Amazônia irá desaparecer se não houver negociação com Bolsonaro, diz Kerry
Em depoimento à Câmara dos EUA, enviado especial de Biden demonstrou ceticismo sobre promessas ambientais do governo brasileiro
Em depoimento à Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 12, o ex-secretário de Estado americano John Kerry, maior autoridade do governo de Joe Biden para assuntos ligados ao clima, defendeu a necessidade de negociar acordos climáticos com o governo brasileiro, sob o risco de que a Amazônia “desapareça”.
Durante sua fala, Kerry voltou a demonstrar ceticismo sobre promessas ambientais do governo de Jair Bolsonaro, dizendo que “infelizmente, o regime Bolsonaro reverteu parte da fiscalização ambiental”. Ainda assim, defendeu negociações com Brasília como melhor alternativa na busca pela proteção ambiental, dizendo ser preciso “descobrir o que está acontecendo”.
“Estamos dispostos a conversar com eles (governo Bolsonaro), mas não estamos fazendo isso com uma venda nos olhos, e sim com uma compreensão de onde estivemos. Mas se não falarmos com eles, pode ter certeza de que aquela floresta vai desaparecer”, disse o enviado especial, em referência à Amazônia.
Durante a sessão, o deputado democrata Albio Sires, de Nova Jersey, destacou que, durante participação na cúpula climática organizada pelo governo americano em abril, Bolsonaro se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 e as emissões de gases causadores do efeito estufa até 2050.
“Um dia depois da promessa de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, o presidente Bolsonaro aprovou um corte de 24% no orçamento ambiental para 2021″, disse, comparando valores do atual orçamento com os destinados à pasta em 2021, com corte anunciado equivalente a R$240 milhões. “Em que consiste a política americana para a Amazônia brasileira e como podemos abordar a consistente falta de recursos em regulações ambientais do atual governo do Brasil?”, perguntou.
Em resposta, Kerry afirmou que “eles dizem que estão comprometidos agora em aumentar o orçamento e que irão colocar de pé uma nova estrutura”. A estrutura citada serviria para possibilitar a prestação de contas pelo governo brasileiro, segundo o diplomata.
Ele se encontrou recentemente com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e com o então chanceler brasileiro Ernesto Araújo. Segundo o ex-secretário de Estado, os diálogos foram “positivos”, embora ainda iniciais.
O enviado especial está sob pressão de democratas e da sociedade civil que pressionam contra um possível acordo com o governo brasileiro. Em abril, um porta-voz do Departamento de Estado americano afirmou que o governo está ciente e prestando atenção em documentos sobre o tema.
Um dos documentos, uma carta assinada por um grupo de 15 senadores proeminentes do Partido Democrata americano, pede que o presidente Joe Biden não conceda auxílio monetário ao Brasil por conta do histórico do presidente Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Entre os senadores estão os ex-pré-candidatos à Presidência Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
Os congressistas demandaram que qualquer apoio à preservação da Amazônia estivesse condicionado a um progresso significativo na redução do desmatamento. Além disso, alertam que o fracasso em atingir as metas de redução afetará o apoio à candidatura do Brasil à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um dos maiores objetivos de Bolsonaro.
Além do documento feito pelos senadores, uma outra carta aberta foi enviada para que o presidente Joe Biden rejeite qualquer acordo ambiental. Celebridades internacionais como Leonardo DiCaprio, Kate Perry, Jane Fonda e Joaquin Phoenix assinam o documento junto a brasileiras como Gilberto Gil e Sonia Braga.