Enrique Rubio.
Damasco, 5 fev (EFE).- O regime de Bashar Al Assad depositou sua sorte no cenário internacional nas mãos da Rússia e neste domingo os partidários do presidente sírio saíram a Damasco para agradecer o apoio de Moscou empunhando bandeiras russas.
O veto da Rússia a uma resolução do Conselho de Segurança sobre a Síria foi condenado de forma unânime pelos países árabes e ocidentais, além do próprio secretário-geral da ONU, mas encontrou reconhecimento entre os fiéis ao presidente.
A despeito do crescente isolamento de Damasco, o apoio russo é percebido como a garantia de que a comunidade internacional não atuará com uma só voz na crise síria.
Porém, o fantasma de uma intervenção como a da Líbia paira sobre as ruas da capital.
‘Sabemos que os russos são nossos amigos, e que nunca vão nos deixar cair’, diz à Agência Efe o jovem Ali al Jaafar enquanto agita a bandeira russa pela janela de um carro.
Outros jovens como ele circulam por Damasco com insígnias sírias e fotos de Assad, em um clima de exaltação patriótica que altera a aparente normalidade registrada na capital, com famílias passeando e as lojas abertas.
Os opositores de Assad não escondem que a incapacidade do Conselho de Segurança de atuar de comum acordo é um balde de água fria para suas aspirações.
Como reconhecia à Efe uma simpatizante da oposição que pediu para não ser identificada, embora o bloqueio russo fosse esperado, o fracasso em obter um forte apoio nas Nações Unidas afasta ainda mais o final do conflito.
Segundo Moscou, o projeto de resolução apresentado no sábado no Conselho de Segurança ‘não contemplava as exigências à oposição síria para que renegasse os elementos extremistas que optaram pela violência’.
No entanto, após o veto, a Rússia deverá definir ainda mais sua postura na reunião que na próxima terça-feira manterá em Damasco, que contará com a presença de Assad e seu ministro de Relações Exteriores, Sergey Lavrov, além do chefe do Serviço de Inteligência Exterior, Mikhail Fradkov.
A Síria é um dos poucos aliados estratégicos que restam à Rússia no Oriente Médio, além de ser sua porta ao Mediterrâneo através do porto de Tartus, que cobre a única base naval russa neste mar.
À espera de novidades, os sírios tentam projetar uma sensação de normalidade para os estrangeiros, mas não é preciso ir muito longe para descobrir que a inquietação e o temor de uma guerra civil se encontram em todos os pensamentos.
Ahmed, que se declara partidário do presidente, mede muito seus comentários ao começar a falar. Não em vão, são muitos anos de prática em calcular cada palavra.
‘Na capital tudo está tranquilo. A situação melhorou muito nos últimos dias e tudo está voltando à normalidade’, garante.
Pouco a pouco, reconhece que há certos bairros de maioria sunita na cidade onde a situação não é estável e que na periferia da capital os combates continuam.
Finalmente, concorda que em algumas cidades como Deraa (sul), onde um de seus irmãos se encontra brigando nas fileiras do Exército, a situação está fora de controle e os choques com os rebeldes são registrados em várias ruas.
‘Sofro muito pelo meu irmão. Ele queria retornar hoje a Damasco, mas há postos de controle dos radicais na estrada e não é possível fazê-lo, é perigoso demais’, explica Ahmed.
Apesar de tudo, tem claro que não quer que seu país ‘se transforme em um novo Afeganistão’, onde os radicais islâmicos possam chegar a alcançar o poder em meio à violência.
Para ele, como para muitos sírios, o que acontece em seu país é como um pesadelo.
‘Não posso acreditar que isto esteja ocorrendo na Síria, nós não somos assim’, afirma Ahmed, imerso em um estado de negação ao qual ninguém é alheio em Damasco.
Mas a realidade, apesar dos modernos cafés continuarem abertos na capital, é que a violência não cessa: segundo a oposição ao menos 31 pessoas morreram neste domingo, a maioria na província central de Homs, que se transformou no principal reduto dos rebeldes. EFE