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Restaurante afegão exclusivo para mulheres combate preconceitos

'Nossa sociedade ainda não atingiu a maturidade para aceitar novas práticas e costumes normais no mundo de hoje', diz a fundadora do restaurante

Por Da redação
9 out 2016, 12h56

Criado como um projeto para vítimas de maus-tratos, o primeiro restaurante exclusivamente para mulheres no Afeganistão é um espaço pensado para ajudar àquelas que sofrem abuso físico e psicológico de uma sociedade machista e querem desfrutar uma comida sem sofrer com estigmas ou com o assédio.

Um lugar para comer sem que dezenas de olhos estejam encarando, onde uma mulher possa beber água sem que o marido precise passar o copo por baixo da burca ou onde possa conhecer a vida da mulher afegã através dos rostos de outra época, assim é o restaurante Bost Family.

Concebido como um projeto para mulheres maltratadas, após um trabalho de quase três anos da ONG Centro para o Desenvolvimento do Talento das Mulheres Afegãs (AWSDC), o estabelecimento é há cerca de um mês um lugar de encontro para mulheres e famílias que querem desfrutar de uma opção nem sempre fácil em Cabul.

Cerca de 25 jovens, em sua maioria vítimas de violência doméstica, trabalham como garçonetes e cozinheiras no primeiro restaurante construído, decorado e dirigido por mulheres na capital do Afeganistão. Em uma parede laranja, retratos das mulheres dos reis afegãos; sobre as mesas, comida tradicional e de outros lugares com a qualidade de um restaurante de primeiro nível, onde procuram alimentar, além do corpo, o espírito.

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“Nossa sociedade ainda não atingiu a maturidade para aceitar novas práticas e costumes normais no mundo de hoje”, afirmou Humaira Kohzad, fundadora do restaurante e consultora. Humaira quer que o local seja um “lugar seguro para que as mulheres possam se reunir, sentir-se livres, longe do assédio nas ruas e onde possam conversar enquanto comem”.

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“Se um homem vai a um restaurante com sua namorada em Cabul, todos os homens olham para a menina. Como vão desfrutar a comida?”, questionou a ativista, ressaltando que esta é uma das razões pela qual as famílias não frequentem este tipo de estabelecimento. A única maneira que eles encontram, segundo ela, é pagando um bom dinheiro para viajar ao exterior e poder desfrutar lá de um espaço público. “Queremos dar-lhes isso a menor custo”, afirmou, mencionando um menu onde o prato mais caro custa aproximadamente 5 dólares (cerca de 18 reais).

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Melhora da autoestima — Os benefícios do restaurante também chegam aos bolsos das funcionárias, sobreviventes da violência e das dificuldades que passaram, algumas delas sem família e todas na luta para continuar sua vida após o trauma. Aryan tem 23 anos e é mãe de três crianças de entre um e quatro anos. Foi vítima de violência em seu lar e se separou do marido há um ano.

Buscou refúgio em um abrigo da ONG e hoje é uma garçonete no restaurante, mas, apesar dos 15 anos de progressos para a mulher, após a queda do regime talibã em 2001, a conservadora sociedade afegã segue considerando um tabu que as mulheres trabalhem fora ou tenham seu próprio negócio.

“Sofri muito, minha família não me deixava trabalhar, venho aqui na busca de refúgio, meu único objetivo é agora permanecer firme e ter meu próprio negócio para alimentar meus três filhos”, afirmou Aryan, sem esconder a expressão de tristeza. “Como membros da sociedade, quero cuidar dos meus filhos, quero ter outra vez minha própria vida e minha própria identidade”, completou.

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(Com agência EFE)

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