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África do Sul: instabilidade política freia avanços

A democracia promoveu a liberdade política, mas não a liberdade econômica dos cidadãos

Por Vanessa da Rocha, da Cidade do Cabo
26 jun 2017, 14h45

O retrato atual da África do Sul, que tem lutado para superar as feridas causadas por décadas de segregação racial e isolamento, mostra que ainda falta muito para alcançar os objetivos que Nelson Mandela idealizou. Em seus 23 anos de democracia, o país acumula erros e acertos, mas a maior parte da população ainda vive em condições precárias.

Por mais que o governo esteja focado na redistribuição de riqueza, o poder econômico continua nas mãos dos brancos.  O coeficiente de Gini, que é a bússola internacional para medir o nível de desigualdade das nações, apontou que a desproporção atual é maior do que no tempo do apartheid. Numa escala de zero a 1, em que quanto mais próximo de zero, mais igualitária é a nação, a África do Sul marcou 0,63 em 2015 e, 0,59 em 1993, ano que antecedeu a democratização do país.

A instabilidade política afasta os investidores, gera greves e atrasos. No epicentro da crise está o presidente Jacob Zuma que esteve 10 anos preso com Mandela na luta contra a segregação, mas que está longe de ser um pacificador. Ele é detestado por boa parte da população, que protesta diariamente por melhoria na prestação de serviços públicos, ele se mantém no poder por estar na cúpula do ANC, partido que tem maioria no Congresso.

Investigado por corrupção e favorecimento dos Guptas, família de milionários do país, Zuma é um presidente que parece agir pelo retrocesso da nação. Recentemente ele decidiu substituir dez ministros, incluindo o das finanças, o que causou queda na moeda sul-africana e rebaixamento da nota do país.

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A instabilidade do governo é tão grande que os próprios membros do partido pediram que ele renunciasse, mas não adianta, apegado ao poder, quer continuar até 2019 e ainda cogita uma futura candidatura a prefeito da cidade natal dele.

O crescimento da economia sul-africana atingiu um ritmo de 3% no período democrático. É uma média relativamente confortável em comparação com as nações em desenvolvimento, mas é exíguo quando o país se coloca em contraste com o seu próprio potencial. Apesar de mais de 50% da população viver na pobreza absoluta, o território sul-africano é um dos maiores produtores de ouro e diamante.

Prova da riqueza é que no período de segregação racial, o país era quase isolado por causa dos embargos econômicos contrários às atrocidades do regime e mesmo assim a economia crescia na média de 1,2%, margem similar à projeção de crescimento para 2017 que está em 1,1%, conforme o Banco Mundial.

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A atual política sul-africana tem abdicado do crescimento em nome da redistribuição de renda. O resultado é que o bolo está sendo cada vez mais fatiado e não cresce de tamanho. “A resposta não é tirar daqueles que têm e dar aos que não tem e sim capacitar aqueles que precisam ser capazes de criar sua própria riqueza”, diz o empresário sul-africano André Diederichs,  autor do livro Lucro versus Pessoas e presidente da Associação de Negócios Familiares da África do Sul .“A economia deve crescer muito mais rapidamente para criar oportunidades de trabalho para todos os sul-africanos. O país nunca será um bom lugar para qualquer um de nós até que seja um bom lugar para todos nós (negros e brancos)”, completa.

A democracia promoveu a liberdade política, mas não a liberdade econômica dos cidadãos. A geração que nasceu livre, depois de 1994, enfrenta a angústia de não conseguir um emprego e condições dignas de vida. Uma minoria negra teve prosperidade e outra minoria branca permanece com o poder, enquanto a grande parte dos sul-africanos segue desfrutando do legado maldito do regime de segregação.

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