
Quando discursou pela primeira vez como presidente dos Estados Unidos, no dia 20 de janeiro de 2009, Barack Hussein Obama Jr. emocionou milhares de pessoas que estavam à espera de uma guinada na política doméstica e externa americana. O democrata tomou posse em meio à maior crise econômica desde a década de 1930.
A capa de VEJA do dia 21 de janeiro de 2009 estampou a foto de Obama e pontuou os principais dilemas do novo presidente: manter os EUA como potência dominante no século XXI, ou administrar o declínio de uma supremacia que moldou o planeta tal como o conhecemos atualmente.
O nome de Obama aparecera pela primeira vez nas páginas de VEJA em dezembro de 2006. A edição era dedicada à retrospectiva do ano e indicava a ainda tímida formação do cenário para a eleição presidencial americana, marcada para 2008. A senadora Hillary Clinton poderia se tornar a primeira presidente mulher do país, mas antes teria de mostrar serviço dentro de seu próprio partido, onde despontava o jovem e dinâmico senador de Illinois.
Em fevereiro de 2007, mesmo com o favoritismo de Hillary, Obama lançou seu nome na disputa pela candidatura democrata e, a partir daí, ganhou destaque na imprensa internacional. Existiam muitas razões para a especial atenção dada ao senador. Ele era o primeiro candidato negro com chances reais de chegar à Casa Branca e representava o possível frescor político que os americanos pareciam tanto querer.
A corrida pela vaga de candidato democrata já havia começado e, em janeiro de 2008, se computada apenas a quantidade de votos que cada candidato havia recebido no colégio eleitoral, a apuração das duas primárias mostravam empate técnico entre Hillary e Obama. Naquele momento, porém, a sensação ainda era a de que os Estados Unidos conheceriam uma mulher como candidata à presidência.
Um mês depois, VEJA noticiava a vitória de Obama em oito primárias consecutivas e seu salto firme na corrida pela candidatura do Partido Democrata. O placar marcava 1.275 delegados para o senador e 1.220 para Hillary. A vantagem era pequena, mas parecia dar fôlego a Obama.
O sistema de colégio eleitoral pode parecer confuso aos brasileiros, mas os ataques durante as disputas acabam se tornando bastante familiares. Obama era o astro pop da corrida pela presidência, mas perdeu três disputas importantes para Hillary no mês de março. A senadora passou a criticar duramente Obama.
E a lama da corrida eleitoral não ficou apenas a cargo da retórica dos candidatos. No início de junho, VEJA publicou reportagem que mostrava a importância da internet na disputa pela preferência dos eleitores. Obama celebrava suas vitórias mais recentes quando a bomba caiu sem aviso prévio. Um vídeo que circulava pela rede mostrava o pastor de sua igreja fazendo um sermão explosivo: pressionado pela enorme repercussão, Obama rompeu publicamente com o pastor. Hillary comemorava o deslize, quando um vídeo, também divulgado na rede, mostrou a candidata desembarcando serenamente na Bósnia em 1996: as imagens desmentiam o relato dramático feito por ela dias antes, segundo o qual descera do avião debaixo de fogo cruzado.
Em 4 de julho de 2008, Barack Obama se tornou o primeiro negro na história dos Estados Unidos candidato à Casa Branca, após uma disputa acirrada. Em poucas horas, diversos caciques do partido – chamados de superdelegados – foram a público declarar seu apoio. Ao anoitecer, a conta finalmente bateu em 2.118 delegados, e o Partido Democrata já tinha seu candidato.
Na largada da campanha, uma surpresa: Obama, candidato que tinha tudo para dar de goleada, estava patinando para superar o republicano John McCain. A dificuldade do democrata em disparar na preferência do eleitorado, de acordo com cientistas ouvidos por VEJA, era sua inexperiência. Como novato, ele provocava estranhamento e não inspirava a confiança no eleitor, especialmente para tratar de assuntos internacionais.
Durante 21 meses de campanha, o candidato democrata foi incansavelmente testado e provocado por seus oponentes, mas pareceu se sair muito bem. No dia 4 de novembro de 2009, aos 47 anos, foi eleito presidente dos Estados Unidos. Sua vitória reafirmou o poder americano de renovar o país e surpreender o mundo.