Argentina e Uruguai revivem conflito das ‘papeleras’
Buenos Aires ameaça levar caso novamente para corte internacional caso autorização para aumento de produção em unidade não seja revertida

A decisão do Uruguai de autorizar o aumento de produção de uma fábrica de celulose na fronteira com a Argentina desencadeou uma nova queda de braço entre os dois países, revivendo um conflito que se arrasta desde o início dos anos 2000, quando surgiram os projetos de construção de papeleiras no Uruguai. Na mais recente desavença, o argumento do governo argentino continua sendo acusar a companhia finlandesa UPM (ex Botnia) de contaminar o Rio Uruguai. E o país ameaça recorrer novamente à Corte Internacional de Haia se o país vizinho não recuar da decisão de permitir o aumento da produção.
Entenda o caso
- • O governo uruguaio autorizou em 2005 a construção da fábrica da Botnia em Fray Bentos, cidade no oeste do país, às margens do rio Uruguai.
- • Em 2006, o governo argentino levou o caso para Corte Internacional de Justiça, em Haia, argumentando que o Uruguai havia descumprido o Tratado do Rio Uruguai ao autorizar a instalação da fábrica sem consultar o país vizinho.
- • Em protesto contra a fábrica, manifestantes da cidade argentina de Gualeguaychú, que fica na outra margem, bloqueiam a ponte binacional General San Martín em novembro de 2006. A ponte só foi reaberta em junho de 2010.
- • No mesmo ano, o tribunal internacional afirmou que o Uruguai violou pontos do tratado, mas permitiu que a fábrica continuasse em funcionamento, por não ter encontrado provas de contaminação. Também recomendou a criação de mecanismos de controle.
Um ultimato apresentado pela Argentina nesta terça-feira foi rechaçado por Montevidéu, que nega a contaminação. O governo argentino exigia que a permissão para a UPM produzir mais 100 000 toneladas por ano deixasse imediatamente de ter efeito, mas Montevidéu respondeu dizendo ter seguido suas obrigações internacionais e ressaltou que a Argentina foi notificada sobre o aumento de produção “nos prazos previstos”. A papeleira produz anualmente 1,1 milhão de toneladas de pasta de celulose.
Na última semana, o ministro das relações exteriores da Argentina, Héctor Timerman, já havia classificado o aumento de produção de “ataque à soberania argentina”. Em reposta, o presidente uruguaio José Mujica disse que “ultimatos só podem ser dados por Deus”.
Em 2010, uma decisão do tribunal já havia recusado os pedidos para o desmonte da indústria afirmando que os argentinos não comprovaram que a fábrica era poluidora. A corte, no entanto, também passou uma reprimenda no Uruguai porque o país não teria conduzido negociações com o vizinho.
Aumento – Depois do anúncio do aumento da produção, uma caravana com 4.000 pessoas e 900 carros que havia saído da cidade argentina de Gualeguaychú para protestar contra a decisão foi proibida de entrar no Uruguai. Os manifestantes e o prefeito Juan José Bahillo pretendiam entregar às autoridades da cidade Uruguai de Fray Bentos, onde a fábrica foi construída, uma carta contra a medida.