Enrique Rubio.
Cairo, 24 nov (EFE).- A Junta Militar do Egito dispersou nesta quinta-feira as dúvidas que ainda persistiam sobre a realização das eleições legislativas a partir da próxima segunda-feira e garantiu que as Forças Armadas apoiarão a Polícia para garantir a segurança no pleito.
Diante de dezenas de meios de comunicação egípcios e internacionais, o general Mamduh Shahin acabou com as dúvidas suscitadas pelos protestos e os distúrbios que agitam o país desde o sábado passado. ‘Não atrasaremos as eleições, é nossa última palavra’, destacou.
O anúncio não contribuiu para acabar com a grande concentração na Praça Tahrir, onde foi recebido com ceticismo, mas pela primeira vez nesta semana a violência cessou graças a uma frágil trégua.
Os jovens de Tahrir acreditam que amanhã, em uma grande manifestação, reuniram centenas de milhares de egípcios para aumentar a pressão sobre os generais e os forcem a abandonar o poder imediatamente. Algo que, pelo teor das declarações de seus porta-vozes, não parece fácil.
O general Mohammed Mojtar al Mula disse na mesma entrevista coletiva que só deixarão o comando se o povo decidir em um plebiscito popular, mas essa oferta foi tão vaga quanto a do marechal Hussein Tantawi, chefe da Junta Militar, em seu discurso na terça-feira passada.
Perante a insistência dos jornalistas, os generais alegaram que já tinham recebido o respaldo do povo egípcio no plebiscito para emendar a Constituição no último dia 19 de março e se negaram a fixar data ou condições para um hipotético plebiscito sobre sua permanência no poder.
Apesar de alguns partidos e muitos dos manifestantes em Tahrir pedirem o adiamento das eleições legislativas por motivos de segurança, o Exército deixou claro que contribuirá para seu desenvolvimento ao lado da Polícia.
Por isso mesmo, as Forças Armadas combinam a defesa da atuação policial com tímidas retratações por comentários anteriores.
O general Al Mula admitiu hoje que os agentes antidistúrbios cometeram ‘muitas violações’ durante os primeiros dias da crise, principalmente ao entrar em Tahrir para sufocar o protesto, mas ao mesmo tempo negou que tenham disparado balas de verdade, como havia sido reconhecido inclusive pelo ministro da Saúde.
Ontem à noite, outro general, Mohammed al Assar, apresentou as desculpas ao povo egípcio, em nome da Junta Militar, pelas vítimas nos violentos enfrentamentos, que já causaram pelo menos 38 mortos.
‘Apresento as desculpas do Conselho Supremo das Forças Armadas pelas pessoas que morreram e pelos jovens que ficaram feridos’, disse Al Assar à televisão estatal.
Estas explicações não conseguiram convencer muitos na praça Tahrir, como a jovem Dina Farouk, que não escondia hoje seu temor pelo aumento da violência durante o pleito.
‘Estaria de acordo com as eleições na segunda-feira se fosse seguro, mas não acho que haja segurança suficiente. Acho que se repetirão a violência e os abusos de poder’, lamentou a jovem.
Pela primeira vez desde sábado, uma delicada trégua supervisionada pelo Exército, que se colocou como força de interposição entre os manifestantes e o Ministério do Interior, permitiu aos jovens retomar o ambiente quase festivo que caracterizou a praça nos protestos que derrubaram Hosni Mubarak em fevereiro.
Um dos médicos dos improvisados hospitais de campanha, Abdel Azif Taha, disse à Agência Efe que hoje atendeu poucas pessoas porque não houve feridos.
‘Os únicos feridos são pessoas que desmaiam porque estão há vários dias na praça e estão extenuados’, explicou Taha. EFE