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Ataques ao papa são reações às aberturas que promoveu, dizem apoiadores

Aliados rejeitam a tese de que Francisco sabia dos abusos cometidos pelo cardeal McCarrick, em Washington

Por Denise Chrispim Marin
Atualizado em 19 set 2018, 13h04 - Publicado em 28 ago 2018, 21h44

Simpatizantes do papa Francisco saíram em sua defesa depois das acusações do arcebispo aposentado Carlos Maria Vigano de que o pontífice estava ciente do abuso sexual a menores pelo cardeal Theodore McCarrick, a autoridade da Igreja em Washington, nos Estados Unidos.

O cardeal Joseph Tobin e outros aliados do papa alegam que as acusações de Vigano têm o objetivo de abrir caminho para que um papa conservador seja seu sucessor e reverta as recentes aberturas do Vaticano para divórcios e católicos homossexuais.

Segundo Tobin, da cidade americana de Newark, o comunicado de 11 páginas escrito por Vigano está repleto de “erros factuais, insinuações e ideologia assustadora”. Seria, portanto, parte de uma estratégia ideológica anti-Francisco.

Ambos lados se preparam para uma possível batalha em torno da busca de Francisco por uma Igreja mais inclusiva.

Apoiadores de Vigano na Itália e no exterior elogiaram o ex-núncio apostólico em Washington por ter seguido sua consciência. Em seu comunicado, Vigano, pediu para Francisco renunciar porque o papa sabia há anos de atos sexuais impróprios cometidos por cardeais norte-americanos e não fez nada para impedi-los.

Vigano afirmou ter informado o próprio Francisco sobre o assunto há cinco anos – três meses depois de sua escolha como papa. O arcebispo não incluiu documentos para apoiar sua denúncia e não esteve disponível para comentários desde a publicação.

Em seu voo de volta da Irlanda no domingo (26), Francisco disse a repórteres que não iria “dizer uma palavra” sobre as acusações. “Leiam os documentos cuidadosamente e julguem por si mesmos”, disse.

“Vigano é um eclesiástico leal… Se ele está fazendo estas acusações agora e está pedindo a renúncia de Francisco, é pelas razões mais graves”, disse em email George Weigel, acadêmico sênior em estudos católicos no Centro de Políticas Públicas e Ética em Washington.

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Conservadores basearam anteriormente seus ataques contra o papa em razões de doutrina. Agora, dizem seus apoiadores, eles elevaram suas apostas ao acusarem o papa e outras autoridades do Vaticano e da Igreja de fracassaram pessoalmente em agir em casos de condutas sexuais impróprias.

O comunicado de Vigano, assinado em 22 de agosto, foi divulgado quatro dias depois por veículos católicos conservadores durante a viagem do papa à Irlanda, onde abusos sexuais foram um tema central.

“Parece uma ação óbvia de conservadores para deslegitimar Francisco”, disse David Gibson, diretor do Centro de Religião e Cultura da Universidade Fordham, em Nova York. “Esta coisa toda foi cautelosamente coordenada com a mídia católica conservadora e cuidadosamente cronometrada.”

Gibson disse acreditar que conservadores estão abrindo caminho para que um deles seja eleito como o próximo papa ao danificar o legado de Francisco antes de ele morrer ou renunciar. “É o começo da campanha para o próximo conclave”, disse.

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O comunicado de Vigano foi coescrito e editado pelo jornalista italiano Marco Tosatti, que publica um blog diário chamado Stilum Curie, de orientação crítica a Francisco.

Pensilvânia

O procurador-geral da Pensilvânia, Josh Shapiro, declarou nesta terça-feira (28) que o Vaticano tinha conhecimento dos casos acobertados de abusos sexuais de crianças cometidos por padres católicos no estado por meio de documentos secretos que os bispos locais compartilharam com líderes da Igreja em Roma.

Embora bispos católicos na Pensilvânia tenham sistematicamente negado abusos sexuais de milhares de crianças durante um período de setenta anos, eles documentaram secretamente os casos e frequentemente enviaram informações ao Vaticano, disse Shapiro a dois noticiários nacionais.

Shapiro fez pela primeira vez acusações contra o Vaticano durante uma entrevista coletiva em 14 de agosto, quando revelou o relatório de uma investigação de dois anos sobre como os sacerdotes católicos no Estado teriam abusado de mais de 1.000 crianças.

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As acusações foram amplamente baseadas em documentos de arquivos mantidos pelas seis dioceses do Estado, segundo Shapiro. “Há exemplos específicos de que o Vaticano sabia destes abusos e que estava envolvido no acobertamento”, disse.

Shapiro não comentou se o papa Francisco ou seus antecessores sabiam das informações.

O Conselho Nacional de Revisão da Conferência de Bispos Católicos dos EUA, em comunicado emitido nesta terça-feira nas redes sociais, informou que o relatório mostrou que a “cultura do silêncio” em torno de abusos sexuais de menores chegou ao “nível mais alto da hierarquia” da Igreja Católica, exigindo mudanças, especialmente entre bispos.

“Culpar bispos irá exigir uma revisão independente das ações deles quando uma acusação vier à tona”, disse o conselho, que foi montado em 2002 para aconselhar a conferência sobre como impedir abusos sexuais de crianças na Igreja.

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O diretor de imprensa do Vaticano, Greg Burke, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre as acusações de Shapiro.

O procurador-geral disse que o relatório é o mais abrangente sobre abusos sexuais cometidos por clérigos católicos na história dos EUA, quase duas décadas após a revelação de amplos abusos e acobertamentos em Boston, que abalou a Igreja Católica Romana.

Nos meses recentes, o papa Francisco aceitou as renúncias de bispos chilenos em um escândalo de abusos sexuais que atormentou o país, apoiou o julgamento de um arcebispo australiano pela Justiça comum e penalizou o cardeal Theodore McCarrick pelo seu crime. 

(Com Reuters)

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