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A passagem para a Índia de Obama

Visita deve ser considerada como um claro sinal do desejo de Obama, não menor que o de Modi, de reforçar as relações EUA-Índia

Por Martin Feldstein*
25 jan 2015, 08h08

A forte política externa do primeiro-ministro indiano Narendra Modi nos sete meses desde que assumiu o cargo tem surpreendido os observadores. Depois de convidar os líderes do Paquistão e outros países vizinhos para sua posse, embarcou em viagens para a China, Austrália e Estados Unidos. Mais recentemente, ele recebeu o presidente russo Vladimir Putin em Nova Délhi e assinou vários acordos comerciais e pedidos de importação de reatores nucleares russos. A Índia, Modi diz a seus concidadãos, é forte e bem vista no mundo todo.

O presidente americano Barack Obama vai viajar para Nova Délhi como convidado especial de Modi para os eventos comemorativos do Dia da República, feriado nacional da Índia – apenas quatro meses após os dois líderes terem mantido importantes conversações em Washington. A visita, portanto, deve ser considerada como um claro sinal do desejo de Obama, não menor que o de Modi, de reforçar as relações EUA-Índia.

Então o que será que vai estar na cabeça de Obama quando ele encontrar seu colega indiano novamente, e o que ele acha que pode ser feito para solidificar laços bilaterais? Três questões se destacam – começando com o comércio, que é tão importante politicamente quanto economicamente.

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Obama espera que a Parceria Transpacífica seja concluída em 2015 e ratificada pelo Senado dos EUA. A TPP não será tão poderosa como acordo de livre comércio inicialmente previsto, devido a um período muito longo de integração progressiva e exclusões. Mas vai reunir os Estados Unidos e outros onze países do Pacífico Sul (incluindo o Japão, mas excluindo a China) em um novo bloco econômico. Obama deve estar ansioso para enfatizar que a exclusão da Índia da TPP é uma questão apenas de geografia – a Índia não faz fronteira com o Pacífico – e que os EUA querem aumentar o comércio bilateral e investimento direto por empresas americanas.

A segunda questão é terrorismo. As autoridades americanas estão preocupadas que cidadãos americanos que estão lutando contra o Estado Islâmico e a Al Qaeda no Oriente Médio voltem para casa para cometer atos terroristas. A Índia experimentou terríveis atos de terrorismo no seu próprio território. A cooperação contínua entre as agências de inteligência americanas e indianas pode ajudar os dois países a prevenir incidentes futuros.

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Terrorismo não inclui só violência física, mas também ataques no ciberespaço. China, Rússia e Irã têm sido fontes de frequentes ataques cibernéticos a bancos, empresas e agências governamentais; a Coreia do Norte, os EUA alegam, estava por trás da recente violação aos computadores da Sony Pictures. Embora Obama tenha apresentado provas ao presidente chinês, Xi Jinping, de roubo de tecnologia por hackers com base na China, as autoridades chinesas continuam a negar. Mais recentemente, Rússia e outros plantaram malware nos sistemas de controle da rede de energia dos Estados Unidos e outras redes suscetíveis.

Olhando para o futuro, os EUA estão preocupados com ciberataques de atores que não são Estados, como o Estado Islâmico e a Al Qaeda. Embora os membros desses grupos talvez não tenham a sofisticação para cometer tais atos, eles podem tentar contratar pessoas com as habilidades necessárias. A Índia tem um grande número de talentosos engenheiros de computação, incluindo alguns que podem ser solidários à causa islâmica. Os EUA e a Índia poderiam se beneficiar da cooperação para prevenir e interromper tais esforços de recrutamento.

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A terceira questão na cabeça de Obama está ligada ao fato de ser um objetivo declarado da China dominar a Ásia, excluindo os EUA da região. A ambição hegemônica chinesa é contrária aos interesses estratégicos da Índia também – razão suficiente para a ânsia de Modi em reforçar as relações de seu país com seus vizinhos, bem como com os Estados Unidos. Obama já deixou claro que os EUA entendem que a vontade de Modi em cooperar com a Rússia, apesar das sanções ocidentais impostas ao país, resulta do desejo da Índia de desencorajar uma aliança sino-russa contra ela.

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Modi obteve uma vitória esmagadora na eleição que refletiu a decepção do público indiano com as políticas e o desempenho do governo anterior, liderado pelo Congresso Nacional indiano. Embora a Índia tenha experimentado um verdadeiro crescimento anual do PIB de mais de 8% por vários anos, o crescimento perdeu força a partir de 2010, para menos de 5% em 2013, devido a uma mudança populista em políticas ditadas pela líder do partido no Congresso, Sonia Gandhi.

Por outro lado, o governo de Modi pretende seguir uma agenda pró-crescimento que inclui reduzir atrasos burocráticos, aumentar o investimento em infraestrutura, estimulando a atividade produtiva e mudar para um sistema fiscal unificado mais simples. A agenda de Modi evidentemente também inclui uma política externa ativa – como deveria ser.

Cultivar a Índia como um parceiro de confiança na economia global e em assuntos internacionais é alta prioridade para os EUA também. A visita de Obama à Índia pode ajudar a perceber o potencial da relação.

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* Martin Feldstein é professor de economia na Universidade de Harvard, ex-presidente do conselho de consultores econômicos do presidente Ronald Reagan e do National Bureau of Economic Research (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica) de 1982 a 1984.

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate 2014

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