Enrique Rubio.
Cairo, 26 mai (EFE).- Os dois candidatos à presidência do Egito, o islamita Mohammed Mursi e o general reformado Ahmed Shafiq, desfraldaram neste sábado a bandeira da revolução e pediram unidade aos egípcios, antes de um segundo turno que se apresenta ainda menos conciliador.
Apesar de Shafiq ter proclamado unilateralmente que será o rival de Mursi na reta final, o terceiro colocado, o esquerdista Hamdin Sabahi, prometeu continuar na corrida presidencial e anunciou que impugnará os resultados para suspender o processo eleitoral e impedir a divulgação dos resultados definitivos.
Em entrevista coletiva, Shafiq, último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, não deixou de cortejar todos seus inimigos mais encarniçados, como os jovens do Movimento 6 de Abril – que lideraram os protestos da Praça Tahrir – e os torcedores dos clubes de futebol, vanguarda da resistência à Junta Militar.
O militar se apresentou como defensor da revolução, apesar de ter sido obrigado a renunciar semanas depois da queda de Mubarak, e lançou uma chamada à juventude do país, a quem prometeu ‘devolver o fruto da revolução’.
Além disso, se comprometeu a não devolver o país ao antigo regime. ‘O Egito mudou e não há inimizades com ninguém. Estendo minha mão a todos’, salientou.
Sua oferta foi rejeitada imediatamente por um dos aludidos, o Movimento 6 de Abril, cujo dirigente Ahmed Maher assegurou que ‘sob nenhum conceito’ apoiarão Shafiq, e que já iniciaram os contatos com os Irmãos Muçulmanos para garantir uma participação em massa.
Por outro lado, a entidade islamita iniciou também suas manobras para assegurar o respaldo dos candidatos derrotados ligados à revolução, com pouco sucesso por enquanto.
O terceiro e o quarto candidatos mais votados, Sabahi e o islamita Abde Moneim Abul Futuh, não participaram da reunião convocada esta tarde para ‘salvar a revolução dos ‘fulul’ (remanescentes do antigo regime)’.
Segundo explicou à Efe Anad Hamdi, coordenador da campanha do nasserista Sabahi, sua equipe apresentará amanhã um recurso à Comissão Eleitoral Suprema para suspender o segundo turno, previsto para os próximos dias 16 e 17 de junho, devido às infrações registradas na votação.
Da mesma forma, Sabahi instará à comissão a esperar a decisão do Tribunal Constitucional sobre a aplicação da Lei de Isolamento Político, que impede os ex-altos cargos do regime de Hosni Mubarak de apresentar-se às eleições presidenciais.
Shafiq já esteve a ponto de ser excluído do pleito no último dia 24 de abril após ter sua candidatura impugnada pela Comissão Eleitoral, que, apenas dois dias depois, recuou e revogou sua decisão.
Também não participou da reunião com os Irmãos Mulçumanos Abul Futuh, que pediu para esperar até a divulgação dos resultados oficiais, o que deve acontecer na próxima terça-feira.
Apesar de tudo, Mursi já começou a colher apoios como o do ex-primeiro-ministro da transição, Essam Sharaf, que destacou através do Facebook que no segundo turno ‘está em jogo a sobrevivência da revolução’ devido à presença de Shafiq.
Em qualquer caso, apesar dos pedidos de unidade dos candidatos, o perfil marcadamente divisório de ambos candidatos prepara o terreno para uma campanha ainda mais encarniçada entre dois políticos que dizem defender a revolução.
Os revolucionários de Tahrir, enquanto isso, choram diante daquilo que qualificaram como ‘o pior cenário possível’. EFE