Agus Morales.
Islamabad, 9 dez (EFE).- O Paquistão vive um momento de incerteza depois que a hospitalização do presidente Asif Ali Zardari em Dubai para se tratar de um suposto infarto difundiu a versão de que o Exército planeja tirá-lo do poder.
As especulações se espalharam na imprensa por causa das confusas informações oficiais sobre a saúde do presidente e também pela forte pressão que o líder enfrenta dos militares por causa da relação com seu inimigo declarado: os Estados Unidos.
A transferência de Zardari ao emirado aconteceu após a divulgação de um escândalo por causa de um suposto pedido de ajuda a Washington para acabar com a tensão provocada em maio em Islamabad, depois da morte de Osama bin Laden.
A polêmica terminou com a renúncia de Hussain Haqqani, até então embaixador nos EUA e suposto transmissor do pedido de ajuda frente ao descontentamento militar com a operação americana que resultou na morte de Bin Laden ao norte da capital paquistanesa.
No entanto, a inesperada hospitalização de Zardari em Dubai fez surgir novamente várias hipóteses, apoiadas em contradições dos comunicados oficiais sobre a doença do chefe de Estado.
O porta-voz da Presidência, Farhatullah Babar, disse inicialmente que Zardari havido sido levado na quarta-feira a Dubai para fazer ‘exames médicos’; um dia depois, na quinta-feira, divulgou uma mensagem na qual afirmou que o chefe de Estado ‘estava se recuperando’ e admitiu que o líder tinha problemas cardíacos.
A revista americana ‘Foreign Policy’ publicou, no entanto, que os EUA foram informados de que Zardari sofreu um ‘pequeno ataque do coração’, e que isso poderia obrigá-lo a renunciar.
Pouco serviu que, após essa publicação, pessoas ligadas a Zardari e a própria secretária de Estado americana, Hillary Clinton, tivessem garantido que não havia motivo para especular sobre a saúde do chefe de Estado nem de duvidar de sua continuidade na Presidência.
‘O Exército lançou um golpe fraco? Que membros teria o Governo interino?’, perguntou nesta sexta-feira no editorial o jornal ‘Dawn’, ligado às instituições do poder civil, que historicamente temem os militares.
Em meio ao clima de desconfiança – e o turbilhão de desencontros em que se transformou as relações entre Washington e Islamabad desde a morte de Bin Laden -, a certeza é que ultimamente não faltavam motivos para causar ansiedade em Zardari.
‘O presidente foi submetido a muito estresse’, explicou à Agência Efe o analista Asim Awan, conhecedor dos segredos da legenda de Zardari, o Partido Popular do Paquistão (PPP), que mantém tradicionalmente uma relação turbulenta com o Exército.
Pessoas próximas a Zardari teriam afirmado que o líder havia começado a fumar, o que foi proibido por seus médicos, disse o analista, em referência ao fato de que a saúde do viúvo da primeira-ministra Benazir Bhutto se agravou nos 11 anos que passou na prisão.
Awan se referiu ‘às especulações de que ele fugiu’, embora tenha concordado com as pessoas próximas a Zardari de que o chefe de Estado ‘em breve voltará’. EFE