os confrontos seguem desde sexta-feira entre as forças regulares e unidades rebeldes no bairro de Salahedin”, em Aleppo (norte), segundo o OSDH, com sede na Grã-Bretanha.
Os Comitês Locais de Coordenação (LCC), também ligados à oposição, indicaram “um êxodo dos moradores do bairro com medo dos bombardeios do regime e de uma ofensiva” contra Salahedin, no coração da capital econômica do país.
Aleppo, que estava à margem da revolta popular contra o governo de Bashar al-Assad, assim como Damasco, registrou mobilizações nos últimos meses, sobretudo em sua universidade.
Em Damasco, a situação era de muita tensão neste sábado, mas o tráfego era normal no início do mês de jejum muçulmano do Ramadã. Os moradores da capital foram em grande número aos supermercados nestes três últimos dias.
“Há alguns dias, vou correndo fazer as compras e volto em seguida para me esconder em minha casa”, explicou Suad, uma mãe de família.
Um morador do campo de refugiados palestinos de Yarmouk, no subúrbio do sul de Damasco, disse que não saía de sua casa desde quarta-feira. “É perigoso sair do campo porque há atiradores escondidos na entrada que atiram contra qualquer grupo” de pessoas reunidas, afirmou.
Segundo o OSDH, os bairros de Qadam e Assali, na periferia sul da capital, foram bombardeados pelo Exército durante a noite.
Depois de ter retomado o bairro de Qaboun (leste de Damasco), o Exército entrou em Jobar (leste), Ruknedin (norte) e, principalmente, nos “campos de Mazzé”, em Kafar Soussé (sudoeste), segundo o OSDH.
Uma fonte de segurança havia indicado à AFP na sexta-feira que, além de Midan, o Exército controlava Tadamoun (sul), Qaboun e Barzé (leste).
Segundo o OSDH, “foram ouvidos vários disparos” neste sábado ao meio-dia em Mazzé.
“As lojas estão fechadas e falta pão” no bairro, explicou Abu Mohanad al-Mazi, um militante contatado pela AFP via Skype.
Vários bairros da periferia de Damasco, entre eles Hajar Assouad e Tadamoun, foram bombardeados, segundo os habitantes.
Na cidade rebelde de Homs (centro), capital da revolução, vários bairros, entre eles Jaldiyé, foram bombardeados pelo Exército que tenta tomar o controle, contaram seus moradores.
Presos se apoderaram de uma penitenciária da cidade na madrugada deste sábado, depois que os guardas abandonaram seus postos, disse à AFP um opositor, que teme um “massacre” das forças de segurança, pois estas cercaram o local com tanques e efetuam disparos.
“As autoridades controlam apenas 50% ou 60% do território sírio”, segundo Rami Abdel Rahman, chefe do OSDH.
O Exército Sírio Livre (ESL), formado por desertores e civis armados, controlava neste sábado dois dos três postos na fronteira com o Iraque, indicaram as autoridades iraquianas, que deram instruções aos guardas para que impeçam a entrada de refugiados sírios em seu país.
Em outra ação, o ESL tentou sem sucesso conquistar um posto na fronteira com a Jordânia, segundo uma autoridade desse país.