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As balanças enlouqueceram, conta brasileiro

Professor de karatê brasileiro relata como o abalo começou na segunda maior colônia brasileira, Hamamatsu shi

Por Aline Erthal
11 mar 2011, 16h27

O chefe olhou para mim e arregalou os olhos puxados: “joshin” ( terremoto ), gritou ele, com ar de espanto. Foi nesse momento que começamos a ter uma sensação de tontura, como se estivéssemos em um barco em alto mar, sobre ondas fortes. O corpo ia de um lado para o outro e uma ânsia de vômito se espalhou entre todos nós.

O professor de karatê brasileiro Daniel Verissimo Pinto, morador de Hamamatsu shi, em depoimento ao site de VEJA, relatou os primeiros sinais do terremoto. Conhecido como “Daniel Samurai”, ele tem usado a internet e as redes sociais para se comunicar com parentes no Brasil e com amigos no Japão. Com o congestionamento da telefonia tradicional, a rede tem sido o melhor canal de comunicação:

“Moro em Hamamtsu shi , segunda maior colônia de brasileiros residentes no Japão. Os tremores aqui foram fracos, pois estamos distantes do epicentro do terremoto. O abalo, no entanto, foi o bastante para deixar todos os ‘gaijins’ ( estrangeiros) em estado de alerta.

No momento do tremor inicial, eu estava na fábrica onde trabalho. A cena foi digna de um filme de suspense. Não tivemos dano material, felizmente. Percebemos o terremoto – pasmem! – através das balanças que usamos para pesar as caixas com peças que enviamos para a exportação. Primeiro, foi a balança da minha linha de embalagem que enlouqueceu, oscilando o peso da caixa. Depois, todas as balanças do nosso setor apresentaram o mesmo problema. Resolvemos chamar o chefe para saber o que estava acontecendo.

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Logo que ele examinou o mostrador, o chefe olhou para mim e arregalou os olhos puxados: “joshin” ( terremoto ), gritou ele, com ar de espanto. Foi nesse momento que começamos a ter uma sensação de tontura, como se estivéssemos em um barco em alto mar, sobre ondas fortes. O corpo ia de um lado para o outro e uma ânsia de vômito se espalhou entre todos nós.

Não acreditei no que ele falou e achei que era algum tipo de expressão japonesa, mesmo sabendo o que significava a palavra. Foi neste momento que alguns lustres do setor começaram a balançar e os outros colegas falaram em terremoto. Eu ‘travei’. Fiquei sem saber o que fazer. O chefe pediu calma , mas o tremor estava durando mais que o normal. Então paramos as linhas de produção, acionando o botão de emergência, e seguimos curtos passos para o pátio da fábrica, o lugar mais seguro.

Cerca de 30 segundos depois, o tremor parou, mas a tensão continuava. Voltamos para o barracão, a maioria com os celulares na mão, tentando entrar em contato com os familiares e procurando informações sobre o que estava acontecendo.

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Às 15h tivemos o ‘kyuke’ (hora de descanso de 10 minutos comum nas fabricas do Japão), e as linhas telefônicas ficaram congestionadas. Ninguém conseguia falar com os parentes e as noticias que obtínhamos vinham das TV dos celulares japoneses, do Twitter e do Facebook. A TV japonesa dava as primeiras imagens e detalhes, o que nos deixava ainda mais tensos e preocupados.

Continuamos o trabalho, mas a cada minuto tínhamos mais informações sobre o terremoto. Por volta das 15h30, outro desajuste nas balanças. Desta vez não consultamos o chefe, corremos novamente em direção ao pátio. O novo tremor (menor que o primeiro) parou antes que nós chegássemos ao local de segurança.

Depois disto a tensão era visível e a vontade de voltar para casa e saber sobre os familiares era enorme. Graças ao bom Deus todos estavam bem. Até mesmo os que moram perto da área marítima – Hamamatsu fica na costa do Japão. Nosso segundo pesadelo começou, com o medo de tsunamis.”

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