Aposta americana precisa de um projeto
Desta vez, o ceticismo é alto com relação à paz entre palestinos e israelenses
Sempre que uma administração americana faz um anúncio formal sobre negociações de paz no Oriente Médio, a esperança aumenta – talvez, apenas talvez, eles realmente tenham sucesso. Desta vez, o ceticismo está num dos pontos mais altos e as expectativas são baixas, inclusive para o curto prazo, sem contar o ambicioso objetivo estabelecido por Hillary Clinton de resolver todas as questões-chave do conflito palestino-israelense dentro de um ano.
A declaração da secretária de Estado e de seu enviado especial George Mitchell foi alta nas aspirações e baixa nos detalhes. Quando Mitchell foi questionado sobre o avanço das conversações indiretas de aproximação e em tornar finalmente possível uma retomada das negociações diretas, ele se referiu vagamente aos esforços cumulativos e de que ambos os lados viam a solução dos dois estados como necessária. Em outras palavras, não houve progresso real nas negociações de aproximação e as espinhosas questões permaneceram na mesa, intocadas.
As discussões aparentemente não produziram muito em termos de formato das conversações. Mitchell disse que momento e o local da próxima rodada serão discutidos em Washington durante as reuniões trilaterais em setembro. Ghaith al-Omari, da American Task Force na Palestina (ATFP), disse não esperar avanços nos próximos meses. “A maior parcela da energia americana é direcionada para garantir que as negociações não entrem em colapso, ocorram vazamentos de qualquer lado e não se crie um ambiente ruim”, explicou.
As eleições americanas para o Congresso, em novembro, serão um evento importante para o Partido Democrata, e o presidente Barack Obama quer manter a política tranquila, incluindo o front externo. As negociações diretas também irão ajudar a desanuviar a tensão quando a moratória do governo israelense sobre a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada chegar ao fim, em 26 de novembro.
O inicio das conversações diretas entre israelenses e palestinos é um pequeno passo, com mais forma que conteúdo. Mas poderia ser significativo. O governo Obama espera que a reunião de setembro crie um sentimento de urgência, e também impulsione avanços. “Entrar em negociações políticas tem seu preço, mas quando você está nelas, não pode simplesmente sair”, disse al-Omari, um ex-negociador palestino, sobre os líderes palestinos e israelenses.
Mas, para se criar uma dinâmica sustentável, o governo Obama precisa de um plano, e as autoridades americanas procuram agora, ainda que sem certeza, um jeito de levar isso adiante. “Abandonados à própria sorte, os líderes israelenses e palestinos em visita a Washington não irão avançar”, alertou Daniel Levy, da New America Foundation e ex-negociador israelense. “Foi o governo Obama que insistiu no formato das negociações diretas como o caminho a seguir e a bola agora está em seu campo para produzir resultados.”