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Abuso sexual, padres e câmeras escondidas

Documentário dos irmãos poloneses Tomasz e Marek Sekielski escandaliza ao mostrar encontros entre sacerdotes pedófilos e suas vítimas

Por Katia Mello
Atualizado em 17 Maio 2019, 20h01 - Publicado em 17 Maio 2019, 19h59

O cheiro de leite causa náuseas à polonesa Anna Misiewicz, de 39 anos. A bebida remete à memória olfaltiva de quando Anna, aos sete anos de idade, começou a ser abusada por um padre da paróquia de Kielce, na Polônia. O padre bebia leite antes de se masturbar, para depois beijá-la.

O relato é feito pela própria Anna no documentário polonês Tylko nie mów nikomu (Tell no one, em inglês, ou Só não conte a ninguém, em tradução livre), lançado no sábado 11 apenas no YouTube. A versão em inglês em menos de uma semana já alcançou cerca de 20 milhões de visualizações no mundo inteiro, ocupando o primeiro lugar nos trends do canal da internet não apenas na Polônia, mas também na Noruega, na  Irlanda e na Islândia.

O filme, dirigido pelo cineasta polonês Tomasz Sekielski e produzido por seu irmão Marek Sekielski, coloca frente a frente os padres pedófilos e suas vítimas. Em muitos momentos, o diretor usa câmeras escondidas para registrar os dolorosos e constrangedores encontros, como o que aconteceu entre Anna e seu algoz.

Sem saber que estava sendo filmado, o padre, já bem idoso, coloca as mãos no rosto e diz estar arrependido. Depois, chega a lhe oferecer dinheiro para tentar recompensá-la pelos danos psicológicos. Apesar de perdoá-lo, ela responde: “Padre, você se masturbou usando minhas mãos. Nenhum dinheiro pode pagar por isso. Está aqui dentro”.

Padre da paróquia polonesa de Kielce ao ser defrontado por uma de suas vítimas de abuso sexual: arrependimento e oferta de compensação. (Reprodução/Youtube)

No berço do papa João Paulo II, onde a 90% da população é católica, a palavra padre é quase “santa” na Polônia, principalmente para os moradores de cidades pequenas, como Kielce. Por isso, o documentário causou tamanho estardalhaço. Realizado por meio de crowdfunding (financiamento coletivo), o filme agora é assistido coletivamente em locais públicos.

Quando procurada pelos irmãos Sekielski, a cúpula da Igreja Católica polonesa afirmou que o documentário era parcial – resposta incluída no final do filme. Porém, com a fama do filme, a arquidiocese de Gniezno sentiu-se na obrigação de dar outra resposta. O respeitado arcebispo Wojciech Polak se disse “emocionado”, desculpou-se e ainda parabenizou o diretor por sua “coragem”.

“O grande sofrimento das vítimas desperta sentimentos de dor e de vergonha. Agradeço a todos que têm a coragem de relatar sua dor. Peço perdão pela ferida causada por clérigos”, escreveu Polak em um comunicado.

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Mas nem todos os líderes da igreja polonesa reagiram assim. O arcebispo ultraconservador de Gdánsk, Sławoj Leszek Głódź, declarou que “tinha mais o que fazer do que assistir a algo sem valor”.

O episódio na Polônia é parte da guerra santa que acontece a céu a aberto entre progressistas e conservadores do Vaticano em relação às medidas que o Papa Francisco, em sua cruzada contra a pedofilia, vem tomando.

No dia 9 de maio, o pontífice anunciou uma nova norma que torna obrigatório aos membros do clero denunciar suspeitas de abusos sexuais ou de poder ou de acobertamento de casos ocorridos dentro da Igreja Católica.

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