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Chile ainda tenta esquecer Pinochet 10 anos após sua morte

A ditadura de Augusto Pinochet é acusada de matar mais de 3.200 pessoas e de torturar outras 28.000, mas no Chile há ainda quem o apoie

Por Da redação
Atualizado em 10 dez 2016, 13h51 - Publicado em 10 dez 2016, 13h44

Dez anos após sua morte, apenas poucos saudosistas da ditadura de Augusto Pinochet — uma das mais violentas da América Latina — recordarão neste sábado o aniversário da data com uma missa privada. A figura do ditador é cada vez menos perceptível em um Chile que tenta deixar para trás seu triste legado. Pinochet faleceu em 10 de dezembro de 2006, aos 91 anos, vítima de um ataque cardíaco. Compreensivelmente, a data não terá homenagens públicas a sua figura.

A Fundação Augusto Pinochet organizará uma pequena missa em Los Boldos, na costa central do Chile, onde estão as cinzas do ditador. Menos de 100 pessoas devem comparecer à cerimônia, número muito abaixo das 50.000 que acompanharam seu funeral, a última demonstração de apoio ao ‘pinochetismo’. Para o governo da presidente socialista Michelle Bachelet, cujo pai morreu torturado pela ditadura, a data não é relevante.

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Pinochet é uma figura do passado e em nossa memória histórica é claramente uma pessoa que mais se vincula com a divisão que a união, uma pessoa que está no passado e o Chile tem que estar no presente e olhar para o futuro”, afirmou na terça-feira a porta-voz do Executivo, Paula Narváez.

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Legado permanece — No ‘Chile sem Pinochet’, poucos se atrevem atualmente a reivindicar publicamente sua figura. Os antigos aliados políticos ainda defendem sua obra, mas se distanciaram do personagem, à medida que a Justiça avança com as investigações por casos de corrupção e violações dos direitos humanos. O legado econômico e político da ditadura, no entanto, permanece.

“Pinochet, depois de 10 anos de sua morte, foi desaparecendo do cenário público como personagem, como biografia, como quem comandou uma ditadura durante 17 anos, mas não o seu legado e herança”, disse à Manuel Garate, historiador e cientista político da Universidade Alberto Hurtado. Vinte e seis anos após o fim da ditadura, o sistema econômico de livre mercado que instaurou permanece quase intacto, assim como o sistema privado de previdência e a Constituição de 1980.

Mas o sistema eleitoral que por anos beneficiou a direita foi desmantelado no ano passado. O governo de Bachelet também trabalha para mudar o sistema de ensino. As mudanças, porém, acontecem de maneira lenta. “Há contradições na sociedade chilena. O personagem produz rejeição, mas as pessoas se acostumaram a viver em seu modelo econômico”, disse Garate.
Progressiva deterioração da imagem — Pinochet se tornou rapidamente no exterior o símbolo das ditaduras na América Latina, ao destruir a última possibilidade de um socialismo democrático concluir seu projeto político ao derrubar o governo de Salvador Allende, o primeiro e único político declaradamente socialista a chegar ao poder através das urnas, e que cometeu suicídio no dia do golpe, em 11 de setembro de 1973.

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A ditadura de Pinochet é acusada de matar mais de 3.200 pessoas e de torturar outras 28.000. Mas se fora do país a condenação foi praticamente imediata, no Chile os avanços na economia (que poderiam ter sido obtidos sem a repressão e as mortes) e o fato de entregar o poder após a derrota em um plebiscito em 1988 provocaram um atraso na avaliação negativa de sua figura, que agora tem uma condenação quase unânime.

“Aconteceu uma conscientização progressiva da verdade, mas hoje Pinochet não tem o apreço ou o mínimo respaldo da população”, afirma o diretor do Museu da Memória, Francisco Estévez. Mas ainda há um longo caminho para cicatrizar as feridas. Quase mil vítimas permanecem desaparecidas e poucos casos da ditadura foram solucionados pela justiça.

(Com France-Presse)

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