Casos de tortura são relatados em meio a repressão na Venezuela
Já há ao menos dezoito casos documentados de torturas contra cidadãos
Por Diego Braga Norte, de Caracas
26 fev 2014, 22h50
Jovem venezuelano que disse ter sido torturado mostra as marcas da agressão Reprodução/Twitter/VEJA
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“A tortura é a pior forma de violência do Estado. Os jovens venezuelanos torturados mostram que a máscara de democracia do regime caiu”. Com estas palavras, a deputada opositora María Corina Machado denuncia os casos de tortura relatados na Venezuela desde o início da onda de protestos contra o governo, há mais de duas semanas. A ONG Foro Penal Venezuelano tem documentados dezoito casos. “Todas estas pessoas tiveram seu direito de defesa violado. Não foi permitido que entrassem em contato com seus advogados e foram forçados a assinar um documento reconhecendo que, sim, foram atendidos por advogados”, afirmou o diretor da organização, Alfredo Romero.
Um dos relatos mais abomináveis é o de um estudante de 21 anos que disse ter sido agredido e violado por um cano de fuzil por integrantes da Guarda Nacional Bolivariana, em Valência, no estado de Carabobo, na noite do dia 13. “Ele chegou em sua casa com muitos hematomas e escoriações após deixar a prisão”, disse a deputada, que conversou com a mãe do jovem.
“Bateram muito em mim, nas costelas, na cabeça. Caí no chão e me chutaram”, contou o jovem em entrevista à imprensa local. “Quando chegamos ao Comando da Guarda Nacional em Tocuyito [cidade vizinha de Valência] passamos por um cão e ordenaram para ele me morder” – prossegue o relato. “Abaixaram minha calça e colocaram o cano de um fuzil em meu ânus”.
Em outro caso, publicado pelo jornal espanhol El País, um jovem de 23 anos foi detido por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) no dia 12, quando três pessoas morreram nos protestos. A família ficou sem notícias do jovem detido durante 30 horas. Neste período, segundo relato da mãe, que não quis se identificar com medo de represálias, ele foi espancado de forma selvagem, recebeu descargas elétricas no pescoço e foi alvo de pauladas. “Isso sem contar a tortura psicológica. Diziam a ele que estavam violentando a mim e à irmã dele”.
Os casos compilados pela ONG incluem um vasto repertório de crueldades: sacos na cabeça, choques elétricos, espancamentos com bastões de madeira. O Foro Penal, que presta assistência jurídica para manifestantes presos e torturados, afirmou ter levado os casos ao Ministério Público venezuelano e garantiu que seguirá acompanhando os processos. A Fiscal Geral da República, Luisa Ortega Díaz, que comanda o Ministério Público venezuelano, afirmou que “não é verdade que houve violação de acordo com o reconhecimento forense. Todos os testes provaram que esta afirmação não é verdadeira” (…) “O médico determinou um diagnóstico de contusões leves”.
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As fotos do jovem que violentado, porém, mostram muito mais que contusões leves. “Ele está com marcas de violência da cabeça aos pés e me disse que assim que puder, vai retornar às ruas para protestar. Os valores humanos não são negociáveis, a vida humana não pode ser assim agredida pelo Estado”, ressalta María Corina. (Continue lendo o texto)
1/61 Membro da Polícia Nacional Bolivariana carrega uma bandeira da Venezuela durante manifestação pelo aniversário da prisão do líder da oposição Leopoldo López em Caracas - 18/02/2015 (Miguel Gutiérrez/EFE)
2/61 Membros da Polícia Nacional Bolivariana retiram barricadas durante manifestação pelo aniversário da prisão do líder da oposição Leopoldo López em Caracas - 18/02/2015 (Miguel Gutiérrez/EFE)
3/61 Lilian Tintori (c), esposa do líder da oposição, Leopoldo López, participa das manifestações pelo aniversário de um ano de prisão de seu marido, em Caracas - 18/02/2015 (Manaure Quintero/EFE)
4/61 Estudante é detido pela Guarda Nacional Venezuelana durante protesto anti-governo em Caracas (Juan Barreto/AFP/VEJA)
5/61 Manifestantes anti-governo protestam após a destruição de um acampamento por autoridades venezuelanas em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
6/61 Polícia entra em confronto com estudantes durante protesto contra o governo de Nicolás Maduro, depois que autoridades venezuelanas destruíram um acampamento de manifestantes em Caracas (Juan Barreto/AFP/VEJA)
7/61 O acampamento de manifestantes anti-governo foi desmantelado pela Guarda Nacional Venezuelana em frente à sede da ONU, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
8/61 Polícia entra em confronto com estudantes durante protesto contra o governo de Nicolás Maduro, depois que autoridades venezuelanas destruíram um acampamento de manifestantes em Caracas (Juan Barreto/AFP/VEJA)
9/61 O acampamento de manifestantes anti-governo foi desmantelado pela Guarda Nacional Venezuelana em frente à sede da ONU, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
10/61 Membros da Guarda Nacional Venezuelana reagem após serem atingidos por um coquetel molotov jogado por estudantes durante confrontos na Universidade Metropolitana de Caracas (Christian Veron/Reuters/VEJA)
11/61 Membros da Guarda Nacional desmantelam acampamento de estudantes em frente à sede da ONU, em Caracas (Carlos Becerra/AFP/VEJA)
12/61 Manifestante queima foto do ex-presidente Hugo Chávez em Caracas (Reuters/VEJA)
13/61 Estudante venezuelano usa escudo da polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014) (Leo Ramirez/AFP/VEJA)
14/61 Estudantes venezuelanos entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014) (Leo Ramirez/AFP/VEJA)
15/61 Estudantes venezuelanos entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014) (Juan Barreto/AFP/VEJA)
16/61 Estudantes venezuelanos caminham em meio a bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014) (Leo Ramirez/AFP/VEJA)
17/61 Estudantes venezuelanos entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014) (Leo Ramirez/AFP/VEJA)
18/61 Manifestantes da oposição entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (05/03/2014) (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
19/61 Manifestante da oposição segura um boneco do presidente Nicolás Maduro durante protesto em Caracas - (05/03/2014) (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
20/61 Manifestantes da oposição entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (05/03/2014) (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
21/61 Mulher carrega um retrato de Hugo Chávez durante parada militar em homenagem ao aniversário de morte do ex-presidente venezuelano (Jorge Silva/Reuters/VEJA)
22/61 Uma militar e uma moradora do bairro de 23 de Enero, em Caracas fazem orações no aniversário de morte de Hugo Chávez (Tomas Bravo/Reuters/VEJA)
23/61 Homem enfrenta a Guarda Nacional Bolivariana durante protesto na Venezuela, nesta quinta-feira (27) (Miguel Gutiérrez/EFE/VEJA)
24/61 Manifestantes participam de um protesto contra o governo de Nicolás Maduro nesta quinta-feira (27), em Caracas, na Venezuela (Juan Barreto/AFP/VEJA)
25/61 Manifestantes entram em confronto contra membros da guarda nacional durante um protesto contra o governo de Nicolás Maduro nesta quinta-feira (27), em Caracas, na Venezuela (Tomas Bravo/Reuters/VEJA)
26/61 Manifestante segura um cartaz em frente a policiais da guarda nacional em frente a embaixada de Cuba em Caracas, na Venezuela - 25/02/2014 (Jorge Silva/Reuters/VEJA)
27/61 Manifestante bate em panela durante protesto contra o governo de Nicolás Maduro, na Venzuela - 25/02/2014 (Luis Robayo/AFP/VEJA)
28/61 Manifestante em frente aos policiais da guarda nacional, durante protesto em San Cristóbal, na Venezuela - 21/02/2014 (Orlando Parada/AFP/VEJA)
29/61 Cartaz do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, com a palavra Ditador é visto em um muro de Caracas, na Venezuela (Tomas Bravo/Reuters/VEJA)
30/61 Manifestantes contra o governo venezuelano na Praça Altamira, em Caracas (Reuters/VEJA)
31/61 Placa com a frase: "Irmão, não atire. Você também é uma vítima deste governo" durante protestos em Caracas (Reuters/VEJA)
32/61 Partidários do líder da oposição, Leopoldo Lopez, durante um comício para promover a paz em Caracas (Reuters/VEJA)
33/61 Milhares de manifestantes participam de um protesto convocado pelo líder da oposição venezuelana Leopoldo Lopez, em Caracas - (18/02/2014) (Miguel Gutierrez/EFE/VEJA)
34/61 Leopoldo Lopez, um dos líder da oposição ao governo de Nicolás Maduro, é escoltado pela Guarda Nacional depois de se entregar, durante uma manifestação em Caracas (Juan Barreto/AFP/VEJA)
35/61 Milhares de manifestantes participam de um protesto convocado pelo líder da oposição venezuelana Leopoldo Lopez, em Caracas - (18/02/2014) (Santi Donaire/EFE/VEJA)
36/61 Manifestante da oposição se coloca em frente a uma barreira policial durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
37/61 Manifestante de oposição segura uma bandeira da Venezuela, durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
38/61 Estudantes saíram ás ruas durante protesto anti-governo em Caracas - (17/02/2014) (Santi Donaire/EFE/VEJA)
39/61 Estudantes sentam na rua sobre a frase A censura é ditadura, durante um protesto anti-governo em Caracas - (17/02/2014) (Juan Barreto/AFP/VEJA)
40/61 Manifestante com a bandeira da Venezuela em frente a um bloqueio de policiais durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas - (17/02/2014) (Santi Donaire/EFE/VEJA)
41/61 Manifestantes da oposição seguram cartazes em frente a um bloqueio de policiais durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas - (17/02/2014) (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
42/61 Manifestantes da oposição durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas - (17/02/2014) (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
43/61 Manifestantes da oposição durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas - (16/02/2014) (Miguel Gutiérrez/EFE/VEJA)
44/61 Manifestantes protestam contra o governo do presidente Nicolás Maduro neste domingo (16) em Caracas, Venezuela (Christian Veron/Reuters/VEJA)
45/61 Manifestante com uma bandeira venezuelana durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, passa em frente a um grupo de policiais em Caracas (Jorge Silva/Reuters/VEJA)
46/61 Estudante Bassil DaCosta ferido a tiros durante um protesto da oposição contra o governo do presidente, Nicolas Maduro, em Caracas, na Venezuela (Manaure Quintero/AFP/VEJA)
47/61 Estudante ferido com um tiro na cabeça é levado por outros manifestantes para o interior de um veículo da polícia em Caracas, Venezuela (Alejandro Cegarra/AP/VEJA)
48/61 Manifestantes enfrentam a polícia durante protestos da oposição contra o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em Caracas (Juan Barreto/AFP/VEJA)
49/61 Manifestante fica deitado no chão, enquanto membros da Guarda Nacional se preparam para atirar durante um protesto da oposição contra o governo do presidente, Nicolás Maduro, em Caracas (Leo Ramirez/AFP/VEJA)
50/61 Manifestante usa um estilingue para atigir a polícia durante protesto contra o governo de Nicolás Maduro, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
51/61 Manifestação contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, em Caracas (Reuters/VEJA)
52/61 Manifestante pula por cima de cordão de policiais em Caracas durante protesto contra o governo Maduro (Reuters/VEJA)
53/61 Manifestação contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, em Caracas (Reuters/VEJA)
54/61 Policiais prendem manifestante em Caracas (Reuters/VEJA)
55/61 Homem é socorrido em manifestação contra o governo da Venezuela (AFP/VEJA)
56/61 Manifestante joga pedra durante protesto contra o governo da Venezuela (AFP/VEJA)
57/61 Manifestação contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, em Caracas (Reuters/VEJA)
58/61 Homem é ferido durante em protesto contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, em Caracas (AFP/VEJA)
59/61 Manifestante é preso por policiais à paisana em Caracas (Reuters/VEJA)
60/61 Viatura da Polícia Cientifica são queimadas durante protesto em Caracas
(AFP/VEJA)
61/61 O opositor Leopoldo López é colocado dentro de veículo da Guarda Nacional depois de se entregar à polícia em Caracas, na Venezuela (Jorge Silva/Reuters/VEJA)
A agência de notícias estatal afirmou, nesta quarta-feira, que cinco funcionários da Sebin foram detidos por suspeita de envolvimento com a morte de duas pessoas no dia 12 de fevereiro, em Caracas. Uma das vítimas foi o estudante de 24 anos Bassil Alejandro Dacosta, atingido por um tiro na cabeça. A outra foi Juan Montoya, membro de uma milícia paramilitar que também fazia parte do corpo policial de Caracas. Ele estava à paisana e foi atingido por dois tiros, um na cabeça e outro no peito.
O presidente Nicolás Maduro afirmou, dias depois da morte dos dois, que integrantes da polícia política havia desobedecido uma ordem de permanecer nos quartéis e atuado por conta própria nos protestos. A tentativa de isolar o caso se choca com a realidade do endurecimento da repressão aos estudantes e à oposição com o uso de milícias para atacar os estudantes. Os homens armados que atiram nos jovens e se deslocam em motos não agem sem o aval da cúpula chavista.
Papa Francisco – Nesta quarta, o papa Francisco pediu “perdão recíproco e diálogo sincero” na Venezuela. Dizendo-se “particularmente preocupado” com a situação no país, o pontífice fez um chamado aos políticos para quem tomem a iniciativa de acalmar a nação. “Eu espero sinceramente que a violência e a hostilidade terminem tão logo quanto possível e que o povo venezuelano, a começar com as instituições e políticos responsáveis, atue para forjar a reconciliação nacional por meio do perdão mútuo e diálogo sincero”. As discussões têm de ser baseadas na “verdade e justiça”, acrescentou Francisco, e ser capazes de enfrentar “questões concretas para o bem comum”.
Na capital, Caracas, houve novas manifestações nesta quarta. Mulheres partidárias da oposição saíram às ruas vestidas de branco para uma passeata silenciosa até a base da Guarda Nacional. Elas levavam fotos de vítimas dos protestos. “Vocês podem desobedecer a ordens ilegais. Vocês podem refutar um superior se ele os forçar a cometer um crime… não manchem a honra de sua família”, disseram, em uma carta aberta aos soldados.
Também em Caracas, agricultores seguiram numa marcha até o palácio presidencial para expressar apoio a Maduro. Vestidos de vermelho, a cor do governista PSUV, eles ocuparam o centro da cidade sob o slogan “semeando paz e colhendo vida”.
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