China receberá o novo líder entre incertezas e esperanças
Hu Jintao cederá Presidência a Xi Jinping em Congresso do Partido Comunista. Analistas apontam problemas dos últimos dez anos e fazem apostas para o futuro
Depois de dez anos de Hu Jintao no poder, a China promoverá uma troca de comando mais uma vez envolta em mistério. A nova cúpula de governo será apontada no 18º Congresso do Partido Comunista, que começou nesta quinta-feira, no Grande Palácio de Pequim, e se encerrará no dia 14 de novembro. No encontro, o atual vice-presidente, Xi Jinping, será nomeado secretário-geral do partido – e nos próximos meses assumirá a chefia do estado. Embora a transferência de poder sempre seja marcada por segredos de estado, desta vez a China é a segunda maior economia do mundo, e a visão do novo presidente em relação a temas-chave são importantes como nunca.
Uma análise do correspondente da CNN Jaime FlorCruz (leia o texto na íntegra, em inglês), formado em história da China pela Peking University, mostra que quando Hu Jintao entregar o cargo para Xi Jinping nem todo mundo se lembrará de seus dez anos de governo de forma favorável. É verdade que esse foi um período de rápidas mudanças sociais e econômicas, e Hu ganhou o crédito de ter solidificado a China como uma potência global em ascendência. Mas muitas críticas também o acompanham. Seu mandato foi marcado por agitação política e repressões. E o presidente permitiu que as fortunas conquistadas pelo país fossem distribuídas de forma extremamente desigual. A nação de fato tornou-se mais rica e forte, mas a população ficou mais pobre e frágil. Mais de 100 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza – apesar do tamanho de sua economia.
O jornalista Angus Foster, da rede BBC internacional, também destaca o preço pago pela sociedade para o desenvolvimento da economia chinesa, o que ele considera uma situação insustentável (leia o texto na íntegra, em inglês). Se num primeiro momento a herança de Hu parece atraente, o crescimento econômico da China encobre uma série de problemas. A economia tornou-se muito dependente de investimentos governamentais e empresas de propriedade estatal. E, apesar de o governo ter investido milhões em saúde e aposentadoria, o país enfrenta enormes desafios relacionados ao envelhecimento rápido da população. Foster também questiona como um estado de partido único pode confrontar interesses e entregar as reformas necessárias, se a população não tem o direito de investigar abusos de poder do governo, e as informações não são transparentes.
Um artigo da revista Economist (leia o texto na íntegra, em inglês) lembra que tal é o sigilo que o Partido Comunista chinês mantém sobre os seus líderes, que Hu Jintao, presidente desde 2002, se dirigiu à nação apenas duas vezes ao vivo para falar a fundo de seus planos políticos. “Apesar de uma década de crescimento econômico vertiginoso, o descontentamento é generalizado entre os menos abastados e os integrantes de uma classe média muito expandida, que querem mais participação política”, diz a reportagem. Em seu discurso no congresso, nesta quinta, o próprio presidente admitiu que o país precisa de uma reforma e que o desenvolvimento chinês é “desequilibrado, descoordenado e insustentável”. Mas não deu sinais de mudanças quando falou da necessidade de “aumentar progressivamente” a capacidade do setor estatal para “alavancar a economia” – economistas liberais na China dizem que um afrouxamento do controle estatal sobre setores vitais, desde serviços financeiros até energia e telecomunicações, é necessário e urgente.
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As publicações lembram que há quem acredite que Xi possa ser diferente, por ser mais jovem, carismático e entender melhor o Ocidente. Enquanto Xi estava à frente do Congresso, houve rumores de que ele teria se reunido com reformistas proeminentes, provocando especulações sobre seus planos futuros. Mas a capacidade de Xi de enfrentar os problemas domésticos da China e os desafios do país como superpotência mundial ainda é uma incógnita. E, segundo analistas, os pacotes de reformas que ele eventualmente tem em mente podem demorar anos para serem colocados em prática.
Quem comandou a China nos últimos anos e o que fez
Mao Tsé-Tung (1949-1976)
Mao foi o fundador da República Popular da China e o responsável por políticas desastrosas como o “Grande Salto Adiante” e a “Revolução Cultural”. O objetivo da primeira era promover uma nação desenvolvida e igualitária em tempo recorde, mas milhões de pessoas acabaram morrendo em decorrência da fome e dos deslocamentos forçados. A segunda política buscava fugir do modelo soviético de comunismo, por considerá-lo falido. Porém, a mobilização da juventude em grupos paramilitares conhecidos como Guardas Vermelhos resultou em vandalismo, perseguição e culto exagerado à figura de Mao.
Deng Xiaoping (1978-1992)
Deng ocupou altos cargos no governo antes de assumir o comando do país, dois anos depois da morte de Mao. Em 1984, iniciou uma importante reforma econômica na China: implantou uma política de aproximação com o Japão e os EUA, atraindo capitais estrangeiros para o país, e se reaproximou do governo soviético. Porém, no campo doméstico, manteve-se irredutível na defesa de um partido único, com rigoroso controle sobre a oposição. Em 1989, esmagou violentamente o movimento estudantil democrático na Praça da Paz Celestial de Pequim, provocando milhares de mortes.
Jiang Zemin (1992-2002)
Após o massacre na Praça da Paz Celestial, Deng se empenhou para encontrar um político confiável para sucedê-lo e considerou que Jiang Zemin tinha o perfil adequado. Antes de sua morte, o preparou para o cargo. Zemin não era exatamente um estadista inovador – sua prioridade era manter a estabilidade social, dar continuidade às graduais reformas econômicas e garantir que o Partido Comunista permanecesse no poder. Tentou modernizar o partido e fazer com que o país se tornasse a economia de crescimento mais rápido no mundo.
Hu Jintao (2002-2012)
Hu Jintao foi o primeiro presidente a começar sua carreira política após a revolução comunista de 1949. Em 1998, se tornou vice-presidente da China, até substituir Jiang Zemin. Hu deu continuidade ao rápido desenvolvimento chinês, fazendo com que o país se tornasse a segunda maior economia do mundo. Tentou mostrar à comunidade internacional uma China “harmoniosa”, mas seu governo é conhecido pela repressão e a censura aos opositores. Provou que não pretende levar adiante uma reforma política nos moldes do Ocidente.