Berlusconi recua e coalizão deve sobreviver na Itália
Decisão de apoiar Letta foi anunciada após discurso em que premiê afirmou dissolução do governo teria 'consequências fatais' para o país
O ex-premiê Silvio Berlusconi recuou nesta quarta-feira da ameaça de derrubar a frágil coalizão que governa a Itália e informou ao Senado que seu partido, o Povo da Liberdade (PdL), vai apoiar o primeiro-ministro Enrico Letta, em um voto de confiança. No sábado, Berlusconi ordenou a saída de seus ministros da coalizão governista italiana – o que, na prática, derrubaria o governo de Letta, provocando ainda mais instabilidade na terceira maior economia da Zona do Euro. Nesta quarta, a administração do atual premiê enfrenta uma votação no Senado que deve decidir se a coalizão que está no poder desde abril tem chances de sobreviver.
Berlusconi afirmou que tomou a decisão após ouvir o discurso de Letta, proferido pela manhã, no qual o primeiro-ministro prometeu cortar impostos e realizar reformas econômicas e no Judiciário. Segundo Berlusconi, o partido “decidiu, não sem alguma divisão interna, apoiar o governo”.
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As palavras do ex-premiê foram recebidas com surpresa pelos parlamentares, e, aparentemente, parecem pôr fim à crise política iniciada no sábado, quando Berlusconi pediu para que cinco filiados que serviam como ministros do governo Letta renunciassem, sabotando a coalizão. A ordem do chefe se deu dias antes de o Senado submeter à votação um pedido de cassação do seu mandato por causa de uma condenação por fraude fiscal. A jogada de Berlusconi, que foi vista como vingança ou chantagem contra o governo, acabou sendo criticada até por membros do seu partido, que pediram para que ele recuasse na tentativa de derrubar o governo.
Segundo um alto membro do PdL, pelo menos vinte senadores filiados à sigla de Berlusconi estavam prontos para formar um grupo dissidente caso o bilionário prosseguisse com seu plano de provocar a realização de novas eleições.
Nesta quarta-feira, Enrico Letta advertiu os parlamentares que a eventual dissolução da coalizão que governa o país poderá ter “consequências fatais” para a Itália, que tenta se recuperar da crise econômica. Letta explicitamente pediu para permanecer por pelo menos mais 12 meses no poder, alegando que seu gabinete está “prestes de ser capaz de conduzir importantes reformas institucionais”. Ele também insistiu que os problemas judiciais de Berlusconi – acima de tudo, uma condenação por fraude fiscal que pode bani-lo de cargos públicos – não devem ser misturados com o processo político.
Já a eventual perda do mandato de Berlusconi vai ser analisada pelo Senado na sexta-feira.
(Com Estadão Conteúdo e agências Reuters e France-Presse)