Atirador da Noruega afirma ser ‘uma pessoa muito simpática’

Anders Behring Breivik, julgado pelo massacre de 77 pessoas ano passado na Noruega, afirmou nesta sexta-feira que não se trata de um caso psiquiátrico e que, em tempos normais, é uma pessoa simpática, mas que precisou reprimir suas emoções para poder realizar seus ataques.
Impassível desde o início de seu julgamento em relação ao drama das famílias das vítimas, o extremista de direita, 33 anos detalhou como se preparou emocionalmente e mentalmente para executar seus planos.
“Sou uma pessoa muito simpática em uma época normal”, declarou Breivik, antes de afirmar que, a partir de 2006, teve que reprimir suas emoções, especialmente com a prática da meditação, e cortar as relações sociais com o objetivo de preparar-se para cometer os dois ataques de 22 de julho de 2011.
“É necessário desumanizar o inimigo. Se eu não fizesse isso, não conseguiria (realizar o massacre)”, afirmou.
Breivik abriu fogo contra jovens que participavam em um evento político na ilha de Uttoeya e matou 69 pessoas. Horas antes ele detonou uma bomba de quase uma tonelada perto da sede do governo norueguês, que matou oito pessoas.
Nesta sexta-feira, os advogados questionaram a sua apatia aparente e a maneira “fria e técnica” com a qual explicou seus atos.
Seu tom e suas palavras (ele caracterizou os adolescentes mortos de Utoeya como “alvos legítimos”) feriram muitos familiares de vítimas.
Pressionado neste ponto, Breivik disse ser capaz de ter sentimentos, mas se recusou a falar mais porque, segundo ele, impediria o prosseguimento de seu testemunho.
“Eu entraria em um colapso mental, caso removesse os escudos que preparei”, explicou.
“Eu não sou capaz de medir a dor que causei aos outros”, disse. “O dia 22 de julho não gira em torno das famílias das vítimas, nem em torno de mim. O caso gira em torno do futuro da Europa e da Noruega”, acrescentou sob o olhar atento dos psiquiatras oficiais sentados a sua frente.
Breivik recordou com tranquilidade o massacre de Uttoeya, quando matou 69 pessoas.
“Eu levantei minha arma e disparei contra a cabeça dele”, contou, referindo-se a um segurança que trabalhava no acampamento de verão da juventude social-democrata, onde havia basicamente adolescentes.
Algumas pessoas, disse, “estavam se fingindo de mortas, e por isso disparei um tiro de misericórdia”.
Entre suas primeiras vítimas estavam o segurança, um policial à paisana e a chefe do acampamento, Monica Bosei.
Ele assegurou estar “meio aterrorizado”. “Estava verdadeiramente preocupado. Eu não queria fazer aquilo, de verdade”, contou ainda, ao recordar sua chegada à ilha vestido de policial fortemente armado.
A questão da saúde mental do extremista, considerado penalmente irresponsável em um primeiro exame psiquiátrico e responsável em uma segunda análise, é central neste processo que deve durar 10 semanas.
“Não sou um caso psiquiátrico e sou penalmente responsável”, declarou Breivik no quinto dia de seu julgamento em Oslo.
“Quando se vê uma coisa tão extrema é possível pensar que se trata de loucura, mas é necessário diferenciar entre extremismo político e loucura no sentido clínico do termo”, afirmou.
Também afirmou que é uma pessoa “muito simpática”, mas que teve que reprimir suas emoções a partir de 2006 para poder executar os ataques.
Ele afirma estar em guerra contra “as elites que permitem a islamização da Europa” e admitiu os fatos, mas se recusa a afirmar que é culpado.
Em seu relato, Breivik definiu os fatos como “atos horríveis, atos bárbaros” e explicou que pensou em fazer uma “operação suicida” depois de ter esgotado todas as vias pacíficas para promover suas ideias nacionalistas, um fracasso que atribuiu à censura dos meios de comunicação entregues, segundo ele, ao multiculturalismo.
Se for declarado penalmente irresponsável, corre o risco de ser internado pelo resto de sua vida em uma instituição psiquiátrica. Mas, se for responsável, receberá uma pena de 21 anos de prisão, prorrogável pelo tempo que for considerado perigoso.
“Não sou um caso psiquiátrico e sou penalmente responsável”, declarou Breivik, que acredita que um diagnóstico psiquiátrico invalidaria o seu manifesto ideológico de 1.500 páginas difundido no dia dos ataques.
Desde o início de seu julgamento, Breivik demonstrou emoção apenas uma única vez, na segunda-feira, quando a acusação exibiu seu vídeo ideológico. Na ocasião, o acusado chorou depois de ter permanecido impassível ao escutar a leitura dos nomes e causa da morte das 77 vítimas.
“É preciso que me considerem um vendedor. Eu vendo uma mensagem (…) Eu concebo o 22 de julho como uma missão para salvar a Noruega e a Europa”, afirmou nesta sexta-feira.
Breivik explicou que decidiu realizar uma “operação-suicida”, ele achava que iria morrer no dias dos ataques, após ter esgotado “todos os caminhos pacíficos” para promover sua causa nacionalista, um fracasso que atribuiu à censura dos meios de comunicação entregues, segundo ele, ao multiculturalismo.
Também relatou ter se informado na internet sobre a fabricação de bomba e estudado os movimentos revolucionários pelo mundo, como as FARC, ETA e IRA, mas que encontrou mais inspiração na Al-Qaeda.
“A vantagem da Al-Qaeda, é que ela glorifica o martírio”, disse. “Esta é a chave do sucesso para um combate de resistência”, acrescentou.