A violência contra os xiita sacudiu novamente o Iraque nesta sexta-feira em um atentado suicida com carro-bomba contra um cortejo fúnebre que deixou pelo menos 31 mortos, alguns dias depois de a Al-Qaeda ter prometido fazer correr “rios de sangue”.
Pelo menos 31 pessoas, incluindo oito membros dos serviços de segurança e quatro mulheres, foram mortas e 60 ficaram feridas, incluindo 16 agentes das forças de ordem, segundo fontes médicas e do Ministério do Interior.
A explosão ocorreu perto de um hospital no bairro xiita de Zaafaraniya em Bagdá, no momento em que 150 pessoas estavam reunidas para assistir ao enterro de três pessoas. Mohamed al-Maliki, agente imobiliário, sua esposa e seu filho, que circulavam de carro em Bagdá, foram vítimas se homens armados na quinta-feira.
“O terrorista suicida tinha como alvo o cortejo fúnebre das três pessoas mortas ontem”, indicou à AFP no local um policial coberto de poeira, que mora nas proximidades. Ele se aproximou de carro do cortejo funerário e acionou sua carga explosiva, segundo este homem que pediu para não ser identificado.
“Eu estava perto quando um taxi amarelo se aproximou. Houve uma terrível explosão e as pessoas foram jogadas para longe. Eu levei o corpo de uma menina e o de um homem sem cabeça. Uma ambulância com uma pessoa doente dentro dela ficou totalmente queimada”, explica muito nervoso à AFP Imad Rabih, um funcionário municipal de 20 anos.
A praça do mercado, enfeitada com faixas xiitas, ficou cheia de partes de corpos, ossos, roupas e calçados das vítimas.
Mulheres vestidas de negro choravam enquanto os homens tentavam encontrar parentes. Um homem desesperado fala ao telefone celular: “É horrível, meu pai ficou com a cabeça toda ferrada”.
No serviço des emergência, os pais angustiados pedem informações aos enfermeiros: “Não podemos te dizer, temos apenas braços e pernas”. Funcionários de limpeza tentam limpar os corredores ensanguentados.
Para Abu Khassem, de 57 anos, os recentes atentados lembram os terríveis anos da guerra confessional de 2006 e 2007. “É a volta dos domingos, das terças, das sextas de sangue, como acontecia em uma época que eu achava que tivesse terminado. As forças de segurança são responsáveis, porque eram muitos homens e ninguém parou o carro”, disse.
Dois helicópteros iraquianos sobrevoam o local. Nas ruas, alguns insultam os “terroristas, animais que matam civis”.
Este foi o ataque mais violento desde 14 de janeiro, quando um suicida detonou a bomba que carregava consigo em meio a peregrinos xiitas no sul do Iraque, matando 53 pessoas.
Depois da saída dos americanos em meados de dezembro, os atentados contra os xiitas se intensificaram e o Iraque mergulhou em uma grave crise política entre o primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki e o bloco Iraqiya, apoiado pelos sunitas.
Os recentes ataques ilustram a retomada das tensões confessionais no país. O site jihadista Honein ameaçou os xiitas recentemente.
“Os ataques violentos contra os Rawafid (infiéis, nome dado aos xiitas pelos extremistas sunitas) vão ser mantidos”, escreveu esta semana o Estado Islâmico do Iraque, que reúne grupos ligados à Al-Qaeda, reivindicando um atentado contra peregrinos cometido há um mês.
“Os leões do Estado islâmico do Iraque não vão interromper suas operações enquanto o governo safávida (nome de uma dinastia iraniana, referindo-se ao atual governo iraquiano de maioria xiita, considerado subserviente ao Irã) permanecerá no poder e vamos correr rios de sangue”, acrescentou.