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Bósnia, um país profundamente dividido 20 anos depois da guerra

Por Da Redação
3 abr 2012, 20h23

Nedim Hasic.

Sarajevo, 3 abr (EFE).- Após 20 anos da disputa mais sangrenta que a Europa viveu desde a Segunda Guerra Mundial, a Bósnia é um país dividido por várias etnias, com pouca capacidade para chegar a um consenso sobre seu passado nem para planejar o futuro.

A guerra na Bósnia durou três anos e envolveu muçulmanos, sérvios e croatas. As duas entidades autônomas que formam o país, a Federação da Bósnia e Herzegovina (dos muçulmanos e croatas), e a República Sérvia, funcionam de maneira independente, assim como vivem os povos que habitam a nação.

As instituições centrais, comuns aos três povos, representam um conjunto de interesses que quase nunca coincidem entre si. Além disso, a falta de cooperação não permite um funcionamento eficaz do estado partilhado.

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‘A guerra é ainda o elemento que domina todos os eventos da sociedade da Bósnia-Herzegovina’, declarou à Agência Efe o analista Sacir Filandra, professor da Faculdade de Ciências Políticas em Sarajevo.

‘Não há uma nova mentalidade nem entendimento na sociedade, vejo isso como o problema crucial. Estamos andando em círculos’, considerou.

Para o futuro, o objetivo declarado das principais estruturas políticas da Bósnia é avançar para ingressar na União Europeia (UE). No entanto, há mais de quatro anos, entre os políticos muçulmanos, sérvios e croatas não há consenso sobre as reformas para a consolidação das instituições centrais que precisam ser feitas para agilizar o processo de integração ao bloco econômico.

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Muitos sérvios preferem manter a ampla autonomia de sua entidade; os muçulmanos defendem a centralização; e os croatas gostariam de criar sua própria federação.

A Bósnia é um dos países mais pobres da Europa e tem um índice de desemprego de 40%. Mesmo assim, os temas sociais são secundários diante de uma agenda política nacionalista.

‘Os temas nacionais são dominantes nas eleições, e todos os demais problemas da vida, como assuntos sociais, desenvolvimento e democracia foram negligenciados’, declarou à Efe o analista Momir Dejanovic, da ONG Centro para uma Política Humana.

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Segundo Dejanovic, poucos consideram que a guerra foi desnecessária, e ‘domina a tendência de justificar o conflito como uma defesa diante das outras etnias’.

‘O ‘outro’ é visto como um perigo do qual é preciso se proteger, de modo que atualmente 90% dos cidadãos dão seu voto aos partidos da etnia que pertencem’, explicou.

Vinte anos depois do conflito, os bósnios, não só os políticos, mas também intelectuais e historiadores, não chegaram a um acordo sobre a data e a origem da guerra.

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O início oficial foi 6 de abril de 1992, quando a UE reconheceu a independência da Bósnia. No mesmo dia, franco-atiradores sérvio-bósnios dispararam contra manifestantes no centro de Sarajevo.

Para os sérvios, o início do conflito foi o ataque realizado por muçulmanos em março daquele ano contra um cortejo nupcial, no qual morreram duas pessoas.

Para os muçulmanos, foram as investidas dos sérvios, que tinham em suas mãos boa parte do armamento do antigo exército iugoslavo, e que assediaram Sarajevo durante toda a guerra.

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O conflito mais longo da história contemporânea custou a vida de quase 11 mil pessoas, entre elas mais de mil crianças. Um das poucas coisas que os povos do país concordam é que a comunidade internacional não reagiu a tempo durante a decomposição da antiga Iugoslávia.

O diretor de teatro Haris Pasovic, de Sarajevo, considera que depois da morte, em 1980, do líder comunista iugoslavo Josip Tito, ‘se intensificaram os processos nacionalistas na Iugoslávia, e com a queda da Cortina de Ferro a necessidade de ter a Iugoslávia como um corredor diplomático entre o leste e o oeste deixou de existir’.

Segundo Pasovic, a impressão de que os EUA não iriam intervir em caso de uma guerra iugoslava encorajou o nacionalismo sérvio, o que foi seguido pelos outros povos da federação.

O analista Dragan Jerinic sustenta que depois da morte de Tito não existia uma pessoa ou instituição que pudesse garantir a estabilidade, e que a introdução do pluripartidarismo abriu caminho para o nacionalismo.

‘Os conflitos entre conceitos nacionais levaram à guerra na Iugoslávia. A mais sangrenta e trágica foi na Bósnia-Herzegovina, porque dentro de suas fronteiras se enfrentavam três comunidades (muçulmanos, sérvios e croatas)’, concluiu Jerinic. EFE

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