Após indulto, Fujimori pede perdão por atos de seu governo
Com 79 anos, ele passou a primeira noite em liberdade hospitalizado na UTI
O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori pediu perdão pelos atos de seu governo na terça-feira, dois dias depois de receber um polêmico indulto do presidente Pedro Pablo Kuczynski. Afirmando que os resultados de seus dez anos no poder (1990-2000) foram bem recebidos por parte da população, ele disse reconhecer que eles também “desapontaram outros compatriotas”. “A eles peço perdão de todo coração” afirmou Fujimori, em um vídeo postado no Facebook.
Durante seu governo, Fujimori fechou o Congresso e intimidou o Judiciário e meios de comunicação. Em sua cruzada contra guerrilhas de esquerda, como o Sendero Luminoso, foi acusado de se associar a esquadrões da morte que matavam indiscriminadamente suspeitos de pertencer aos grupos.
Depois de fugir para o Japão, país do qual possui cidadania, foi detido no Chile e extraditado para o Peru, onde passou a cumprir pena por seu envolvimento em duas chacinas que deixaram 25 civis mortos. Os parentes das vítimas pretendem recorrer à Corte Interamericana para pedir a anulação do indulto. “Não é possível indultar esses crimes contra a humanidade”, afirmou Carlos Rivera, advogado das vítimas.
Fujimori continua a ser popular apesar dos abusos cometidos enquanto esteve no poder. Muitos atribuem a ele a derrota dos guerrilheiros do Sendero Luminoso e do MRTA e estabilização da economia após a crise da hiperinflação produzida sob o primeiro governo de Alan García (1985-1990).
De acordo com pesquisas recentes, 65% dos peruanos são favoráveis ao indulto.
Com 79 anos, ele passou a primeira noite em liberdade hospitalizado na UTI da clínica em que foi internado no sábado por uma arritmia cardíaca e queda de pressão.
Processo de impeachment
Três dias antes de perdoar os crimes de Fujimori com base no relatório de uma junta médica, Kuckynski se livrou de perder o cargo ao receber apoio de uma parte dos congressistas ligados ao fujimorismo na votação que pedia seu impeachment. O pedido foi baseado na denúncia de que ele teria mentido ao ocultar serviços de assessoria prestados à empreiteira brasileira Odebrecht.
O fracasso na tentativa de destituir Kuczynski na quinta-feira passada evidenciou as divergências entre Keiko e Kenji Fujimori, filhos e herdeiros políticos do ex-presidente Fujimori.
Kenji Fujimori desobedeceu a ordem do partido Força Popular, liderado por sua irmã, Keiko, e não votou pelo impeachment, optando pela abstenção. Ele foi acompanhado por outros nove congressistas, o que levou à vitória do presidente. “Kenji é apoiado por seu pai e tem agradecimento a Kuczynski, enquanto Keiko segue furiosa por sua derrota eleitoral. Ele faz uma política de aliança com o governo estimulada por seu pai”, afirmou à AFP o analista Fernando Rospigliosi.
Parte dos peruanos viram a abstenção de Kenji como uma moeda de troca pelo indulto concedido ao seu pais três dias mais tarde.
Esta percepção motivou protestos contra o indulto a Fujimori. A primeira grande manifestação reuniu pelo menos 5.000 pessoas na terça-feira em Lima, que criticaram a decisão e exigiram a renúncia de Kuczynski.
A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar o protesto e evitar que os manifestantes caminhassem até a clínica em que Fujimori está internado.
Justificativas
Kuczynski fez um discurso na segunda-feira à noite que foi transmitido por rádio e televisão, no qual tentou justificar o indulto alegando que o concedeu para tentar reconciliar o país antes da morte do ex-presidente.
“Estou convencido que aqueles que são democratas não devem permitir que Alberto Fujimori morra na prisão, porque justiça não é vingança”, disse o presidente. “Foi a decisão mais difícil da minha vida”, completou.
O indulto estremeceu o governo. A bancada parlamentar de Kuczynski, 17 deputados de um total de 130, registrou as renúncias de três legisladores até o momento.
(com AFP)