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Um repórter iraquiano chamou o presidente dos EUA, George W. Bush, de “cachorro” em árabe e atirou seus sapatos contra ele neste domingo, durante uma entrevista coletiva em Bagdá.
Seguranças iraquianos e agentes do serviço secreto americano dominaram o homem e o retiraram da sala onde Bush dava entrevista ao lado do primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki.
Os sapatos passaram a cerca de 4,5 metros do alvo. Um deles passou sobre a cabeça de Bush, que estava em pé ao lado de Maliki, e se chocou contra a parede atrás deles. Bush sorriu de forma desconfortável e Maliki pareceu tenso.
“Isso não me incomoda,” disse Bush, pedindo calma a todos os presentes, enquanto a desordem tomava conta da sala. Indagado sobre o incidente logo depois, Bush não quis dar importância ao incidente. “Não me senti nem um pouco ameaçado”, afirmou. Outros jornalistas iraquianos se desculparam pelo feito do colega, um jornalista televisivo.
Despedida manchada – Bush chegou ao Iraque neste domingo, numa visita surpresa poucas semanas antes de entregar o comando da guerra a um sucessor que prometeu pôr fim a ela – Barack Obama, que assume a presidência em 20 de janeiro. A visita coincide com novas revelações sobre os erros da incursão americana no Iraque. Justamente neste domingo, o jornal americano The New York Times antecipou um relatório federal mostrando que o processo de reconstrução do país foi um grande fracasso e o Pentágono chegou a “maquiar” os progressos.
O Air Force One, o avião presidencial, aterrissou no Aeroporto Internacional de Bagdá à tarde (horário local), depois de uma partida em segredo de Washington e um vôo de 11 horas. Bush se reuniu com dirigentes iraquianos, entre eles Maliki, para reafirmar o recente acordo de segurança entre os EUA e o Iraque. O conselheiro de Segurança Nacional americano, Stephen Hadley, afirmou que a visita “mostra que caminhamos para uma relação diferente, com os iraquianos exercendo mais soberania e nós desempenhando um papel cada vez mais subordinado”.
A imagem de sucesso buscada pelo governo Bush no Iraque foi manchada pela reportagem do New York Times, que revelou conclusões do relatório do inspetor-geral para a reconstrução do país, Stuart Bowen. O jornal diz ter obtido duas cópias de fontes oficiais. Segundo o documento, intitulado “Duras lições: a experiência da reconstrução iraquiana”, as divergências entre as agências governamentais americanas, a ignorância de aspectos básicos da sociedade e da infra-estrutura do Iraque e a falta de segurança no país levaram ao fracasso da missão de reconstrução iniciada depois da invasão de 2003.
O relatório diz que, quando os números da reconstrução deixaram de mostrar avanços, especialmente na reestruturação do Exército e da Polícia iraquianos, o Pentágono inflou dados para mostrar progresso. Citando como fonte o ex-secretário de Estado Colin Powell, o documento afirma que, nos meses posteriores à invasão, o Pentágono “continuou inventando números das forças de segurança iraquianas, números que podem ter aumentado em 20 mil por semana. Agora temos 80 mil, agora temos 100.000, agora temos 120.000”.
A denúncia de que o Pentágono inflou os números é endossada pelo ex-comandante das tropas no Iraque Ricardo Sánchez e pelo administrador civil do país antes da criação em 2004 do novo governo iraquiano, Paul Bremer.
O relatório conclui que, cinco anos depois de iniciar seu maior projeto de reconstrução no exterior desde o Plano Marshall na Europa, no final da Segunda Guerra Mundial, os EUA não têm as condições políticas, técnicas e organizacionais necessárias para concretizá-lo.