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Governo federal vê motivação eleitoreira na ação de Roraima

Para fontes de Brasília, a governadora Suely Campos insiste em fechar a fronteira para os venezuelanos como meio de garantir sua reeleição

Por Denise Chrispim Marin
Atualizado em 21 ago 2018, 23h13 - Publicado em 20 ago 2018, 19h34

O governo federal entende a resistência da governadora de Roraima, Suely Campos (PP), à acolhida aos imigrantes venezuelanos como uma rebelião motivada por razões eleitoreiras. Suely concorre à reeleição em outubro e está em situação desconfortável nas pesquisas.

Hoje, dia 20, ao pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão temporária da imigração venezuelana, a governadora reiterou sua defesa a uma posição apoiada por boa parte dos eleitores. Não foi sua primeira iniciativa de tentar fechar a fronteira, em Pacaraima, aos vizinhos.

No início de agosto, a governadora baixou um decreto para tornar mais estrita a fiscalização dos imigrantes venezuelanos e restringir o acesso deles aos serviços públicos básicos. Na mesma linha, a 1ª Vara Federal de Roraima determinou a suspensão da entrada de venezuelanos até que Pacaraima pudesse criar condições humanitárias para uma acolhida ordenada.

A fronteira ficou fechada por quinze horas. Ambas as medidas caíram, por reação do governo federal, nas instâncias jurídicas superiores.

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Por mais difíceis que sejam as condições para Roraima acolher os cerca de 50.000 venezuelanos já presentes em seu território, o governo estadual está sujeito aos compromissos assumidos pelo Estado brasileiro em âmbito internacional. Entre eles, a convenção relativa ao Estatuto do Refugiados, de 1951, e o Tratado de Assunção, de 1991.

Em vez de negociar com Brasília, porém, Suely preferiu endurecer sua agenda contra a imigração, afirmaram duas fontes do governo federal que acompanham a questão. Na base da opção da governadora, segundo os especialistas, estão a sua aprovação em situação precária e sua ambição de ser reeleita.

Mulher do ex-governador Neudo Campos, ela tem sua gestão considerada boa/ótima por apenas 9% dos eleitores e reprovada por 63%, segundo pesquisa Ibope, com margem de erro de 3 pontos porcentuais para cima e para baixo.

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A mesma pesquisa, realizada entre os dias 13 e 16 de agosto com 812 pessoas, mostra a governadora em terceiro lugar na disputa eleitoral, com 14% das intenções de votos.

Seu rival do PSDB, José de Anchieta Júnior, governador do estado entre 2007 e 2014, lidera com 36% das intenções. O empresário Antônio Denarium, do PSL, tem 20%. Atrás de Suely estão o ex-senador Telmário Mota, do PTB, com 7%, e o professor de história Fábio Almeida, do PSOL, com 3%.

Segundo ambas as fontes, a situação em Roraima melhorou consideravelmente desde o início da onda da imigração, com a instalação de estruturas para o acolhimento e abrigo dos refugiados. O governo federal também estaria acelerando o processo de interiorização dos venezuelanos, de forma a desconcentrar essa população em Roraima, a principal porta de entrada.

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Hoje, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, afirmou ser “impensável” o fechamento da fronteira do Brasil com a Venezuela. Etchegoyen e autoridades de sete ministérios embarcaram nesta tarde para Boa Vista para avaliar o terreno e sugerir ao Palácio do Planalto as medidas a serem tomadas.

Além disso, houve reforço de 120 soldados da Força Nacional de Segurança Pública em Pacaraima e o envio de 36 voluntários da área de saúde.

Antes de embarcar, o general havia pedido a responsabilização dos que promoveram violência em Pacaraima no último sábado. Quatro venezuelanos teriam invadido a casa de um comerciante para roubar e o teriam espancado. Um grupo de brasileiros reagiu atendo fogo nos abrigos dos venezuelanos na cidade. As autoridades policiais de Roraima não se manifestaram sobre a identificação e prisão dos envolvidos nos dois ataques.

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Outro lado

Em nota enviada a VEJA, o governo de Roraima afirmou que “repudia as ilações apresentadas por fontes do governo federal” e que “Brasília ainda não entendeu o tamanho da crise”. Leia abaixo o comunicado.

“Desde 2015 o Governo de Roraima atua de forma isolada no acolhimento e atendimento aos imigrantes venezuelanos, com a manutenção de abrigos, fornecimento de alimentação e garantia de acesso a todos os serviços públicos, principalmente a assistência médica.

O aumento exponencial no fluxo de imigrantes foi relatado em dezenas de ofícios, relatórios e planos de ação enviados ao Palácio do Planalto e aos ministérios.

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A governadora Suely Campos participou de audiências com o presidente Michel Temer, em Brasília, e o recebeu por duas vezes em Roraima, sendo a primeira no dia 12 de fevereiro, quando explicitou de forma clara e objetiva a necessidade de auxílio imediato do governo federal para mitigar os efeitos da crise.

Na Ação Cível Originária 3121 ajuizada no Supremo Tribunal Federal (STF), o Governo de Roraima pediu – e a ministra Rosa Weber acatou – a realização de audiência de conciliação para efetivar o diálogo que não avançou. A Advocacia Geral da União sequer apresentou uma proposta para negociação.

O Governo de Roraima adotou todas as medidas a seu alcance para mitigar os efeitos, incluindo o pedido de expedição de decreto da Garantia da Lei e da Ordem para o município de Pacaraima, em agosto de 2017, um ano antes dos conflitos registrados naquele município.

Na ACO 3121, é solicitado que a União faça o efetivo controle policial, de imigração e sanitário da fronteira; que compense os gastos já efetuados pelo Estado para atender os imigrantes, no valor de R$ 184 milhões; e que aporte recursos extras para financiar os impactos na saúde, na educação e na segurança pública.

É inevitável que um tema de tamanha gravidade vire questão importante no debate eleitoral, tanto no estado, quanto no país. Mas em Roraima há consenso de que Brasília ainda não entendeu o tamanho da crise e, para entender, precisa falar menos e ouvir mais o que nós, roraimenses, temos a dizer.”

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