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Autor do plano de fuga de senador da Bolívia será embaixador no Japão

Eduardo Saboya foi perseguido até a queda de Dilma Rousseff, quando voltou ao Itamaraty como chefe de gabinete do chanceler

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 6 jun 2018, 21h05 - Publicado em 6 jun 2018, 18h46

Arquiteto da fuga do ex-senador boliviano Roger Pinto Molina de seu país, em 2013, o diplomata Eduardo Saboya teve sua indicação para a Embaixada do Brasil em Tóquio, no Japão aprovada nesta quarta-feira, 6, pela Comissão de Relações Exteriores do Senado, por 13 votos a 1. A indicação ainda precisa passar pelo plenário da Casa, que tende a acompanhar a decisão da Comissão.

A coragem de Saboya foi ressaltada pelo senador José Agripino (DEM-RN) durante a sabatina realizada na manhã de hoje. “Sua atitude foi de defesa da soberania nacional”, afirmou o parlamentar.

O diplomata era ministro-conselheiro da embaixada brasileira em La Paz quando, em 2012, Molina pediu asilo ao Brasil, alegando perseguição pelo regime de Evo Morales. A proteção foi concedida pelo governo brasileiro, mas o governo brasileiro não obteve da Bolívia o salvo-conduto para o senador sair do país. Por isso, ele permaneceu 454 dias em uma sala de quatro metros quadrados na Embaixada do Brasil em La Paz.

A situação precária do senador foi repetidamente informada por Saboya a seus superiores em Brasília, mas nada ocorreu. Naquela época, a presidente Dilma Rousseff evitava criar um atrito com o governo de Morales, e o Itamaraty seguia a sua orientação. Em estado de saúde mental precário, Molina várias vezes indicou estar propenso ao suicídio. Em agosto de 2013, Eduardo Saboya decidiu agir por conta própria.

Sem pedir autorização de seus superiores do Itamaraty, Saboya mobilizou dois carros com placas diplomáticas para viajar com o senador até o Brasil. Em vários trechos, a comitiva foi parada por policiais. Ao cruzar a fronteira, o grupo foi resgatado por um avião que o então senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) tomara emprestado.

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Molina passou a viver em Brasília, onde fez curso de pilotagem e passou a exercer a nova profissão. Ele morreu em agosto do ano passado, após seu avião cair nas proximidades de Luziânia (GO).

A fuga provocou a fúria da então presidente Dilma Rousseff e foi determinante para a queda do ministro das Relações Exteriores daquela época, Antonio de Aguiar Patriota, hoje embaixador do Brasil em Roma. Dilma Rousseff pressionou a cúpula do Itamaraty a demitir Saboya, que tornou-se alvo de um inquérito administrativo. Ele foi punido com suspensão de 20 dias, por quebra de hierarquia, e não conseguiu nova posição no Ministério até a queda de Rousseff.

O diplomata passou a trabalhar na Comissão de Relações Exteriores do Senado, então presidida por Aloysio Nunes Ferreira. Nesse posto, ele participou de outro episódio de grande visibilidade: a tentativa fracassada de um grupo de senadores de visitar o líder oposicionista Leopoldo López na prisão em que ainda hoje está preso na Venezuela. A comitiva foi barrada na saída do aeroporto por manifestantes favoráveis ao presidente Nicolás Maduro.

Com o fim do governo de Dilma Rousseff, Saboya foi promovido a embaixador. Mas permaneceu no Senado até a posse de Aloysio Nunes Ferreira como ministro das Relações Exteriores, quando tornou-se seu chefe de gabinete. Aprovado para servir como embaixador do Brasil no Japão, Saboya só pretende seguir para lá em 2019, para permanecer no gabinete do chanceler até o final do governo.

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Na sabatina, Saboya disse que uma prioridade à frente da Embaixada no Japão será o apoio à comunidade brasileira no País, mais especificamente os problemas da educação. Filhos de brasileiros que emigram para lá acabam numa espécie de “limbo”, pois não conseguem acompanhar o sistema educacional japonês, mas tampouco têm domínio do português. Saboya disse que esse é um problema que tem solução, mas que exigirá tempo e uma forte articulação com os governos locais.

O diplomata destacou também a necessidade de avançar na construção de um acordo comercial entre o Mercosul e o Japão. Ele informou que o volume de comércio com o Brasil recuou de US$ 17 bilhões anuais para US$ 9 bilhões em 2017, reflexo da crise econômica aqui e da estratégia japonesa de buscar novos acordos comerciais, que acabaram reduzindo o espaço de produtos brasileiros.

A pergunta mais frequente dos senadores foi sobre a tensão geopolítica na região, por causa do avanço da China e do desenvolvimento de armas nucleares pela Coreia do Norte. Saboya comentou que o Japão tem buscado um equilíbrio nas relações com a China. Se por um lado há tensão no campo político, por outro há um enorme volume de negócios entre empresas dos dois países. Segundo avaliou, uma coisa neutraliza a outra.

Já em relação à Coreia do Norte, ele acredita que o Japão “inevitavelmente” participará das negociações para a desmilitarização do país. Ele observou que, se o desenvolvimento de mísseis é motivo de preocupação dos Estados Unidos, mais ainda é para o Japão

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(Com Estadão Conteúdo)

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