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Carlos Ghosn: fuga cinematográfica

Responsável pela fusão Renault-Nissan, empresário deixa o Japão, onde seria julgado por desmandos financeiros, rumo ao Líbano — de onde não será extraditado

Por Ernesto Neves Atualizado em 3 jan 2020, 10h28 - Publicado em 3 jan 2020, 06h00

Em um roteiro de deixar os produtores de Hollywood no chinelo, o ex-­presidente da Renault-Nissan Carlos Ghosn protagonizou uma fuga (quase) impossível de Tóquio, onde vivia sob vigilância policial e recebia assistência do consulado brasileiro, para Beirute. Nascido no Brasil e cidadão também do Líbano e da França, Ghosn enfrentaria nos próximos meses um complexo julgamento por desmandos financeiros no Japão. Sua empreitada ainda é uma obra aberta, mas deixou as autoridades nipônicas estupefatas, gerou atritos diplomáticos, disparou uma ordem de captura internacional e levou à prisão supostos cúmplices. Também suscitou a tese, descartada por pessoas próximas ao empresário, de que teria sido transportado em uma caixa de instrumento musical.

Fato conhecido é que Ghosn contratou uma firma de segurança para ajudá-lo a driblar o cerco policial para chegar ao aeroporto de Osaka, onde embarcou em jato privado para a Turquia. Dois escorregões da Justiça do Japão facilitaram a empreitada: o empresário não portava tornozeleira eletrônica desde que pagou fiança equivalente a 36 milhões de reais para aguardar o julgamento em liberdade, e foi autorizado a manter um de seus dois passaportes franceses em um cofre, enquanto o outro, o brasileiro e o libanês foram confiscados.

Ghosn fora preso em 2018, acusado de não declarar ao Fisco japonês o equivalente a 167 milhões de reais recebidos entre 2010 e 2015 e de ter causado um rombo nas finanças da Nissan. Seu advogado, Takashi Takano, alega que o empresário foi “vítima de um complô do governo japonês com altos executivos” da empresa. A VEJA, sua mulher, Carole Ghosn, afirmou que o marido foi submetido a 130 dias na solitária sem acusação formal. “Agora estou no Líbano e não vou mais ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento em que se presume culpa, em que direitos humanos básicos são negados. Não fugi da Justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política”, disse ao desembarcar em Beirute. Na quinta-­feira 2, ele assegurou ter planejado tudo sozinho.

O rastro de sua escapada, porém, causa dissabores. A rápida escala em um aeroporto exclusivo para cargas, em Istambul, levou à prisão de quatro pilotos e funcionários de duas empresas de transporte, numa indicação de passagem por terra da Turquia para o Líbano. Na terra natal de seus pais, Ghosn aparentemente goza de segurança, apesar do pedido de prisão entregue pela Interpol ao Ministério da Justiça libanês. Beirute não tem acordos de extradição com Tóquio, e o empresário foi logo recebido pelo presidente do país, Michel Aoun. O risco de deportação tenderia a ser nulo também se ele tivesse optado pela França ou mesmo pelo Brasil. “Essa é a regra do jogo”, avisou a secretária de Estado francesa da Economia, Agnès Pannier-Runacher. Fingindo-­se de morto no episódio, o governo brasileiro não teria justificativas para entregar Ghosn a Tóquio se ele tivesse desembarcado no país. Esquivar-­se de um imbróglio com o Japão, porém, é presente de ano-novo que não tem preço para o Itamaraty.

Publicado em VEJA de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668

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